O paranaense Gabriel Casagrande tinha o sonho de ser piloto de Fórmula 1. Queria repetir a trajetória de Senna, Piquet e Fittipaldi. Apesar de seguir os passos dos ídolos, competindo na Europa, o corredor de 21 anos desistiu. O alto custo do automobilismo e as dificuldades na formação técnica no País foram os motivos que abreviaram sua carreira, cuja trajetória não é exceção entre jovens pilotos.
O aspecto financeiro tem peso decisivo no sucesso do piloto. Para chegar à F-1, é preciso passar por algumas categorias antes, quase todas fora do Brasil. Do kart à F-1, o investimento pode chegar a R$ 60 milhões.
Uma temporada na GP2, a melhor porta de entrada para a F-1, custa 3 milhões (R$ 10,2 milhões). Nada se compara, porém, aos obstáculos impostos pelas cifras do automobilismo disputado na Europa, principalmente em razão da diferença de câmbio. Isso porque a maioria dos brasileiros chega lá bancada, em parte, pela própria família. Raros contam com patrocinadores mais fortes, como Felipe Nasr, que chegou à F-1 com o suporte do Banco do Brasil.
E, se uma temporada de kart pode levar o piloto e sua família a gastarem até R$ 400 mil/ano, um ano na F-3 europeia ou Fórmula V8 3.5/ World Series consome até 800 mil (R$ 2,7 milhões). As cifras assustaram Gabriel Casagrande. “Eu sabia que, bancando do próprio bolso, não conseguiria chegar até o fim. E não queria quebrar minha família com sonho que talvez pudesse nem se realizar”, admite. Ele desistiu em 2013, antes de entrar na World Series.
Luiz Razia foi pelo mesmo caminho. “Somente uns 20% do que gastei veio de patrocínio. Fizemos um esforço considerável, foi muito sacrifício.” Ele chegou a fazer testes pela Marussia, antes de a negociação sucumbir por causa da desistência de um dos seus patrocinadores. “Aí, tive de voltar para o Brasil. Gastei 12 anos da minha vida nisso. Chega, cansei! Cheguei perto, mas fui uma exceção.”
Na F-1, o dinheiro é alto. Um time nanico exige até 8 milhões de euros (R$ 27,3 milhões) por ano. Mediano, 13 milhões de euros (R$ 44,2 milhões) – em valores do início da década. “Hoje tem muito mais piloto pagando para andar”, diz Nelsinho Piquet.
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