Não é de hoje que as mulheres buscam espaço e reconhecimento no mundo do automobilismo. Se elas são minoria, há 20 anos o cenário era mais árido. Foi neste contexto com raríssimas mulheres nos campeonatos mundiais que Cau Saad criou seu espaço como preparadora física de pilotos. A brasileira se tornou a principal referência no automobilismo nacional, tendo entre seus clientes atletas do padrão de Felipe Massa, vice-campeão mundial de Fórmula 1 em 2008. Atualmente, ela treina pilotos da Stock Car.
Cau, como é mais conhecida, segue os passos de José Rubens D’Elia, um dos pioneiros do Brasil na preparação física de atletas. Um dos seus primeiros clientes, ainda na década de 1970, foi Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial de F-1. Ela começou a trabalhar numa academia de D’Elia.
Curiosamente, Cau entrou no mundo do automobilismo com ajuda das mulheres. “Nessa época, as mulheres dos pilotos começaram a me procurar porque eu comecei o meu trabalho da faculdade com pilotos de diversas categorias numa academia do D’Elia”, contou Cau, ex-atleta amadora de bodyboard e ginástica.
Depois, ela passou a atuar com jovens pilotos, de campeonatos de base, já em sua própria academia. Anos mais tarde, a Stock Car, principal competição brasileira, abriu suas portas para ela treinar seus pilotos. Foi quando ela precisou restringir o seu trabalho por um motivo inesperado: a rivalidade entre os corredores.
“Tive de decidir por dois pilotos, porque é uma competição individual. É não é fácil lidar com essas questões porque você pode ter problema na pista e levar isso para dentro do box e depois para a academia. Existe muita rivalidade. Eu tive de permanecer com os meus amigos”, conta a preparadora física. Um deles era Giuliano Losacco, que foi duas vezes campeão da categoria.
Outro personagem que se tornou pupilo de Cau foi Felipe Massa. E, como se tornou frequente na história da treinadora, ela chegou até o ex-piloto de F-1 através de sua mulher, Rafaela. “A Rafa foi uma das primeiras alunas da Cau há muito tempo. Hoje, temos uma amizade grande com ela”, contou Massa.
TRABALHO FÍSICO
Como acontece em toda modalidade esportiva, o automobilismo exige preparo físico específico, de acordo com as demandas dos pilotos na pista. De forma resumida, os atletas do asfalto precisam reforçar a musculatura do pescoço, dos antebraços e do chamado core, uma região com 29 pares de músculos entre o abdome e as costas. Tudo para suportar o tranco das corridas e do tempo dentro dos carros.
São o que Cau chama de movimentos específicos do automobilismo. “O antebraço precisa de exercício porque é a região que concentra a maior tensão do piloto, ao segurar o volante”, explica a preparadora física. O cuidado com o pescoço é ainda mais importante. “É uma situação perigosa porque o pescoço é muito frágil e precisa estar forte para conter a força da gravidade.”
O trabalho no core ajuda a sustentar a postura do piloto, que fica praticamente deitado dentro do cockpit, nos carros de fórmula. “Além de ajudar na postura, os exercícios protegem a musculatura interna e protegem os órgãos, como o intestino”, diz a treinadora brasileira.
“Gosto bastante deste tipo de treino, é eficiente para o meu físico. É muito bom para mim, como piloto e esportista”, afirma Felipe Massa.
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