Entre os 60 atletas da delegação brasileira para a disputa do Campeonato Sul-Americano, que começa nesta sexta-feira e será realizado no estádio de la Videna, em Lima, no Peru, está a velocista catarinense Anny Caroline de Bassi, de 21 anos, que foi convocada para a seleção de atletismo pela primeira vez. Ela nasceu com Síndrome de Poland, uma deformidade rara que fez com que não tivesse a mão esquerda e parte da musculatura do braço.
Apesar de isso atrapalhar um pouco sua largada mas provas de velocidade do atletismo, a competidora da cidade de Balneário Camboriú (Santa Catarina) vem tendo bons resultados no esporte olímpico, pois não conseguiu ser elegível para o atletismo paralímpico. “Eu me sinto igual a todas as outras meninas e quero chegar tão longe quanto”, disse a garota, em entrevista ao Estado.
“Quando comecei eu acabava tendo um pouco de desvantagem ao sair do bloco na hora das competições. Uma professora do paratletismo me sugeriu então uma adaptação para eu usar um bloquinho de apoio que fez muita diferença no meu rendimento. Minha deficiência desde então não me atrapalha dentro das pistas”, explicou.
Anny é atleta da Fundação Municipal de Esportes de Balneário Camboriú e treina com o técnico Diogo Gamboa. Ela foi convocada para ser reserva na equipe do revezamento 4 x 100m por ter a quinta melhor marca no Ranking Brasileiro deste ano. No dia 6 de abril, marcou 11s52 para a distância, em São Paulo. “As meninas do Brasil são muito fortes e têm marcas muito boas, então sei que com certeza o Brasil fará uma boa prova no revezamento 4 x 100m”, comentou.
A equipe titular no 4 x 100m será formada por Vitória Rosa (Pinheiros), Andressa Moreira Fidelis (IEMA/São Bernardo), Ana Carolina Azevedo (Orcampi Unimed) e Bruna Jéssica Farias (Pinheiros). Mas o fato de ter sido convocada para participar do time já é considerado por Anny uma vitória e ela espera ajudar da melhor maneira.
“Bom, eu fui convocada como reserva, então não é certo que eu vá correr. Mas se eu tiver a possibilidade de estar participando do revezamento, tenho certeza de que será uma prova muito boa. Eu me encontro em um momento muito bom da minha carreira e estou muito animada, me sinto pronta para dar o meu melhor e vontade de entrar na pista correr não falta”, avisou a velocista.
Anny começou na modalidade há seis anos nos Jogos Escolares. Aos poucos foi ganhando as provas e tomou gosto pelo atletismo. Sem a mão esquerda, ela contou que costumava puxar a manga da camisa para esconder das outras pessoas, mas o esporte também a ajudou a vencer essa timidez nas pistas.
“Comecei participando de competições escolares que a minha própria cidade organizava e as escolas levavam os seus alunos participarem. Sempre me saía muito bem e voltava com medalhas para casa, às vezes em primeiro lugar, às vezes na segunda posição. Foi aí que eu resolvi procurar a equipe de atletismo da cidade pois queria ganhar, já que não gostava de ficar em segundo. Acabei gostando de treinar e participando de mais competições, e depois disso não deixei mais o atletismo sair da minha vida.”
Ela chegou a tentar o esporte paralímpico, mas não foi aceita na época. “Logo que entrei no esporte, cheguei a competir na natação nas Paralimpíadas Escolares, mas no atletismo sempre fui considerada inelegível”, disse. A partir daí, fez sua trajetória nas pistas contra atletas olímpicas e foi evoluindo na modalidade. Agora, espera ter voos cada vez mais altos.
“O primeiro passo para meu sonho alcancei agora, sendo chamada para fazer parte da seleção brasileira. Mas quero muito mais. Desejo alcançar grandes marcas, participar de finais de competições internacionais e disputar os Jogos Olímpicos.”
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