Ex-pilotos da F1 analisam Bortoleto e temem pela Sauber: ‘Pode parecer que ele não é bom’

Ao ‘Estadão’, grandes nomes da modalidade no País contam o que se pode esperar do desempenho do jovem piloto em seu ano de estreia e da capacidade de sua equipe: ‘Permanecer na Fórmula 1 é mais difícil ainda’

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Foto do author Felipe Rosa Mendes
Foto do author Ingrid Gonzaga

A nova temporada da Fórmula 1 está prestes a começar. Neste domingo, o Grande Prêmio da Austrália, disputado no Circuito de Albert Park, em Melbourne, abre o ano de competições da modalidade. Em 2025, seis novatos participarão dos circuitos como pilotos titulares de suas equipes — entre eles, um brasileiro de 20 anos marca a volta do País ao grid depois de sete anos desde a saída de seu último representante.

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Campeão da última edição da Fórmula 2, Gabriel Bortoleto, que também venceu como estreante a Fórmula 3 em 2023, fará sua primeira corrida pela principal categoria do automobilismo. O jovem osasquense correrá pela Sauber, mesma equipe de Nico Hülkenberg, a partir da 1h (horário de Brasília). A prova será transmitida pela Band.

Depois de dois títulos relevantes, os olhares dos brasileiros — incluindo os de outros grandes nomes da Fórmula 1 —, que já tiveram como representantes os campeões mundiais Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi, se voltaram para o novato com esperança de verem, mais uma vez, um piloto do País ganhando relevância nas pistas.

Gabriel Bortoleto acelera sua Sauber durante as primeiras atividades no Albert Park, em Melbourne. Foto: William West/AFP

Pensando nisso, o Estadão conversou com outros brasileiro que passaram pela Fórmula 1 para saber o que ele pensam da estreia e do futuro de Bortoleto na categoria. Felipe Massa, Alex Dias Ribeiro e Ingo Hoffmann destacam a qualidade do piloto que, apesar da pouca idade, já tem grandes feitos na carreira — ao mesmo tempo que não levantam grandes expectativas para um ano de aprendizado em uma equipe não tão competitiva.

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Felipe Massa

Último piloto titular a representar o País no grid, Felipe Massa comentou a importância de Bortoleto aproveitar seu início na Fórmula 1 para se desenvolver. “Ele tem em mente que o aprendizado é fundamental nesse momento. A parte física, a parte mental, a parte de experiência junto com a equipe, junto com os engenheiros e todas as pessoas que trabalham dentro da equipe. Ele tem de ter a personalidade dele, tem que dizer aquilo que ele gosta, aquilo que quer para ele, para o estilo de pilotagem dele”, pontua.

Para Massa, esse é um período de adaptação entre a escuderia e o piloto: “Ele tem de fazer a equipe entender o mais rápido possível o estilo de pilotagem dele, aquilo que funciona para ele, analisando o jeito que ele guia. E ele também, logicamente, precisa evoluir em todas as áreas e até áreas em que talvez sejam um pouco mais difíceis. É focar 100% em todas as áreas e no que ele consegue aprender dentro da equipe.”

Mais do que um sonho alcançado, a Fórmula 1 deve ser a maior responsabilidade de Bortoleto. “É um momento muito importante na vida dele, é o sonho da vida dele e ele tem que trabalhar 24 horas pensando nisso. Ele deve ter a Fórmula 1 na cabeça dele desde quando ele acordar até a hora que ele for dormir, até nos sonhos”, diz.

Por isso, Massa aconselha o estreante a “acreditar e trabalhar mais que os outros para ter o resultado que ele quer. O resultado que a gente quer é, logicamente, um resultado surpreendente. Ele tem de acreditar e trabalhar para isso”.

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Felipe Massa publica foto com Gabriel Bortoleto ainda criança Foto: @massafelipe via Instagram

Sobre a Sauber, equipe que Bortoleto representará, Massa fala com mais comedimento — ele mesmo estreou pela escuderia, em 2002, e nela ficou até 2005, quando migrou para a Ferrari. “A Sauber é uma equipe que deu lugar para muitos pilotos jovens como primeira experiência. Como na minha experiência recente, com Kimi Räikkönen, (Sergio) Pérez, (Kamui) Kobayashi, tantos pilotos jovens que tiveram a chance de começar na Sauber e tiveram sucesso na Fórmula 1″, afirma.

“Sem dúvida é uma equipe que vai fazer de tudo para dar a oportunidade de o Bortoleto aprender, virar um piloto com sucesso. É uma equipe também que não tem muito esse negócio de primeiro e segundo piloto, e sim de fazer o máximo para ter os pilotos entregando o máximo possível para ela”, conclui.

No mais, Felipe Massa espera que, acima de tudo, o automobilismo seja algo que o garoto sinta prazer em fazer: “Eu desejo para ele realmente muito sucesso, desejo que ele se divirta. Acho que correr se divertindo é o jeito mais fácil de você entregar o melhor resultado e sucesso possível. Que ele se divirta, aprenda e tenha, como eu disse antes, personalidade para ter tudo aquilo que ele quer dentro da equipe”.

Alex Dias Ribeiro

Entre 1976 e 1979, Alex Dias Ribeiro largou em dez corridas de Fórmula 1. Atuou pelas equipes Hesketh, March e Copersucar-Fittipaldi, até deixar a categoria, e chegou a correr nas Fórmula Ford e Fórmula 3 Sul-Americana. O ex-piloto falou sobre a experiência de correr em uma escuderia com um desempenho considerado abaixo da média — o que pensa ser também o caso da Sauber, hoje.

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“Chegar na Fórmula 1, não vou dizer que é fácil, é muito difícil. Mas permanecer na Fórmula 1 é mais difícil ainda. E aconteceu comigo. Eu cheguei até a Fórmula 1 com um bom recorde de performance nas Fórmula 3 e Fórmula 2, tinha três convites diferentes para correr na Fórmula 1. Infelizmente eu corri na March, no pior ano da March, e o carro era muito ruim, muito ruim mesmo, e não consegui ficar”, recorda.

Bortoleto parece estar em uma situação semelhante, em sua visão: “Eu peço a Deus que ele consiga sobreviver às pressões, porque se tem um excelente piloto com excelente marcas nos campeonatos de Fórmula 3 e Fórmula 2, mas ele vai pilotar na pior equipe, a pior do ano passado foi a Sauber. Esse negócio de piloto brilhante em carro que não anda, no esporte a motor, é uma temeridade, principalmente no nível de cobrança e de candidatos muito bem preparados a ocupar uma vaga na Fórmula 1″.

O cenário, porém, promete mudar — e para melhor. Em 2024, a Sauber foi totalmente adquirida pela Audi. Com isso, a promessa é que a equipe se torne mais competitiva a partir de 2026, quando se tornará oficialmente o “Audi F1 Team”.

“O que mais me preocupa é o Bortoleto sobreviver ao primeiro ano, ao ano de entrada. Se ele sobreviver ao ano de entrada, o ano que vem é outra história. O regulamento novo, com a Audi por trás da área técnica, construção do carro e tudo mais. Ele conseguir chegar até o fim dessa temporada é a minha torcida”, pondera. “Que Deus o proteja, que seja feliz e que emplaque. É meu desejo para o Bortoleto”.

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Ingo Hoffmann

Maior vencedor da Stock Car e um dos pilotos que mais competiu na categoria — 30 temporadas no total —, Ingo Hoffmann também deu largada em três Grandes Prêmios de Fórmula 1 entre 1976 e 1977. O paulistano, com histórico em distintas categorias, comentou sobre a competência do piloto estreante.

“Minha expectativa em relação ao Bortoleto é muito boa, porque ele é um piloto comprovadamente de primeira qualidade. Teve uma baita base no kart na Europa correndo por vários anos. Depois, foi campeão na Fórmula 3 e de Fórmula 2 no primeiro ano. Quer dizer, bagagem e experiência ele tem.”, disse o antigo piloto da Copersucar-Fittipaldi.

Hoffmann, no entanto, reforça também o medo que sente das críticas do público desacostumado com a modalidade: “Tenho receio de que as pessoas que não entendem tanto do esporte comecem a queimá-lo. Porque a Sauber não é uma equipe que anda na frente. Para quem não entende este momento da Fórmula 1 e do automobilismo, vai parecer que ele não é bom. E esse certamente não é o caso. O meu receio é esse.”