O futebol é cercado de muitas máximas - e de umas tantas mínimas, como diria o Barão de Itararé. Esses conceitos imutáveis, definitivos, indiscutíveis, são citados a torto e a direito pelos comentaristas esportivos, especialmente quando servem para dar credibilidade ao ponto que eles estejam defendendo no momento. Não poso aqui de crítico com ares de superioridade: eu mesmo já usei e abusei desses chavões ao longo da minha trajetória de quase dez anos no mundo da crônica. Só que a verdade é que não existem verdades absolutas no futebol. Time que não faz, às vezes leva, mas outras vezes acaba não levando, e até fazendo. Em time que está ganhando não se mexe, mas, eventualmente, se mexe e ele melhora. Pela porteira que passa um boi, às vezes passa uma boiada, mas muitas vezes não passa mais nada, nem um bezerrinho. Os torcedores gostam dessas frases de efeito e embarcam no jogo, repercutindo os chavões, que se incorporam à cultura popular. Nos últimos tempos, um dos conceitos mais difundidos diz respeito ao tal do "time copeiro". "O Grêmio é um time copeiro e não perde a Copa do Brasil nem se roncar trovoada sete vezes". "O São Paulo é copeiro e, na Libertadores, ninguém segura os caras". "Os times argentinos são copeiros". "Os times gaúchos são copeiros". E tome chavão! Olha, copeiro, copeiro mesmo, o único que eu conheço é o Seu Otacílio, que trabalha na casa de um amigo grã-fino. E ele não gosta de ser chamado de copeiro. Prefere mordomo. Antes que amigos gremistas se apressem em me apedrejar, acrescento que essa história de time copeiro, além de balela, é um baita desrespeito aos times que recebem a alcunha. Eu explico: o Grêmio ganhou quatro Copas do Brasil não por ser um time copeiro, mas porque, nessas quatro edições, jogou muita bola. Não ganhou por sorte, mística da camisa, macumba, vodu ou pajelança. Ganhou porque jogou mais do que os adversários, por mérito. Achar que um time ganha alguma coisa porque é copeiro cria duas situações: quando o time ganha, os jogadores não têm mérito algum, pois quem ganhou foi a camisa, a fama. E, se o time perde, como o Grêmio perdeu para o Santos, parece um fracasso absoluto - imagine só, um time copeiro perder uma copa, que vergonha! -, o que também não é verdade. Eu não acredito em time copeiro. Acredito em time bom de bola. Eu não acredito nessa coisa de ganhar na raça, sem deixar jogar. Acredito em marcar três golaços na etapa final. Não acredito em time de machos. E nem em time de garotos. Acredito em times inteligentes, velozes e eficazes. Quando conquistou suas quatro Copas, o Grêmio foi bom de bola. Nas últimas duas quartas-feiras, o Grêmio também foi bom de bola. Muito bom de bola. Mas teve pela frente um time extraordinário, com quatro jogadores extraordinários: Ganso, Robinho, Neymar e, sim, André, que já merece estar na lista. Um time extraordinário, no qual até os coadjuvantes - Wesley que o diga - crescem e se tornam, eventualmente, extraordinários. Da mesma maneira, o São Paulo não despachou o Cruzeiro porque é mais copeiro do que o time mineiro, mas porque, depois de um longo e tenebroso verão, voltou a jogar muito bem. Foram duas vitórias incontestáveis. Não vitórias da camisa ou da fama que precede o clube. Vitórias dos jogadores, que não deram chance ao rival. O São Paulo tem três Taças Libertadores da América na sua prateleira de troféus porque jogou muito, não porque é copeiro. Os argentinos são copeiros? Pois o Estudiantes, atual campeão da Taça Libertadores, deixou escapar a vaga na semifinal por causa de dois gols nos minutos finais das duas partidas contra o Inter. E La U de Chile? De copeira, não tem nada. Mas despachou o Flamengo, com toda a sua fama de time do "manto sagrado". E despachou por causa do jogo do Maracanã. Não, amigos. Futebol não se ganha com aura, com fama nem com frases de efeito. Se ganha jogando bola. E ainda bem que é assim. Caso contrário, não teria a menor graça.
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