O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse neste domingo antes do GP do Brasil de Fórmula 1 que investiu R$ 117 milhões no Autódromo de Interlagos nos últimos anos sem estar focado na realização de corridas da categoria, mas sim para transformar o local em um espaço multiuso. Para Haddad, que comandará a prefeitura somente até o dia 31 de dezembro, o dinheiro público aplicado no local só se justifica se Interlagos também for utilizado para outros eventos.
Nos últimos anos o autódromo passou por uma de suas maiores reformas da história com um custo total de R$ 160 milhões, com recursos do PAC do Turismo. Foi renovada principalmente a infraestrutura do paddock e dos boxes, que tanto geravam reclamações por parte da direção da F-1 e das equipes e pilotos.
A reforma foi iniciada em 2014, mas ainda não foi finalizada. Ela precisou ser paralisada por duas vezes para a realização das corridas do mesmo ano e de 2015. Falta ainda a terceira etapa da transformação que, segundo Haddad, vai transformar o autódromo num parque público multiuso. As principais intervenções previstas serão a mudança na altura do teto dos boxes e a instalação de cobertura no paddock.
"Se fosse para fazer esse investimento todo só pela Fórmula 1 não valeria a pena. Investimos mais de R$ 100 milhões aqui. Nosso objetivo é até 2020 tornar o lugar um parque multiuso, que contemple todo tipo de evento no local", disse o prefeito de São Paulo, que citou como exemplo os festivais de música realizados em Interlagos nestes últimos anos.
Esta terceira etapa da reforma, no entanto, não está garantida por causa dos planos do novo prefeito da cidade - João Dória assumirá o cargo em 1º de janeiro. Na campanha eleitoral, ele propôs a privatização do autódromo. Se mantiver o plano, Interlagos pode não se tornar o parque multiuso planejado por Haddad.
"Começaríamos a fazer esta etapa depois do GP deste domingo, para dar tempo de terminar a terceira etapa até o GP de 2017", explicou Haddad, que pretende discutir este assunto com a equipe do novo prefeito, na próxima semana. "Vamos discutir isso com o João Dória na quarta. Dependendo do que ele pretende para Interlagos, talvez não valha a pena concluir a reforma. Ou pode concluir antes de tomar qualquer outra decisão a respeito do destino desse equipamento", explicou.
Questionado sobre a proposta de privatização de Dória, Haddad se esquivou. "Não há o que se dizer. Foi dito na campanha eleitoral que esse parque ia ser vendido. Não era nossa perspectiva, mas temos que respeitar", afirmou. A terceira etapa da reforma vai consumir entre R$ 60 milhões e R$ 70 milhões, em convênio já assinado com o governo federal.
A discussão sobre a parte final da reforma acontece num momento delicado para o GP do Brasil de Fórmula 1. Com prejuízo de US$ 30 milhões (cerca de R$ 98 milhões), a prova poderá deixar o calendário do campeonato em 2017 porque o chefão da F-1, Bernie Ecclestone, está insatisfeito com a perda financeira que, por contrato, deve ser coberta pela Formula One Management, empresa que ele administra.
Diante desta possibilidade, Haddad exaltou a importância da F-1 para São Paulo, destacando o GP do Brasil como um dos três maiores eventos sediados na capital paulista, ao lado da Parada LGBT e do carnaval de rua. "A Fórmula 1 gera mais de R$ 200 milhões em negócios para a cidade. Tudo isso em praticamente um fim de semana", afirmou.
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