Mais velho campeão vivo da Fórmula 1 e uma lenda do automobilismo, Sir Jackie Stewart, de 82 anos, está empolgado com o GP de São Paulo, de volta ao calendário da modalidade após um ano de hiato em razão da pandemia de covid-19. Com a tradicional boina quadriculada em tons de kilt escocês, bem como a calça, o ex-piloto, embora vá a quase todas corridas, continua sendo uma das figuras mais requisitadas em Interlagos.
Neste ano, na sua opinião, apesar do ótimo desempenho de Lewis Hamilton no primeiro treino livre e na sessão classificatória para o sprint race nesta sexta-feira, o título ficará com Max Verstappen, que tem 19 pontos de vantagem sobre o heptacampeão no Mundial de Pilotos.
"Verstappen e Red Bull estão muito bem neste ano. Não é impossível que Hamilton ganhe neste ano, mas é mais provável que Verstappen seja o campeão", diz Stewart quando questionado pelo Estadão sobre a disputa pelo título nesta temporada. "Todos os pilotos querem ter um bom desempenho para o público em Interlagos, pois o ambiente é muito especial e os fãs são muito entusiastas".
Para Stewart, Hamilton, maior campeão da Fórmula 1 ao lado de Michael Schumacher, com sete conquistas, é um piloto "de primeira linha", mas os títulos, ele entende, não teriam vindo se não estivesse na Mercedes. "Quando você pilota em um time como a Mercedes as coisas ficam mais fáceis. O motor de Fórmula 1 da Mercedes é feito na Inglaterra, a capital do automobilismo. Hamilton é um garoto sortudo e sábio por ter ido para a Mercedes", ressalta.
A reportagem participou de uma mesa redonda com o tricampeão mundial organizada pela Rolex, marca da qual ele é embaixador. O escocês também falou sobre o movimento que liderou no passado para aumentar a segurança dos pilotos, as memórias da primeira corrida em solo brasileiro válida pelo Mundial, em 1973, a única que disputou no País, e outros assuntos.
"Foi difícil. Emerson me venceu. Ele era muito sensitivo. Fiquei muito feliz de ter sido o segundo naquela ocasião. Emerson e eu somos grandes amigos, até hoje", conta ele sobre as memórias do GP do Brasil de 1973. O brasileiro Emerson Fittipaldi, como Stewart lembrou, ganhou aquela corrida e o escocês terminou em segundo depois de largar em oitavo.
Considerado uma lenda do esporte a motor, o escocês natural de Milton, um vilarejo nos arredores de Glasgow, advogou por anos para que a categoria oferecesse menos riscos de morte aos pilotos nas pistas. Na sua época, os riscos eram gigantescos.
"Provavelmente foi a coisa mais importante que já fiz na vida. Precisava ser feito. Fui presidente da Associação dos Pilotos de Grandes Prêmios. Muitas pessoas foram contra mim e as minhas ideias, mas eles não podiam fazer nada para aumentar a segurança dos pilotos", recorda-se.
Depois de ver mais de 50 companheiros morrerem em acidentes, ele entende que o automobilismo evoluiu significativamente em termos de segurança. "Perdi grandes amigos na pista e não paramos de correr. Hoje, um acidente para a corrida na hora. Mudou muito. O esporte evoluiu muito. Por causa do perigo, as pessoas queriam ver as corridas", comenta.
Stewart, hoje, é entusiasta de outros esportes também. Diz que joga e assiste a golfe e tênis. Desde que parou de correr, associou sua imagem a várias marcas, tornando-se o homem do marketing da Fórmula 1. Além de ser embaixador da Rolex há 50 anos, foi garoto-propaganda da Ford, gravou para a Goodyear e é parceiro da Heineken, marca de cerveja cujo patrocínio à F-1 ele ajudou a viabilizar. O GP de São Paulo, neste ano, leva o nome da cervejaria holandesa. E o País, diz o tricampeão, embora não tenha um piloto no grid da principal categoria do automobilismo mundial no momento, não perdeu sua capacidade de revelar grandes pilotos.
"Os pilotos 'caem das árvores' e são muito bons. Por muitos motivos, esse país revela grandes nomes", afirma. "O Brasil teve pilotos lendários. Nelson Piquet e Rubens Barrichello foram dois deles. São muitos bons os pilotos brasileiros", acrescenta. Rubinho, inclusive, correu na Stewart, equipe do qual o escocês foi proprietário. A escuderia foi vendida em 2000 para Ford, que a renomeou Jaguar Racing. Depois, em 2004, foi negociada com a Red Bull.
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