O Brasil perdeu recentemente o cinturão do peso leve do UFC, quando Charles do Bronx foi finalizado pelo russo Islam Makhachev, em Abu Dabi. A chance de recuperação nunca veio tão imediata. Vinte e um dias depois, Alex Pereira, o Poatan, encara o nigeriano Israel Adesanya no UFC 281, evento que acontece neste sábado, no lendário Madison Square Garden, em Nova York.
Desta vez, o cinturão do peso médio estará em disputa, categoria que não tem um brasileiro como campeão desde Anderson Silva, em 2013. Poatan e Adesanya já se enfrentaram duas vezes, mas no kickboxing, com superioridade do brasileiro.
“Ele não esqueceu as derrotas. Mexeu com o seu psicológico. O Adesanya não imaginava que eu chegaria até aqui, desafiando-o pelo cinturão. Uma vez ele falou que eu viveria dessas duas vitórias, que eu contaria para os meus netos que uma vez havia batido o campeão. Ele não esperava que eu chegaria novamente a este posto e agora está assustado”, dispara Poatan.
“Essa é a luta que tenho de vencer. Eu sei que a pressão está em mim. É o meu legado. E vou vencer de maneira convincente. Eu venho falando pouco. Ele pode fazer todos os vídeos com bolinhas de tênis, com hoverboard que ele quiser, tudo bem. Ele tem o direito de se gabar, então deixe ele fazer isso, mas quando chegar a hora, eu sei de algo que ele não sabe. Não posso contar para vocês”, rebateu Israel, fazendo mistério e citando os constantes posts que o brasileiro vem colocando em suas redes sociais.
Em 2016, os dois estiveram frente a frente pelo Glory, em uma luta de kickboxing realizada na China. O brasileiro venceu por decisão unânime. No ano seguinte, novamente um confronto, desta vez em São Paulo, no Ginásio do Ibirapuera, com um nocaute espetacular de Poatan - mão dura, em tupi, devido a sua ascendência indígena -, imagens que rodam o mundo até hoje. Adesanya precisou de balão de oxigênio dentro do ringue.
Apesar do retrospecto, o nigeriano deu a volta por cima e domina a sua categoria no UFC. De acordo com a Odds & Scouts, uma das principais empresas de geração de dados para plataformas de apostas esportivas em todo o mundo, Israel Adesanya é o favorito para o novo embate (odds de 1.47) e Alex Pereira corre por fora (odds de 2.70).
“Apesar de Alex ter vencido duas vezes o Adesanya, era um outro esporte e muito tempo se passou. Israel vem dominando a categoria dos médios no UFC, é o campeão legítimo e por tudo isso é o favorito. Mas a diferença não é muito grande, justamente pelo brasileiro já ter batido seu adversário antes. Será um grande confronto” explica Ricardo Rosada, CMO do galera.bet.
A última era dourada do Brasil na maior organização de MMA do planeta aconteceu em 2012, quando José Aldo era o campeão dos Penas, Renan Barão dos Galos, Junior Dos Santos, o Cigano, era o rei dos Pesados e Anderson Silva fazia história nos Médios. O impacto foi tão grande que o UFC veio ao Rio de Janeiro pela primeira vez e movimentou R$ 66,8 milhões somente na cidade, segundo os números da empresa.
“Um evento gigantesco assim, no Madison Square Garden, em Nova York, impacta diretamente muitas áreas além do esporte em si. Caso o Alex consiga derrotar o campeão Adesanya, o seu nome será elevado a outro status por aqui. A sua marca atinge uma outra prateleira no cenário nacional. O Brasil dominou por muitos anos o UFC, mas passou um período sem muito destaque. Agora vem voltando com tudo e possui campeões como Amanda Nunes e Deiveson Figueiredo. Mais um campeão e o esporte ganha novo impulso por aqui, o impacto é instantâneo”, analisa Renê Salviano, CEO da agência Heatmap, especialista em marketing esportivo.
RECUPERAÇÃO
O brasileiro costuma consumir e acompanhar as modalidades vencedoras. Um esporte que ganha destaque em uma olimpíada, por exemplo, muda a sua repercussão em território nacional ao menos pelo próximo ciclo. Foi assim com o skate, em Tóquio. Rayssa Leal caiu nas graças da torcida e sua medalha de prata fez as vendas online relacionadas a seu esporte crescerem 50% na mesma semana, segundo a Neotrust, fonte de dados e inteligência sobre o e-commerce brasileiro. Dentre os consumidores, 70% eram mulheres. Skates infantis tiveram alta de 25%. Quando o Brasil obtém sucesso no mais alto nível do UFC, o efeito em academia e aulas de lutas é parecido.
“O brasileiro em geral se inspira nos compatriotas. A gente viu o crescimento do skate por aqui após o sucesso da Rayssa na olimpíada de Tóquio, alguns anos atrás. A comercialização de produtos aumentou, equipamentos e procura por locais de prática da modalidade. Isso é igual em outros esportes. Foi assim na Fórmula 1, no Vôlei. O sucesso internacional reflete diretamente por aqui”, comenta Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, agência de marketing esportivo.
Caso obtenha êxito nos próximos compromissos, o Brasil pode reviver a sua era dourada. Amanda Nunes é a atual detentora dos cinturões dos pesos Pena e Galo, Deiveson Figueiredo recuperou no início deste ano o título dos Moscas e a defesa já está agendada para o Rio, dia 21 de janeiro, contra o mexicano Brandon Moreno. Glover Teixeira, brasileiro de 43 anos, também tentará retomar o posto mais alto de sua categoria, meio-pesado, em dezembro, na revanche contra Jiri Prochazka, checo que lhe derrotou por finalização em junho.
Israel Adesanya obteve um recorde de 75 vitórias e 5 derrotas no kickboxing e ostenta um cartel de 23 vitórias e uma derrota no MMA, revés único que não foi dentro de sua categoria. Já Alex Pereira registrou 33 vitórias e 7 derrotas no kickboxing e fez a transição para o MMA apenas em 2015, com uma paralização de quatro anos na carreira. Ao todo, foram 6 vitórias e uma derrota, logo na sua estreia, no Jungle Fight, em São Paulo.
CARD PRINCIPAL:
Peso-leve: Dan Hooker x Cláudio Puelles
Peso-galo: Frankie Edgar x Chris Gutierrez
Peso-leve: Dustin Poirier x Michael Chandler
Peso-palha: Carla Esparza x Weili Zhang
Peso-médio: Israel Adesanya x Alex Poatan
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.