Vôlei: desconfiança faz seleções dobrarem aposta em Zé Roberto e Bernardinho por Paris-2024

Resultados do ciclo desanimam para os Jogos Olímpicos, mas experiência dos treinadores é trunfo para superar crise

PUBLICIDADE

Foto do author Marcos Antomil

Os Jogos Olímpicos de Paris batem à porta. Entre 26 de julho e 11 de agosto de 2024, o mundo está com os olhos voltados para a capital francesa. A delegação brasileira quer superar o recorde de medalhas, mas, para isso, conta com o desempenho do vôlei. Nas quadras, o momento não é positivo, tanto na seleção masculina quanto na feminina, e a crença na reversão do cenário se concentra na experiência dos técnicos Bernardinho e José Roberto Guimarães.

PUBLICIDADE

As seleções masculina e feminina não fizeram grandes apresentações no Pré-Olímpico em setembro e outubro, mas garantiram a vaga em Paris com um segundo lugar em suas chaves. A equipe masculina passou apuros, contou com tropeço inesperado da Itália para superá-los e ficar com a vaga. A grande surpresa veio logo após o fim da competição. Renan Dal Zotto, que vinha sendo enormemente criticado, decidiu pedir demissão do cargo de treinador.

Renan esteve no comando da seleção masculina por seis anos. Sob sua gestão, o Brasil não conseguiu se encontrar. A perda para a Argentina da medalha de bronze nos Jogos de Tóquio, em 2021, foi sintomática. Uma equipe que parecia desmotivada também tem dificuldades para encontrar soluções de novas lideranças para uma geração que precisa trazer frutos nos próximos dois ou três ciclos olímpicos.

No Mundial de 2022, queda nas semifinais para a Polônia e conquista do terceiro lugar. Na Liga das Nações, a seleção masculina foi eliminada nas quartas de final nas últimas duas edições, com EUA e novamente os poloneses como algozes. No Sul-Americano, pela primeira vez, os brasileiros não foram campeões, saindo derrotados pela Argentina na decisão. De fato, o vôlei está mais parelho, e o Brasil não tem mais a superioridade de outrora. Mas com Renan, as potencialidades parecem ter minguado e Bernardinho terá a tarefa de reencontrá-las em um espaço muito curto.

Seleção masculina precisa se reencontrar

Com Bernardinho no campo, o Brasil terá apenas um grande teste antes dos Jogos: a Liga das Nações, entre 17 de maio e 16 de junho (com finais entre os dias 26 e 30 do mesmo mês). O ponto positivo é que jogará em casa em uma das semanas, no Maracanãzinho, no Rio. Depois a Chiba, no Japão, e Manila, nas Filipinas. Antes desse período, em abril, a seleção já se reúne e começa a se preparar para Paris.

Publicidade

Bernardinho ficou sete anos longe do comando da seleção masculina. Foto: Wilton Junior/ Estadão

“Reassumo esse cargo para continuar com o trabalho feito, contribuir de alguma forma com minha experiência para que a gente possa buscar a tão almejada medalha em Paris. Uma coisa podemos prometer, que é muito trabalho e dedicação na busca dessa medalha”, afirmou Bernardinho.

O técnico deve contar com a experiência de Bruninho, seu filho, e Lucarelli. Mas já sabe que a juventude está pedindo passagem. Darlan Souza, de 21 anos, foi a grande estrela da seleção no Pré-Olímpico. Com seu jeito peculiar de celebrar com ‘jutsu’ de Naruto, o oposto conquistou o título de sensação do torneio e falou ao Estadão como enxergou esse desafio.

O mais importante para mim era poder ajudar o time e buscar minha evolução, sem pensar no que vinha de fora. A verdade é que a gente acreditava muito no nosso grupo. Sabíamos onde poderíamos chegar e não deixamos de trabalhar intensamente em nenhum momento. Quando eu estava no banco, busquei aproveitei as oportunidades e dei o meu máximo. Fui com o pensamento de rodar bolas e levar um pouco de diversão para dentro de quadra. Acho que consegui. A ficha até hoje não caiu.

Darlan Souza, jogador do Sesi-SP e da seleção brasileira

A integração das categorias de base com a equipe profissional é apontada como uma possível solução para a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) para dar novo rumo às seleções. Por isso, a entidade esticou as atribuições de Bernardinho e José Roberto Guimarães, que além de treinadores são coordenadores. Zé e Bernardinho vão para a oitava Olimpíada como técnicos.

Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. Tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos.

José Roberto Guimarães, ao Estadão, em outubro.

Técnicos das seleções brasileiras nos últimos oito Jogos Olímpicos

  • 1992 - Zé Roberto (masculina) e Wadson de Oliveira Lima (feminina)
  • 1996 - Zé Roberto (masculina) e Bernardinho (feminina)
  • 2000 - Radamés Lattari (masculina) e Bernardinho (feminina)
  • 2004 - Bernardinho (masculina) e Zé Roberto (feminina)
  • 2008 - Bernardinho (masculina) e Zé Roberto (feminina)
  • 2012 - Bernardinho (masculina) e Zé Roberto (feminina)
  • 2016 - Bernardinho (masculina) e Zé Roberto (feminina)
  • 2021 - Renan Dal Zotto (masculina) e Zé Roberto (feminina)

Ciclo completo favorece seleção feminina

As mesmas críticas escutadas do lado masculino não ecoaram na equipe feminina. A confiança em José Roberto Guimarães prevalece. São três ouros e uma prata olímpica no currículo. Não há semelhança no mundo. A Liga das Nações serviu como um bom teste. O Brasil caiu nas quartas de final para a China. No Pré-Olímpico, a seleção terminou em segundo lugar no seu grupo, sofrendo apenas uma derrota. E num dia muito dolorido para o vôlei brasileiro. O seguinte à morte de Walewska.

Publicidade

Na equipe feminina, a seleção já conta com nomes mais consolidados, como Gabi, Pri Daroit, Rosamaria, Thaisa e Roberta. O caminho está mais firme, mas as concorrentes pela medalha são fortes e o ouro não parece tão nítido quanto em outros ciclos.

José Roberto Guimarães tem muita experiência a seu favor para levar o Brasil a bons resultados nos Jogos. Foto: Pilar Olivares/ Reuters

“O ano de 2024 será especial por causa dos Jogos Olímpicos. Essa será a meta e precisamos ter um cuidado mais especial com essa preparação. A classificação no Pré-Olímpico foi boa por isso. Com a vaga garantida é possível dar uma período maior de descanso e preparação para as atletas de fora do Brasil e dos times brasileiros. Por outro lado, não podemos deixar de jogar as partidas da Liga das Nações (14 de maio a 13 de junho; finais entre os dias 26 e 30 do mesmo mês). Temos o exemplo da Itália, que fez isso em 2021, e depois precisou correr atrás de amistosos para tentar se recuperar e não conseguiu. O que a gente tem de pensar é nesse planejamento com um lastro físico”, afirmou Zé Roberto.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.