PARIS - José Roberto Guimarães deixou a Vila Olímpica na última terça-feira, 6, nervoso. Seu temor era de que a seleção brasileira feminina de vôlei fosse eliminada nas quartas de final das Olimpíadas de Paris, o estágio que ele considera mais perigoso dos Jogos Olímpicos. Não queria viver de novo tudo que ele sentiu oito anos atrás, no Rio, quando o Brasil caiu para a China nessa mesma fase.
“Saí da Vila pensando: ‘não estou preparado para ir embora. Não estou, não estou, não estou, não estou’”, repetiu o treinador, tricampeão olímpico e presente em sua nona edição de Jogos Olímpicos. “Estava caminhando para o ônibus e o batimento estava 106. Não é normal, não fico assim. É 76, 77. Estava estranho. Mas vim com este pensamento: ‘Vamos ficar, vamos ficar, vamos ficar”.
E ficaram. A seleção passou com facilidade pela República Dominicana na Arena Paris Sul 1, ganhou seu quarto jogo seguido em Paris - todos sem perder set - e entrou na zona de medalha. Está a uma partida de mais uma decisão olímpica. Nas semifinais, vai enfrentar os Estados Unidos, rival que está “engasgado”.
“A derrota ensina muito mais que a vitória. A gente aprende muito quando dói”, afirmou a central Thaisa, a mais experiente do grupo. Ela é uma das que estava no elenco vice-campeão olímpico em Tóquio, com derrota justamente para os Estados Unidos na final. Contudo, o Brasil ganhou recentemente das americanas. Na Liga das Nações, venceu por 3 a 1 em maio deste ano no último confronto entre as equipes.
Bicampeã olímpica, a central disputa a sua quarta edição de Olimpíadas. São 16 anos servindo à seleção brasileira e mais de duas décadas no vôlei. Ela espera que suas colegas que ainda não têm medalha possam experimentar o sentimento que ela viveu. “Elas merecem muito viver isso”.
“Acreditamos umas nas outras e no trabalho que está sendo feito. Sinto olho no olho e conexão o tempo inteiro. Vai ter dificuldade, pois estamos em uma Olimpíada e não tem time bobo. É acreditar no trabalho e seguir firme no que estamos fazendo”, acrescentou a jogadora de 37 anos.
Thaisa representa a experiência e Gabi Guimarães é a liderança técnica. A ponteira e capitã da equipe diz que não faltam energia e vontade de passar à final. “O que posso dizer é que a gente está engasgada. Na última edição, os Estados Unidos tiraram nosso ouro”, constata. “Temos pé no chão por saber que é uma equipe que já enfrentamos e nos trouxeram dificuldades”.
Em Paris, a seleção feminina arrasou seus quatro adversários - Quênia, Japão, Polônia e República Dominicana - e chegou às semifinais sem perder um set sequer. A campanha perfeita dá confiança, mas não gera soberba. “A gente teve uma lição grande na Liga das Nações. Viemos invictas, como estamos agora, e não conquistamos nada”, lembrou Gabi, citando as derrotas para Japão e Polônia que tiraram o Brasil do pódio na última Liga das Nações.
“Não vamos esquecer que, há três semanas e meia, nós perdemos e voltamos para casa com um sentimento muito ruim de que faltou e que a gente precisava mais. Todo mundo ainda está machucado pelo que aconteceu”, reforçou Zé Roberto. “Estamos fazendo muita coisa boa, mas precisamos ser testados e jogar uma final a cada dia”, acrescentou o técnico de 70 anos, satisfeito com o ambiente harmônico entre suas atletas.
“O que me a chama atenção não é só o que estão fazendo dentro da quadra, nos treinos, jogos, mas fora da quadra. Como estão se cuidando, tendo o horário de descanso, como estão se alimentando, como encaram os estudos, porque recebem as informações. Não tem briga, não tem discussão. O ambiente está ótimo. Se vai ganhar ou não é outra coisa, mas eu não posso falar um ‘a’ de preocupação”.
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