O atual tetracampeão da Fórmula 1 está de olho no quinto título consecutivo, um feito que só Michael Schumacher conseguiu, o que consolidaria seu lugar entre os maiores de todos os tempos.
A menos que a Red Bull dê um grande passo à frente em termos de desempenho neste inverno, Verstappen enfrentará o mais sério desafio à sua coroa até o momento, já que as investidas feitas pela McLaren e pela Ferrari na segunda metade do ano passado devem continuar.
Fora da pista, também há mudanças, pois Verstappen e sua companheira de longa data, Kelly Piquet, estão esperando seu primeiro filho juntos.

Embora tenha apenas 27 anos, Verstappen já disse que está mais perto do fim da carreira do que do início. Ele está sob contrato com a Red Bull até 2028, tendo assinado um dos acordos mais lucrativos da história do esporte há pouco mais de três anos. Mas com tantas mudanças no horizonte, este ano pode representar uma encruzilhada.
Desde que a Red Bull apostou em Verstappen, então um jovem de 17 anos, em 2015, colocando-o na F-1 com sua equipe irmã, a Toro Rosso, antes de promovê-lo à equipe principal apenas um ano depois, ambos os lados colheram os frutos: 63 vitórias, 40 pole positions, 112 pódios e quatro campeonatos mundiais, colocando Verstappen e a Red Bull entre as parcerias mais bem-sucedidas da história da F-1.
Verstappen raramente demonstrou sinais sérios de descontentamento ou frustração na Red Bull. O único indício público de que ele poderia deixar a equipe apareceu no início da temporada passada, quando Helmut Marko, o conselheiro da equipe Red Bull, enfrentou questionamentos sobre seu papel nos vazamentos que envolviam a investigação sobre o diretor da equipe, Christian Horner.
Verstappen disse que não poderia continuar na equipe sem Marko, cujo futuro foi resolvido rapidamente após uma reunião com Oliver Mintzlaff, diretor da Red Bull GmbH. Verstappen continuou dizendo que queria um ambiente tranquilo para correr. No final da temporada, era isso que ele tinha.

A prioridade de Verstappen é dirigir um carro vencedor. Ele teve de esperar que a Red Bull ficasse em posição de lutar pelo título, já que a Mercedes era dominante no final da década de 2010, mas não perdeu nenhum campeonato desde que recebeu o maquinário capaz de vencer, em 2021. A competição deste ano será intensa, mas ele provou no ano passado que, mesmo sem o carro mais rápido durante a maior parte da temporada, é muito difícil de ser batido.
O próximo ano poderá definir como serão as últimas temporadas do atual contrato de Verstappen com a Red Bull. O novo design do carro e as novas regras do motor prometem abalar a hierarquia e dar a possibilidade de uma equipe se destacar e dominar, como a Mercedes em 2014 ou a Red Bull em 2022 e 2023. Outro fator importante de 2026 para a Red Bull é que seu programa interno de motores, o Red Bull Powertrains, que trabalha em colaboração com a Ford, se tornará o fornecedor oficial da equipe.
A Red Bull conhece a vantagem de formar sua própria divisão de motores. Pela primeira vez, ela terá controle total de seu destino. Sua parceria com a Renault azedou quando a fabricante francesa não conseguiu produzir uma unidade de potência competitiva, deixando a Red Bull incapaz de competir com a Mercedes e a Ferrari.
Mas passar de uma operação inicial para um fabricante de motores capaz de competir com os nomes estabelecidos da F-1 em menos de quatro anos é um grande feito. A Red Bull colherá os frutos ou pagará o preço por seu nível de desempenho em 2026.
“Nós que temos nossas próprias unidades corremos grandes riscos”, disse Horner. “Mas também há vantagens na integração entre os dois mundos. Somos a única equipe, além da Ferrari, a ter tudo em um único campus, sob o mesmo teto, e já estamos vendo a sinergia entre engenheiros e projetistas de motores e projetistas de chassis”.
Embora o desempenho da unidade de potência tenha se equilibrado mais ou menos na F-1, esperam-se algumas grandes oscilações no início do novo ciclo de regras em 2026, que podem ser o diferencial de desempenho mais significativo. Isso fará com que seja ainda mais importante que o novo projeto da Red Bull e da Ford comece forte, especialmente para garantir que Verstappen tenha o carro de que precisa para continuar brigando por vitórias e campeonatos.

Poucos dos grandes nomes da F-1 de todos os tempos tiveram todo o seu sucesso com uma única equipe. Schumacher escreveu a maior parte de seu legado com a Ferrari, mas seus dois primeiros títulos vieram com a Benetton, em meados da década de 1990. Alain Prost e Ayrton Senna tiveram passagens por várias equipes, enquanto Lewis Hamilton agora está embarcando em sua terceira aventura, na Ferrari. Talvez o único grande piloto a fazer tudo isso com uma única equipe tenha sido Jim Clark, cujas corridas foram todas com a Lotus, na década de 1960.
Embora não fosse uma surpresa Verstappen ficar na Red Bull pelo resto da carreira, ele não quer correr para sempre. Ao comemorar sua 200ª corrida em Zandvoort, no ano passado, Verstappen zombou da ideia de estar disposto a mais 200. “Já passamos da metade do caminho, com certeza”, disse ele, acrescentando que não pensa em seu futuro depois de 2028. “Só quero ver como as coisas vão se desenrolar e também ver os novos regulamentos, se vai ser divertido ou não”.
O nível de diversão que Verstappen terá com os novos carros que chegarão em 2026 será fundamental para saber por quanto tempo mais ele quer correr na F-1. No momento em que parar de se divertir, ele fará uma pausa. É também por isso que a arbitragem da F-1, ou seja, a polêmica em torno dos palavrões, pode influenciar seu futuro. É improvável que o debate desapareça depois que a FIA, órgão regulador do esporte, anunciou novas diretrizes para penalizar a chamada má conduta com multas, deduções de pontos e até mesmo suspensões.
Isso não quer dizer que as corridas não farão parte da vida de Verstappen quando ele decidir parar. Há muito tempo ele sonha em participar das 24 Horas de Le Mans com seu pai, Jos, e passa os fins de semana dirigindo carros esportivos só por diversão. Seus horizontes vão além da F-1.
“Ele é um cara antigo em muitos aspectos: ele só quer dirigir”, disse Horner. “Acho que não gosta muito do barulho e do circo da Fórmula 1. Ele vai continuar enquanto estiver se divertindo”.
Verstappen entende os sacrifícios necessários para competir por vitórias na F-1, e isso pode ficar mais agudo quando ele se tornar pai. Ele será um dos dois únicos pais no grid, junto de Nico Hulkenberg, piloto da Sauber.
Mas, enquanto ele for capaz de brigar por campeonatos, a motivação continuará forte como sempre. Como ele disse depois da 19º vitória em 22 corridas em 2023: “Ganhar é ótimo. Por que não vencer quando você tem a oportunidade de vencer?”
Enquanto a Red Bull continuar dando a Verstappen um ambiente feliz, um carro vencedor e os meios para curtir o esporte, há poucos motivos para pensar que ele possa procurar outro lugar.
Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.
/TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU