O que se assistiu na reta final do Grande Prêmio da Hungria de Fórmula 1 neste domingo foi uma boa amostra sobre como uma importante equipe pode esquecer os caminhos para ser campeã ao passar tantos anos distante da luta por vitórias e títulos. A McLaren foi a principal culpada pela desavença entre o australiano Oscar Piastri e o britânico Lando Norris.
Ainda na metade da prova, Piastri era líder - posição obtida logo na largada - e Norris vinha na segunda colocação, pressionado por Lewis Hamilton, da Mercedes, quando a McLaren optou por beneficiar o britânico e pará-lo nos boxes antecipadamente, o que garantiu mais tarde a conquista da liderança em relação a seu companheiro de equipe.
Norris ao tomar a liderança foi orientado a deixar Piastri ultrapassá-lo. A cada volta, o britânico ampliava sua vantagem na ponta e ouvia mais instruções da equipe para ceder a liderança ao australiano. Apenas quando restavam duas voltas, Norris tirou o pé e permitiu que Piastri levasse a vitória no GP da Hungria.
No momento de maior instabilidade da Red Bull e do líder do campeonato mundial, Max Verstappen, cabia à McLaren impor a grandeza de sua história e não deixar que esse melindre se tornasse o principal fato do domingo. Norris é o segundo colocado no campeonato e, portanto, aquele com mais capacidade para bater o holandês e impedi-lo de faturar o tetra consecutivo.
Nos contatos com o rádio, Norris ouviu que para ser campeão é necessário o suporte da equipe e que, por isso, deveria obedecer a ordem e deixar o companheiro passar. Ganhar uma corrida resulta no acréscimo de 25 pontos na tabela, enquanto terminar em segundo, apenas 18. Esses sete pontos podem fazer diferença na disputa do título.
Para ser campeão é obviamente necessário contar com o apoio da escuderia, mas, acima de tudo, é preciso ter ambição de ser campeão. E a McLaren mostrou que não está preocupada com o desempenho individual de seus pilotos e está focada na briga pelo mundial de construtores com a Red Bull.
Em seu histórico de campeões, incluindo Ayrton Senna e Alain Prost, o que não faltava era a vontade que a equipe de Woking esqueceu neste fim de semana. Provavelmente, os longos anos distante da briga por títulos fez a McLaren desaprender os meios para ser campeã. O último título de construtores foi em 1998, com a parceria entre Mika Häkkinen e David Coulthard, enquanto Hamilton, em 2008, faturou o último torneio de pilotos pela McLaren.
Norris não deveria ter cedido a posição tão tardiamente. Como mostrou estar muito melhor na pista, o britânico poderia ter deixado o australiano ganhar a posição e pleiteado brigar novamente por ela nas longas voltas restantes. Piastri perdeu completamente o brilho ao ganhar a primeira vitória dessa maneira. Vencer não sendo o melhor apaga os méritos de um piloto de 23 anos que tem um futuro promissor adiante.
“A equipe me pediu e eu devolvi a posição”, se limitou a dizer Norris após a prova. “Quanto mais demora (para ceder a posição), mais você fica tenso. Foi bem executado por parte da equipe. Foi a coisa certa a ser feita”, tentou amenizar Piastri.
Verstappen lidera o mundial de pilotos com 265 pontos, seguido de Norris com 189. Piastri é apenas o quinto, com 149. No torneio de construtores, a Red Bull tem 389 pontos, a McLaren, 338, e a Ferrari aparece na terceira colocação, com 322. Restam 11 Grandes Prêmios na temporada. A parada seguinte do circo da Fórmula 1 é em Spa-Francorchamps, na Bélgica, no próximo fim de semana.
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