Análise | Duvidar de Lewis Hamilton na F1 é tão ousado quanto a aposta dele na Ferrari em 2025

Equipe italiana tem a chance de deixar de viver da imagem de popstar de seus pilotos e do passado glorioso para voltar a ser uma escuderia campeã após 17 anos

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Foto do author Marcos Antomil
Atualização:

A publicação de Lewis Hamilton no X de uma simples foto pilotando quando criança um kart com um capacete vermelho acompanhado de um emoji gerou 185 mil curtidas e alcançou mais de três milhões de contas no primeiro dia de 2025. A união de um heptacampeão mundial com a maior marca do automobilismo mundial na Fórmula 1 já desfruta de bons resultados em marketing e publicidade e deve multiplicar esses ganhos em breve. Uma amostra já foi dada.

Os posts de Hamilton em sua saída da Mercedes exibiram engajamentos semelhantes, mas abaixo do que se viu na quarta-feira. No Instagram, o britânico tem 38,5 milhões de seguidores, enquanto a Ferrari possui 16,8 milhões. Novo companheiro de equipe do sete vezes campeão mundial, o monegasco Charles Leclerc, cujo sucesso nas redes sociais é inquestionável, conta com 17,4 milhões.

Lewis Hamilton trocou a Mercedes, onde conquistou seis títulos mundiais, pela Ferrari. Foto: Taba Benedicto/Estadão

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Estamos diante de uma era ocasionada pelas redes sociais e pelos streamings cujo vértice em diferentes modalidade é uma paixão exacerbada que distorce a realidade pela falta de experiência e a necessidade de emitir opinião e defender com unhas e dentes um ponto de vista passional. Antes da popularização das redes sociais, esses julgamentos dadaístas não encontravam vazão e ficavam restritos à mesa de bar.

Mattia Binotto, ex-chefão da Ferrari e atual comandante da Sauber, foi condenado nas mídias sociais por se opor à contratação de Hamilton. “Eu não teria trazido Lewis, porque a Ferrari teria se concentrado em outros pilotos. E, se Leclerc é o talento, então é ele quem deve ser acompanhado até a linha de chegada de uma certa maneira”, disse em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera.

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A Ferrari, de fato, confia em Leclerc, mas está pressionada a retomar as grandes conquistas. A McLaren pôs fim a seu jejum em 2024 no mundial de construtores. Já a escuderia de Maranello não sabe o que é ganhar um título na Fórmula 1 há 17 temporadas. Na temporada de 2024 da Fórmula 1, o monegasco terminou em terceiro lugar, e Carlos Sainz Jr., que pilotará pela Williams, em quinto. Hamilton, por sua vez, finalizou o ano em sétimo, atrás de seu companheiro de Mercedes, George Russell.

Quem também foi abominado por suas declarações foi o ex-dono de equipe, Eddie Jordan. O irlandês disse que “foi absolutamente suicida se livrar de Carlos (Sainz Jr. para dar lugar a Hamilton)”. Quem concorda é Flavio Briatore, que comanda a Alpine. “Eu me pergunto se essa troca faz sentido”, disse. Ambos questionam o fim de uma dupla harmoniosa - apesar de breves desentendimentos - e refletem uma preocupação com a gestão de egos na Ferrari.

Há algo em comum nessas observações. São todas perspectivas de chefes de equipe sobre o trabalho que um piloto pode desempenhar. A Fórmula 1 é um negócio bilionário e, obviamente, nenhuma receita pode ser desperdiçada. Não deve haver obstáculos de onde puder vir dinheiro. Isso vale pelos lados dos pilotos e das equipes.

A escuderia italiana contratou o britânico não só pela sua capacidade técnica como também pelo símbolo que a marca “Lewis Hamilton” representa. Da mesma forma, pode-se enxergar que o heptacampeão se dirigiu à Ferrari pela força, tradição e condição de ter um bom carro, além da magnitude de ser um piloto Ferrari. É uma via de mão-dupla.

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A aposta de Hamilton na Ferrari e a da Ferrari em Hamilton têm riscos esportivos maiores do que econômicos, mas é ousado tratar a ida do britânico para a escuderia de Maranello como um ato insustentável do ponto de vista técnico. Não se deve duvidar da capacidade de um multicampeão mesmo aos 40 anos, idade que ele completará no próximo dia 7. Exemplo não faltam. Niki Lauda, bicampeão em 1975 e 1977, voltou a conquistar um título mundial em 1984. Alain Prost foi tricampeão em 1989 e ganhou novamente em 1993. A Fórmula 1 teve três campeões com 40 anos ou mais: Juan Manuel Fangio (46), Nino Farina (43) e Jack Brabham (40), todos nas décadas de 1950 e 1960.

No entanto, o maior desafio de 2025 não recai apenas sobre Hamilton, está sobre os ombros da Ferrari também. A equipe terá de se provar. Ela tem a chance de deixar de ser um time que vive do passado glamouroso e da imagem de popstar de seus pilotos para voltar a ser uma escuderia campeã onde realmente importa: dentro das pistas.

Análise por Marcos Antomil

Editor assistente de Esportes. Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduado em Jornalismo e Transmissões Esportivas pela Universidad Nebrija (Espanha).

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