‘Baguncei a categoria ao derrotar o cara que ninguém conseguia vencer’, diz Poatan, campeão do UFC

Em entrevista ao ‘Estadão’, único brasileiro dono de cinturão da modalidade, que venceu o alcoolismo, reflete ascensão meteórica aos 35 anos e rivalidade com desafiante Adesanya, que também conversou com a reportagem

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Foto do author Murillo César Alves
Atualização:

Há um ano, três brasileiros detinham o cinturão do UFC em alguma categoria: Charles do Bronxs, Glover Teixeira e Deiveson Figueiredo. Doze meses depois, entre os homens — já que Amanda Nunes segue soberana em seu próprio universo, com dois títulos simultâneos — resta apenas um: Alex Poatan, maior fenômeno recente do MMA e que defenderá seu cinturão dos médios neste sábado, em revanche contra Israel Adesanya.

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Desde que estreou no UFC, ainda em 2021, o paulista de 35 anos reconhece que teve uma ascensão meteórica na organização. Em entrevista ao Estadão, Poatan, que significa ‘mãos de pedra’, comenta e reflete sobre os últimos meses de sua carreira, que elevaram seu patamar dentro do esporte, às vésperas de seu quarto confronto com o nigeriano Israel Adesanya, com quem a reportagem do Estadão também conversou antes do combate pelo UFC 287, em Miami.

Antes de entrar no MMA, Poatan trilhou uma significativa carreira no kickboxing. Pelo Glory, principal organização da luta marcial, derrotou Adesanya em duas oportunidades. No UFC, impôs o único revés do nigeriano nos médios até hoje — nocaute, em novembro, em combate que garantiu o cinturão da categoria. Portanto, é favorito na luta.

Antes do possível último encontro entre ambos, Poatan continua mostrando a confiança que o trouxe até o patamar em que se encontra atualmente. “Sucessor” de Glover Teixeira, recentemente aposentado do UFC e de quem é amigo pessoal, o paulista considera que vive seu ápice no MMA. “Derrotei o cara que ninguém conseguia vencer (Adesanya). ‘Baguncei’ a categoria”, afirma.

Últimos meses desde o cinturão

Quatro lutas no UFC foram o suficiente para que Poatan passasse a ser observado com outros olhos pela organização. Desde a conquista do cinturão, ele recebe elogios de lutadores mundo afora, como os conterrâneos Charles do Bronxs e Glover. “É um processo natural. Quanto mais você vence, mais as pessoas te respeitam. Até adversários, que competem pelo mesmo título”, conta o lutador.

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Das quatro vitórias de Poatan no UFC, três foram por nocaute e uma por decisão dos juízes. A vitória mais impressionante foi diante de Adesanya, que seguia invicto nos médios e defendia o cinturão da categoria desde 2019. “Sou campeão. Bati no ‘cara’ que ninguém ganhava e motivei outros atletas dos médios a brigarem pelo título”, afirma Poatan.

“Vejo entrevistas do pessoal dizendo que baguncei com a categoria, mexi com tudo. Tenho certeza de que as pessoas se sentem melhor ao saber que um adversário tão forte como o Adesanya foi derrotado”, disse ao Estadão. Do ABC Paulista, onde nasceu, até Connecticut, EUA, onde vive atualmente, Poatan passou por uma série de desafios na vida: venceu o alcoolismo e encontrou no kickboxing e MMA uma forma de superar esses obstáculos.

Único brasileiro campeão

Sucinto, Poatan não demonstra preocupação por ser o único brasileiro campeão do UFC atualmente. “No vestiário, antes da luta, a gente comemora a vitória de um brasileiro, mas no octógono tento não trazer essa preocupação a mais ao combate”, comenta. Caso seja derrotado por Adesanya, apenas Amanda, no feminino, seguirá como campeã no UFC.

“Eu sempre tento usar como algo positivo a vitória dos brasileiros no UFC, mas isso (ser o único campeão) não coloca nenhuma pressão sobre a minha luta. Não é porque eles ganharam que vou vencer também”, afirma. Após a vitória sobre o nigeriano, em novembro, Poatan já havia afirmado durante a coletiva que aceitaria uma revanche. Rapidamente, o UFC marcou o combate.

Alex Poatan e Israel Adesanya fazem revanche pelo cinturão dos médios do UFC Foto: Troy Taormina/USA Today Sports e Divulgação/UFC

Ter um brasileiro campeão no UFC traz um impacto em todos os níveis da indústria da luta. Crianças e adultos que tentam se espelhar e seguir os caminhos de seus ídolos. Victor Schildt, diretor administrativo-financeiro da Recoma, empresa fornecedora de pisos esportivos para a Olimpíada Rio-2016, revela que o título de Poatan trouxe resultados positivos para o mercado, além do aspecto esportivo.

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“A conquista do título do peso-médio no UFC 281 por Alex Pereira trouxe grande visibilidade para o MMA brasileiro no ano passado. Sempre que temos um campeão no país, como foi com Anderson Silva, José Aldo e Vitor Belfort, a demanda por superfícies esportivas voltadas para esportes de combate também cresce”, conta. “Recebemos diversos pedidos por tatamis olímpicos para judô, taekwondo e caratê, mantas olímpicas para wrestling ou Luta greco-romana, assim como ringues de boxe e do próprio MMA.”

O quarto combate entre os lutadores traz um elemento a mais: pode ser a última chance de Adesanya, aos 33 anos, de conquistar o cinturão do UFC. “Se a gente for analisar, depois de mais uma derrota, para quem era o campeão, fica difícil ter um plano de carreira”, reflete o brasileiro. “Não faz sentido, para ele, continuar lutando e perdendo (para mim), tanto em uma visão profissional quanto pessoal.”

“Poatan” é um nome de origem indígena que o lutador adotou ao longo de sua carreira. Belocqua Wera, primeiro treinador do paulista no kickboxing, batizou seu aluno com o apelido, que significa “mãos de pedra” após descobrir sua ancestralidade indígena.

Adesanya quer defender seu legado

“A última luta (com Poatan) não foi disputada. Eu o dominei”. Ao Estadão, Adesanya segue com a postura que o colocou como um dos melhores e mais carismáticos lutadores da atualidade. Apesar da derrota, uma revanche em menos de cinco meses após perder o título é uma prova de que o nigeriano quer provar que o último resultado diante do brasileiro é um pequeno “erro” em seu legado e carreira.

Adesanya tem chance de reconquistar cinturão do UFC neste sábado. Foto: Troy Taormina/USA Today Sports

“Estou pronto para defender meu legado. Não preciso gostar dele (Poatan), muito menos que ele goste de mim. Falamos m... um ao outro, mas sempre mostramos respeito fora do octógono”, brinca o lutador. “Não espero que o Poatan mude seu estilo, mas estou preparado para o que ele mostrar.”

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Amor de Adesanya pelo Brasil

Em 2019, Adesanya deu a primeira grande demonstração de sua grandeza no MMA ao derrotar Anderson Silva, o Spider. A partir daquele dia, o nigeriano ganhou uma parcela de amor dos fãs brasileiros. No seu canal do YouTube, o lutador conta com legendas em português para os fãs. Ele também não esconde a vontade de, no futuro, lutar em solo brasileiro.

“Estou muito ciente da minha fama no Brasil. ‘Obrigado’ a todos os meus irmãos e fãs brasileiros e espero pousar no Brasil em breve. E depois dessa luta, vou dedicar uma das minhas camisetas aos meus fãs brasileiros porque, mesmo tendo lutado e perdido lá, eu ainda aproveito meu tempo no Brasil”, revela ao Estadão.

“Brasil, você vem de onde nós viemos: da África. Vejo muitas semelhanças entre a cultura do Brasil e a minha cultura, até mesmo a comida. Sempre aprecio a cultura do Brasil, o povo, as mulheres. Eu amo o Brasil”, brinca.

‘Último capítulo’ entre Adesanya e Poatan

Adesanya e Poatan é a rivalidade que mais cresceu no UFC nos últimos tempos. Poatan, ao Estadão, reconhece que cometeu alguns deslizes — apesar da vitória. “Eu sempre volto em meus combates para tentar aprender com meus erros. Contra o Adesanya, fiquei muito disperso ao final dos rounds, esperando o cronômetro esgotar, que poderia ter custado a vitória”, conta.

Em novembro, Poatan venceu o confronto por nocaute técnico, no último round. Desde então, Adesanya se preparou para essa revanche o quanto antes. Ele afirma ser possivelmente sua última chance de conquistar o cinturão. “Eu gosto (da pressão) porque coloca tudo em mim e é meio poético de certa forma. Uma vida: Jogue os dados. Esta é minha última chance e vou dar tudo o que tenho, em todos os sentidos da palavra.”

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Como Poatan e Adesanya se definem?

O Estadão questionou a cada um dos lutadores como eles se definem, dentro e fora do octógono, em uma palavra. Poatan, como sempre pregou ao longo de sua carreira, optou por “inteligente”. O brasileiro, ao longo das entrevistas, afirmou que está preparado para tudo o que Adesanya pode trazer como novidade. Ele, inclusive, espera que o nigeriano se arrisque mais no combate.

Assim como não quis revelar estratégias para o combate — Adesanya mantém um plano de esconder o que foi trabalhado na academia da imprensa —, ele se definiu como “imprevisível”. “Eu revi a última luta diversas vezes e estou preparado para o que vier”, afirma. Além das palavras, resta agora as demonstrações da “imprevisibilidade” e da “inteligência”, de Adesanya e Poatan.

Confira o card completo do UFC 287

Card Principal - Às 23 horas no UFC Fight Pass

  • Cinturão peso-médio (até 83,9 Kg): Alex Pereira x Israel Adesanya
  • Peso meio-médio (até 77,1 Kg): Gilbert Durinho x Jorge Masvidal
  • Peso-galo (até 61,2 Kg): Rob Font x Adrian Yanez
  • Peso meio-médio (até 77,1 Kg): Kevin Holland x Santiago Ponzinibbio
  • Peso-galo (até 61,2 Kg): Raul Rosas Jr. x Christian Rodriguez

Card Preliminar - Às 19 horas no UFC Fight Pass

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  • Peso-médio (até 83,9 Kg): Chris Curtis x Kelvin Gastelum
  • Peso-palha (até 52,1 Kg): Michelle Waterson x Luana Pinheiro
  • Peso-pesado (até 120,2 Kg): Karl Williams x Chase Sherman
  • Peso-médio (até 83,9 Kg): Gerald Meerschaert x Joe Pyfer
  • Peso-palha (até 52,1 Kg): Cynthia Calvillo x Loopy Godinez
  • Peso casado (até 72,5 Kg): Ignacio Bahamondes x Trey Ogden
  • Peso-pena (até 65,7 Kg): Shayilan Nuerdanbieke x Steve Garcia
  • Peso-palha (até 52,1 Kg): Jaqueline Amorim x Sam Hughes
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