O mundo dos eSports acumula milhões de fãs em todos os cantos do Brasil. Mas como qualquer setor do País, registra problemas com relação à igualdade salarial entre homens e mulheres. Para combater esta assimetria, a W7M, importante organização de esportes eletrônicos, vai equiparar a remuneração média das integrantes da equipe feminina à do time masculino.
A medida nasceu de uma proposição conjunta entre a W7M e o Banco do Brasil, um dos patrocinadores da equipe. A paridade foi adotada neste mês de outubro e importará a quantia de R$ 3 milhões por ano. O reajusto médio no ordenado do time feminino é de 300% e se refere não somente aos salários, como também às premiações por desempenho nas competições. Houve quem recebesse um aumento de 450%. A medida é inédita nas equipes de eSports no País e deve ganhar novos adeptos.
“Os jogos nos quais temos equipe atualmente ajudam nesse processo de estruturação do cenário, com os campeonatos femininos e o próprios fomento da comunidade. Hoje, temos um circuito feminino mais bem estruturado, no qual a gente consegue ter relevância para os nossos patrocinadores, em questão de audiência, por exemplo. A equalização dos salários sempre foi uma vontade nossa. Até então, financeiramente não era viável, porque é um mercado que cada vez mais precisa de investimento. Mas com o apoio do Banco do Brasil, a gente botou essa iniciativa em prática”, explicou ao Estadão Felipe Funari, fundador e diretor de operações da W7M.
Ainda de acordo com Felipe Funari, 24 integrantes da W7M serão beneficiadas pela medida, sendo 12 jogadoras que já pertenciam à equipe, além de oito novatas e quatro membros do estafe. A recepção da medida foi extremamente positiva internamente e foi vista como um passo que poderá contribuir para que as demais organizações dos eSports sigam modelo semelhante.
Tadeu Figueiró, executivo de marketing do Banco do Brasil, ressalta a importância da instituição financeira no apoio às modalidades esportivas do País e explica que a igualdade salarial entre homens e mulheres faz parte de uma agenda de contrapartidas do banco no momento de estabelecer o patrocínio, como neste período em que negocia a renovação do vínculo com W7M para 2023.
“Com todas as modalidades com quem a gente tem conversado (para estabelecer acordo de patrocínio), temos negociado a questão do equilíbrio salarial e não tem sido um problema”, diz Figueiró. “Não há um conflito entre equipe, promotores de eventos e patrocinador. Não é uma ordem, é uma negociação normal, como todas as contrapartidas, inclusive as que estão na mesa neste momento de renovação”, explica.
Assim como diversas modalidades esportivas, no meio dos eSports, a remuneração varia de acordo com o game. A W7M, por exemplo, segue o padrão de concorrentes, em que jogadores de Rainbow Six Siege são os mais bem pagos, seguidos dos jogadores de Valorant, Free Fire e CS:GO.
Um assunto recorrente no universo dos games tem relação ao machismo no ambiente digital. São inúmeros relatos de casos de misoginia durante algumas partidas, tanto que diversas mulheres optam por utilizar um nome de usuário masculino para evitar preconceitos e evitam inclusive falar ao microfone com os outros jogadores para não serem vítimas de xingamentos e assédios.
“Realmente, essa é uma realidade no mercado de games e eSports em geral. No ambiente online, você vê isso muito acontecer as meninas. O RH da W7M e o estafe da equipe têm treinamento para combater essas atitudes. Se existe algum tipo de atitude machista, a gente pune. Não é aceitável aqui de forma alguma, mas é uma prática que a gente não quer que seja só interna. Por isso, usamos a nossa força midiática para trazer e ajudar as mulheres dentro desse segmento”, reforça Funari.
Além dos games tradicionais, outra busca do mundo dos eSports no Brasil é por desenvolvedores e programadores para a criação de novos jogos. Essa é uma preocupação crescente, que diante da alta demanda, os principais players de eSports no País querem associar à formação escolar, agregando conhecimento e fomentando o desenvolvimento e interesse tecnológico em salas de aula. Em São Paulo, por exemplo, já existe curso técnico gratuito de Programação de Jogos Digitais, ofertado pelo Centro Paula Souza, em diversas Etecs, espalhadas pelo interior e na capital. O mesmo curso também está disponível em instituições do Sistema S.
“Não é apenas uma questão universitária. Com a reforma do Ensino Médio, abrem-se caminhos para incluirmos o desenvolvimento de games desde a formação. A gente já teve algumas conversas com algumas prefeituras, governos estaduais e escolas particulares para começarmos esse processo de inclusão”, conta Funari. “O foco não é somente no desenvolvimento de games, mas também agregar carreiras que estão comumente nesse segmento, como psicólogos específicos desses atletas de eSports.”
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