O Brasil terá uma nova representante na F1 Academy, o campeonato feminino de desenvolvimento criado pela Fórmula 1 em 2023. A piloto Rafaela Ferreira, de 19 anos, vai integrar a Visa Cash App RB, equipe de base da Red Bull Racing. Rafaela será a segunda brasileira na categoria, mas a primeira que nasceu e fez a carreira no Brasil, já que a compatriota Aurelia Nobels, que disputa a atual temporada, nasceu nos Estados Unidos e desenvolveu seu currículo na Europa.
A trajetória de Rafaela já indicava ascensão. A piloto é uma das promessas do automobilismo brasileiro e atua desde cedo no kart. Em 2023, ela ingressou na Fórmula 4 Brasil, na qual se tornou a primeira mulher a vencer uma corrida, no Autódromo Velocitta, em junho deste ano, pela TMG Racing. Nesta temporada, Rafaela esteve no pódio pelo menos uma vez em todas as etapas já disputadas.
“A gente entrou na Fórmula 4 e com essa intenção, de continuar uma carreira no automobilismo. Meu sonho, desde que comecei, sempre foi chegar na Fórmula 1. Em 2023, foi um ano mais de aprendizagem. Esse ano é de lutar pelo campeonato. A gente também pódio em todas as etapas, duas vitórias e duas poles. Ir para uma academia, junto da Visa, me deixa muito feliz, porque representa um grande passo, estar junto de um time da Fórmula 1 e poder aprender”, conta a piloto ao Estadão. “A longo prazo, o objetivo é viver do automobilismo. Porque correr sempre foi algo que eu amei. Amo fazer isso”, completa.
Por enquanto já vale muito a representação do verde e amarelo nas pistas da F1 Academy. “Eu amo o Brasil. Minha carreira foi feita aqui. Eu comecei a correr de kart aqui. Comecei no Fórmula aqui. Tudo que eu sou hoje como uma piloto veio aqui do Brasil. Vou ficar tipo muito orgulhosa de levar a bandeira do nosso País”, orgulha-se.
No automobilismo que, como tantos esportes, tem domínio masculino, Rafaela tem como inspiração outra brasileira, a piloto Bia Figueiredo, que tem no currículo passagens pela Fórmula Indy e Stock Car. Mesmo jovem, a nova competidora da F1 Academy também já se reconhece no lugar de referência para novas meninas que sonham com o mundo do automobilismo.
Mas isso não cria pressão, pelo contrário: “Chegar na F1 Academy mostra que essas meninas que estão começando agora também podem chegar onde eu cheguei. Principalmente ser uma mulher e estar andando bem, na frente, lutando por pódio, por vitória. Eu acho que é legal ser uma referência. Dá um apoio a mais”, reflete Rafaela.
O próprio surgimento da F1 Academy é uma busca por essa mudança de direção. A categoria foi anunciada em 2022, retomando tentativas de construir uma transição entre o kart e monopostos. A piloto britânica Susie Wolff, última mulher a pilotar um carro de Fórmula 1 durante um fim de semana de GP, em 2014, foi nomeada como diretora da modalidade desde a criação.
Tudo que eu sou hoje como uma piloto veio aqui do Brasil. Vou ficar muito orgulhosa de levar a bandeira do nosso País
Rafaela Ferreira, futura piloto da Visa Cash App RB na F1 Academy
Em 2023, a F1 Academy teve sete etapas, com três corridas cadas, somando 21 provas, além de 15 dias de testes. A última etapa foi uma corrida de apoio do GP dos Estados Unidos, em Austin, no Texas. Já neste ano, todas as sete etapas foram programadas para acontecer nos fins de semanas e autódromos do calendário da F-1. Restam ainda as etapas do Catar e de Abu Dhabi.
Todas as dez equipes da F-1 “apadrinham” uma das pilotos da F1 Academy. Outras cinco são apoiadas por marcas parceiras da categoria, que atuam em diferentes setores. No próximo ano, a Netflix irá lançar uma série documental sobre a modalidade. “Faz parte da vida de um piloto, né? Então a gente tem que ser completo. Tem que ir bem na pista e também fora”, conta Rafaela sobre a expectativa de receber gravações em casa.
Grid da F1 Academy em 2024
- Lola Lovinfosse (FRA/Rodin Motorsport - Charlotte Tilbury)
- Abbi Pulling (ING/Rodin Motorsport - Alpine)
- Jessica Edgar (ING/Rodin Motorsport - American Express)
- Emely de Heus (HOL/MP Motorsport - Red Bull Ford)
- Hamda Al Qubaisi (UAE/MP Motorsport - Red Bull Racing)
- Amna Al Quibaisi (UAE/MP Motorsport - Visa Cash App RB)
- Chloe Chambers (EUA/Campos Racing - Haas)
- Carrie Schreiner (ALE/Campos Racing - Sauber)
- Nerea Martí (ESP/Campos Racing - Tommy Hilfiger)
- Bianca Bustamante (FIL/ART Grand Prix - McLaren)
- Aurelia Nobels (BRA/ART Grand Prix - Puma)
- Lia Block (EUA/ART Grand Prix - Williams)
- Tina Hausmann (SUI/Prema Racing - Aston Martin)
- Doriane Pin (FRA/Prema Racing - Mercedes)
- Maya Weug (HOL/Prema Racing - Ferrari)
A atual temporada também contabiliza pontos para a Superlicença FIA, credencial necessária para competir no Mundial de Fórmula 1. A campeã soma 10 pontos; a vice, 7, e a terceira colocada, 3. Quarta e quinta ficam com 4 e 1, respectivamente. No momento, a líder é a britânica Abbi Pulling, com 245 pontos, uma vantagem de 95 para a francesa Doriane Pin, que ocupa a segunda posição.
Rafaela chegará para a estreia, em 2025, com sede de vitória. Ela confessa que a competitividade é característica até mesmo nos seus momentos de lazer. “Eu sempre fui muito ligada nos esportes. Tudo que tem uma competição, eu gosto. Também gosto de ir para academia, correr, jogar vôlei”, elenca hobbies e reitera ser competitiva: “Até dizem: ‘É só uma brincadeira’, mas não é uma brincadeira”, diz rindo.
Até lá, Rafaela continua na disputa da F-4 Brasil. A próxima etapa será no Autódromo de Interlagos, neste fim de semana, quando a pista será compartilhada também com o GP do Brasil de Fórmula 1. Na classificação, a garota está na quarta posição, com 148 pontos. À frente dela, estão somente Ethan Nobels (com 164), Álvaro Cho (178) e Matheus Comparatto (194).
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