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Treino mental dá força aos favoritos em Wimbledon

Rafael Nadal, Roger Federer e Novak Djokovic aliam à técnica e à forma física um grande poder de superar obstáculos

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Rafael Nadal, Roger Federer e Novak Djokovic. Além de títulos, conquistas e feitos históricos, os três tenistas têm em comum uma poderosa força mental dentro de quadra. Uma capacidade psicológica diferenciada que permite a eles superar lesões e problemas do mais variados para brilhar no saibro, nas quadras duras e, a partir de hoje, também na grama de Wimbledon e suas duras batalhas de até cinco sets. Parte do segredo deles é o chamado treino mental, que se tornou essencial em equipes, clubes e até entidades, como o Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Por caminhos diferentes, os três principais favoritos ao título em Londres investiram tempo e energia em formas de cultivar a força mental. Atual número 1 do mundo, Djokovic é quem mais se dedicou a um trabalho mais formal. Seu treino se baseia na meditação do tipo mindfulness, que poderia ser traduzido como “atenção plena”.

Rafael Nadal, tesnita espanhol Foto: Andrew Couldridge/Reuters

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“É uma forma de meditação em que, em vez de buscar o silêncio e encontrar a ‘paz interior’, você permite e aceita o próprio fluxo de pensamentos, objetivamente, sem julgá-los, enquanto se mantém com plena consciência daquele momento naquele tempo da realidade”, explica o tenista, em seu livro Sirva para Vencer. O sérvio, que atribui sua ascensão no circuito também a este treino mental, diz praticar a meditação por ao menos 15 minutos por dia. Federer nunca expôs publicamente sua técnica para manter a concentração. Mas já indicou que segue padrão semelhante ao de Djokovic, na tentativa de conviver com os pensamentos negativos que lhe ocorrem ao longo de uma partida. “Não importa quão positiva seja uma pessoa, a negatividade estará em torno de você em algum momento e você começa a pensar: estou perdendo por 6/4, fiz tudo errado, deveria ter feito isso e aquilo”, disse o suíço após dura vitória em Roterdã em 2018. Foi no torneio holandês que ele recuperou o posto de número 1.

Nadal aposta numa atitude mental que parte “de fora para dentro”, seguindo orientação do seu tio e então técnico Toni. Para o hoje ex-treinador, o tenista deve se apresentar com uma “cara boa” para o jogo. A técnica influenciaria e condicionaria a confiança do atleta por exigir um rosto sem expressão, sem a irritação por um erro no ponto anterior ou a empolgação pelo acerto. A ideia é manter o pensamento somente no presente.

As técnicas usadas pelos grandes tenistas vão ao encontro do que pregam os especialistas. Para eles, a força mental pode até compensar limitações técnicas. É o que diz Marcelo Abuchacra, psicólogo especializado em tênis, a respeito do espanhol campeão de Roland Garros pela incrível 12.ª vez, este ano. 

“A força mental dele sobressai em relação aos demais tenistas. Tecnicamente, ele pode ser inferior ao Federer ou ao Dominic Thiem, que foram derrotados por ele em Paris e são mais completos. Mas o Nadal compensa isso com suas habilidades psicológicas”, explica Abuchacra, que atua com tenistas e jogadores de futebol tanto no consultório quanto nos treinos. “Um atleta não precisa treinar sua técnica e o físico? Então tem de treinar a parte mental também. E, da mesma forma, precisa de um treinador para isso. É preciso conhecimento científico para ir a fundo.”

Uma das três preparadoras mentais do COB, a psicóloga Alessandra Dutra reforça que o trabalho mental deve fazer parte da rotina. “É mais ou menos como ir para a academia. Você reserva uma hora por dia para treinar, assim como treina outros aspectos, como o físico e o técnico.” A repetição se justifica: “A performance depende muito do autoconhecimento. Quanto mais se conhece, mais o atleta consegue entender as suas forças. E isso lhe dá ferramentas para lidar com as adversidades”.

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Além da meditação, os especialistas ensinam outras técnicas, como a respiração diafragmática e a dessensibilização, que consiste em deslocar o foco do atleta, principalmente quando está com lesão. Há ainda exercícios neurocognitivos, de visualização, para a chamada “acomodação emocional”. O objetivo é fazer com que a performance esportiva não prejudique a saúde mental do atleta.

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