A Fórmula 1 está voltando suas atenções para um futuro em que a modalidade seja sustentável em todos os seus aspectos. Fundamentalmente, a categoria máxima do automobilismo mundial estipula como meta zerar a emissão de poluentes até 2030. Para isso, a organização, junto às equipes e com apoio de importantes pilotos, tem proclamado mudanças em seu regulamento.
Em 2022, a Fórmula 1 alterou a composição dos combustíveis, obrigando as equipes a usarem 10% de etanol. Para 2026, ano em que haverá uma mudança drástica na unidade de potência, a categoria planeja que seu combustível seja 100% sustentável.
Um dos exemplos da preocupação da organização com a emissão de poluentes é que até 2024, os cobertores térmicos para os pneus serão banidos para evitar gastos com energia. Atualmente, os compostos podem ser aquecidos até 70ºC. A Fórmula 1 também promete melhorar a logística de seu calendário para tornar as viagens mais eficientes, sejam elas por via aérea, terrestre ou marítima.
A ampliação do uso de etanol nos combustíveis da Fórmula 1 têm potencial de promover o Brasil como protagonista sustentável desta nova era do esporte a motor. O País é o segundo maior produtor mundial de etanol, feito em sua grande maioria da cana de açúcar e tendo em 2021 representado 29,6% da produção global, ficando atrás apenas dos EUA, com 54,4%. Outro diferencial é que o Brasil já utiliza uma composição com um porcentual mais elevado de etanol. A cada dez litros de gasolina que você abastece seu carro, 2,7 são de etanol.
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Parte do combustível que a escuderia Ferrari usa na Fórmula 1 é fabricado no Brasil. A fração referente ao etanol de segunda geração é fornecido pela Raízen, joint venture da Shell e da Cosan. O etanol de segunda geração é mais um passo sustentável. Ele é produzido com a fermentação de materiais descartados na produção do etanol de primeira geração, como o bagaço ou a palha da cana de açúcar. Esse método faz com que uma mesma área plantada de cana de açúcar aumente sua produção em 40% a 50%.
“Temos uma larga experiência no uso de etanol no Brasil, desde a primeira grande crise mundial de petróleo em 1973. Dois anos depois, se estabeleceu o Proálcool no País, depois os primeiros carros a álcool e o motor flex. Nossa experiência com uso do etanol é muito grande, temos um know-how que será muito útil para a Fórmula 1. Por usarmos um etanol de segunda geração entramos com uma pegada de carbono diferenciada. Vamos poder contribuir com a agenda de redução de emissões que a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) estabeleceu”, afirma Gilberto Pose, especialista em combustíveis da Raízen, com larga experiência na Fórmula 1.
As mudanças ecológicas que a organização da Fórmula 1 promete implementar afetarão diretamente a unidade de potência dos carros. Para 2026, a categoria fará uma revolução no regulamento para os motores. Terão impacto direto nessas alterações o combustível que as escuderias deverão utilizar.
“Quanto mais etanol você adiciona à gasolina, menor o poder calorífico o combustível tem. Então, haverá perda de rendimento por falta de poder energético. Você compensa isso com ajustes mecânicos e até mesmo no motor”, explica Gilberto Pose.
O Estadão esteve nos boxes da Ferrari no Autódromo de Interlagos para visitar o laboratório móvel em que são inspecionados os fluidos dos carros de Charles Leclerc e Carlos Sainz Jr., óleos, lubrificantes e combustíveis. Todos os itens são vistoriados antes e após a queima nas atividades de pista. Até mesmo uma quebra, batida ou outro problema traz impactos aos dados recolhidos da análise dos fluidos.
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Outra preocupação se dá nas contaminações. Vistorias são feitas pela FIA para impedir que qualquer equipe transgrida o regulamento. A Shell acompanha a Ferrari e também dá suporte à Alfa Romeo e à Hass. Os equipamentos usados para aferição dos dados guardam cada qual sua particularidade. Dados podem ser recolhidos a partir das cores que são refletidas por determinado fluido.
“O etanol é uma componente de mistura muito conhecida que possui uma octanagem muito alta e velocidade de chama muito boa, que são bastante importantes na Fórmula 1, em que há motores de alta rotação. Trabalhar com combustíveis de corrida é como usar um laboratório natural de rápida resposta. Esse é o motivo de seguirmos investindo no automobilismo, porque podemos aprender características a serem transportadas para os combustíveis de rua”, comenta Valeria Loreti, gerente de entrega de automobilismo da Shell.
GP DE SÃO PAULO
A preocupação com a sustentabilidade também envolve a Fórmula 1. Ao longo dos três dias de corrida, a organização pretende compensar 100% das emissões de gás carbônico. Cerca de 18 toneladas de resíduos orgânicos gerarão duas toneladas de fertilizantes para hortas comunitárias da cidade. Há a promessa de zerar o uso de plástico no Grande Prêmio até 2025. Neste ano, 200 mil embalagens tetrapak serão transformadas em telhas, da mesma forma como a organização dará início a testes de uso de biodiesel para substituir o diesel nos geradores.
LEWIS HAMILTON
O heptacampeão mundial Lewis Hamilton é uma importante voz das causas sociais e ambientais. Em resposta ao Estadão, o britânico avaliou de qual maneira o engajamento da Fórmula 1 com um futuro sustentável conversa com os temas sociais com os quais ele se preocupa.
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“Eu entendo que a sustentabilidade, em todo o mundo, esteja na lista de coisas a fazer das empresas, mas não como uma prioridade, estando no fim da fila. Eu penso que lentamente está se tornando uma prioridade para muitas empresas. Na minha opinião, a sustentabilidade deve se tornar a prioridade número um. Sou muito feliz de trabalhar com pessoas incríveis que querem ter impacto positivo. Muitas mudanças estão acontecendo na Fórmula 1, como transformar o combustível em 100% sustentável. Espero que possamos deixar o planeta de uma forma melhor do que descobrimos, não pior”, finalizou Lewis Hamilton.
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