Terminada a entrevista com o Estadão, Keyla Alves, de 22 anos, avisa a sua empresária que a agenda para a próxima semana está fechada. Depois de sessões de fotos e entrevistas para jornais, programas de televisão e podcasts, o foco passa a ser exclusivamente o vôlei, esporte em que quer alcançar o mesmo sucesso que já faz na internet. "O que mais escuto é que sou a bonitinha das redes sociais. Mas não me importo porque se entrar no meu Instagram está claro ali que sou atleta de vôlei", afirma.
A líbero do Osasco, mas também modelo, influenciadora e empresária é a jogadora de vôlei com mais seguidores nas redes sociais no mundo. Mais de 2,4 milhões acompanham as suas publicações no Instagram. Ela vive uma jornada dupla, conciliando treinos e jogos pelo Osasco com outros trabalhos extra quadra. São, especialmente, essas atividades fora do vôlei que a tornaram famosa na internet e a fizeram alcançar metas financeiras que havia estipulado, como comprar o carro que sempre quis.
Em média, Key, como é chamada, calcula faturar 50 vezes mais com as plataformas digitais do que com o vôlei. A influenciadora tem perfis no Facebook, Instagram, Tik Tok e Twitter e planeja, em breve, criar seu próprio canal no YouTube. Mas a maior parte do dinheiro é oriundo do OnlyFans, site de conteúdo adulto onde posta fotos sensuais. Ela registra cerca de 2 mil assinantes, que rendem, por mês, mais de R$ 100 mil à líbero do Osasco. Considerando todas as plataformas, os rendimentos mensais superam R$ 150 mil.
"São fotos normais, que eu postava no meu perfil do Instagram. Aí eu pensei: 'por que estou postando de graça?'", conta. "Conversei com um empresário e vi meu público no Instagram. Quando descobri que mais de 90% do meu público é masculino, criei meu perfil no OnlyFans".
Não é somente ela que cuida de suas redes sociais. A agenda tão cheia de compromissos comerciais fizeram a atleta se rodear de profissionais. Na sua equipe, estão oito funcionários, entre assessores, empresários e colaboradores de uma agência de marketing recém-contratada para que a deixe ter mais tempo para se dedicar ao vôlei.
Sucesso na internet
Embora receba de marcas para fazer as chamadas "publis", Key diz não ser influenciadora, tampouco blogueira. Se alguma marca quiser contratar a atleta para fazer uma publicação no Instagram tem de pagar, no mínimo, R$ 10 mil. "A maior 'publi' que fiz foi para o Banco do Brasil, por R$ 20 mil", revela.
O cenário mudou drasticamente de alguns anos para cá. Hoje bastante conhecida na internet, Key pode dar o seu preço nas ações de marketing. "Antes, ela fazia contato com as marcas e oferecia permuta em troca de fazer propaganda", lembra a empresária da atleta, Fernanda Sakai. Ela trabalha com a jogadora antes mesmo de ela virar profissional. Trata-se da pessoa em quem a jogadora mais confia, fora seus familiares.
"A Key Alves identificou que há uma forma de monetizar a sua imagem através do digital. É um caminho sem volta. Os atletas precisam enxergar isso. Quem não souber trabalhar sua imagem no digital, estará deixando dinheiro na mesa. O OnlyFans foi uma forma que ela encontrou, mas a principal que os atletas usam são as oportunidades junto ao mercado públicitario", explica Bernardo Pontes, sócio da Alob Sports, agência de marketing de influência focada no esporte.
O sucesso nas plataformas digitais, na visão de Key, é fruto do desejo do público em acompanhar a sua rotina no vôlei e fora dele. "Nas redes sociais, os atletas mostram a sua rotina no esporte. Comigo é diferente. Eu mostro minha vida. Se tiver que ir numa festa, eu vou postar, fazer uma dancinha, eu vou fazer. Eu mostro tudo ali. Acho que foi isso que fez a galera gostar de mim", opina.
Ela quer aproveitar a fama para ganhar um dinheiro que dificilmente juntaria por meio do vôlei. Mas, se depender da obstinada jogadora, será tão bem-sucedida nas quadras quanto é no universo digital. "Sempre falava para o meu pai, desde pequena, que eu seria a melhor líbero do mundo. Primeiro, me tornei a jogadora de vôlei mais seguida do mundo, mas no vôlei isso também vai acontecer. Tenho certeza disso pelo tanto que treino".
O caminho a ser trilhado é árduo, mas com menos obstáculos do que enfrentou até se tornar atleta profissional de vôlei. "Ralei muito. Fui rejeitada em umas dez peneiras em São Paulo", recorda-se. "Todos me recusavam porque falaram que eu era ruim e não tinha tamanho. Mas eu achava incrível, vindo do interior. Sempre voltava", diz Key, natural de Bauru.
Ela é filha de Manoel Flavio Ramalho, um caminhoneiro que tentou ser jogador de futebol, e Karina Alessandra Alves Caetano, ex-vendedora em uma lanchonete. O casal ainda mora numa casa pequena em Bauru. Lá criaram Key e Keyt, irmã gêmea e também jogadora de vôlei, e incentivaram as duas no esporte.
Críticas e questionamentos
Key não é a única a viver uma jornada dupla no esporte. No vôlei, o caso mais conhecido é de Douglas Souza, ponteiro de 26 anos que cativou o público durante a Olimpíada de Tóquio com as suas publicações. Ele virou o jogador de vôlei mais seguido do mundo no Instagram, com 2,5 milhões de seguidores. Passou a intensificar a produção de conteúdo, virou streamer e participou da Dança dos Famosos, quadro do Domingão com Huck.
"Eu disse pro Douglas que eu e ele vamos ser as pessoas que vão carregar a cruz porque fomos nós que começamos com essa jornada dupla no vôlei. Nós demos a cara. O atleta não é robô. Se ele quiser sair e encher a cara no sábado, ele pode", defende a atleta, que entende estar ajudando a abrir novos caminhos para seus colegas. "Hoje, já vejo outros atletas postando conteúdos no Tik Tok, vídeo, dancinhas".
Quando fala em "carregar a cruz", Key se lembra das críticas e até comentários machistas e misóginos que recebe nas redes sociais. Ela diz estar preparada para o lado nocivo da fama. "Quando bati 1 milhão de seguidores, resolvi parar de ler esses comentários ofensivos porque pode machucar muito". Se não lê as ofensas de cunho machista, também não liga para as críticas em relação à sua exposição na internet.
"Já joguei num time em que o técnico me disse para excluir as redes sociais. Eu bati o pé e não excluí. Fiquei um mês na reserva, mas depois voltei. Mas eu entendo que na época não era normal. Hoje as pessoas têm de se acostumar. É um novo mundo", define ela, ao dar um exemplo de um caso que não aconteceu mais em sua carreira. No Osasco, a líbero afirma que o "pessoal é supertranquilo" e compreensível com seus trabalhos paralelos, desde que não atrapalhe a sua performance.
"No começo, o pessoal assustou um pouco, principalmente o técnico (Luizomar Moura)", ressalta. "Mas nunca deixei de me empenhar. E não houve problema. Até me surpreendi com uma entrevista em que o técnico disse que não teve de me cobrar nenhuma vez dentro de quadra".
Objetivos no vôlei
Key tem uma oportunidade preciosa de ganhar espaço no Osasco e dar um passo importante para ser reconhecida, também, no vôlei. Ela será titular no começo da temporada, já que Camila Brait deu uma pausa na carreira para tentar ser mãe pela segunda vez. O clube, porém, contratou Natinha para posição, mas a atleta defende a seleção brasileira e ficará fora por alguns jogos nesta temporada.
Camila Brait é justamente a inspiração de Key para chegar à seleção. A atleta já defendeu a seleção de base. Em 2018, foi eleita a melhor líbero da América do Sul. "Com certeza é possível", acredita ela, vislumbrando uma convocação para a equipe nacional treinada por José Roberto Guimarães. "Quero me firmar no Osasco, ser titular e ser campeã da Superliga", acrescenta, elencando seus objetivos a curto prazo.
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