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Conversa de pista

Opinião | Emerson Fittipaldi: ‘O investimento para correr na F1 é inflacionado por bilionários’

Aos 78 anos, Emerson Fittipaldi fala de inflação, mudanças e vê o Brasil como centro do automobilismo sul-americano

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Por Wagner Gonzalez

Primeiro brasileiro a vencer um GP de Fórmula 1 e sagrar-se campeão mundial da categoria, primeiro a vencer as 500 Milhas de Indianapolis, Emerson Fittipaldi completou 78 anos de idade dia 12 de dezembro passado e segue com a mesma vitalidade com que ganhou o apelido “Rato” por mover-se rapidamente nas pistas para ajudar seu irmão Wilson. De passagem pelo Brasil, ele concedeu esta entrevista exclusiva ao colunista.

Emerson estreou na F-1 no GP da Inglaterra de 1970 (Ford)  

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Wagner Gonzalez - No último GP de F-1 em Interlagos foi feita uma homenagem ao Ayrton Senna por ocasião dos 30 anos de sua morte. A McLaren não deveria capitalizar a oportunidade e comemorar os 50 anos do primeiro título da equipe, título conquistado por você?

Emerson Fittipaldi - Eu acho que esses 30 anos do Ayrton eram tão importantes que a McLaren fez muito pouca coisa. Acho que não foi culpa deles, apenas uma coincidência. Foi bacana e passou. Eu também recebi muitas homenagens.

WG - Como é seu dia a dia atual?

EF - Eu sou embaixador da McLaren há muitos anos e desde que o Emmo Júnior (seu filho mais jovem) começou a correr de kart eu cuido da carreira dele. Como ele ainda não tem licença de motorista para andar na rua eu viajo muito com ele na Europa. Tenho muito trabalho lá fora, inclusive um novo projeto na Europa.

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O investimento para correr é inflacionado por bilionários

Emerson Fittipaldi

WG - Falando na carreira do Emmo Júnior... Você acha que hoje seria possível um piloto iniciar sua carreira internacional indo morar em uma pensão em Wimbledon, fazer bico como mecânico e disputar uma categoria de base, exatamente como você fez em 1969?

EF -Tudo mudou muito, né? Hoje em dia o investimento para correr em qualquer nível, do kart até a F1, é muito alto e é inflacionado pelos bilionários do mundo: veja o caso do Nicholas Latifi, do Lance Stroll, do Nikita Mazepin... São famílias com muito dinheiro e que inflacionaram o automobilismo. Vivemos momentos diferentes, exigências diferentes.

WG - Já que você mencionou diferenças, o fato de a FIA ter seu primeiro presidente não europeu em120 anos de história, o catariano Mohammed bin Sulayem, seria a causa da crise que assola a entidade?

EF - Eu preciso entender melhor a crise que a entidade atravessa. Conheci o Mohhamed no Catar, uns vinte e poucos anos atrás. Ele é um cara que nasceu no esporte, tem uma cultura diferente, mas acho que está fazendo um trabalho muito bom, ele está lá e escuta todo mundo porque já foi piloto. O automobilismo está mudando bastante, há situações novas, circunstâncias novas que estão acontecendo. A Liberty Media está fazendo um trabalho fantástico de promoção do automobilismo e o Stefano Domenicali A F1 está fazendo um trabalho excelente, a General Motors, uma gigante americana, anunciou que pela primeira vez na história vai entrar na categoria.

O Brasil já é o centro do esporte na América Latina, só precisa expandir essa posição

Emerson Fittipaldi

WG - Você acompanha o automobilismo brasileiro?

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EF - Acompanho de longe, pois estou fora do País.

Além de dois títulos mundiais na F-1, Emerson também brilhou na F-Indy (Miguel Costa Jr.)  

WG - Você acredita que o País tem condições de se firmar como o centro do automobilismo sul-americano?

EF - Eu acho que o Brasil já está nessa situação. Se pensar bem, a gente tem um kart forte, F-4, Stock Cars. O Brasil só precisa expandir essa posição mais ainda, né? Já temos a WEC, a F-E e também a F1. Um detalhe interessante: o automobilismo da América Latina é um esporte muito unido, é diferente do futebol. O Lole (Carlos Reutemann) era muito meu amigo, o Fangio sempre foi uma referência.

WG - Em 2025 o Gabriel Bortoleto estreia na F1 em uma equipe em fase de transição. O que você diria para ele?

EF - Eu conheço muito bem a Sauber, é uma equipe com uma estrutura tecnológica incrível. Na F1, você sabe, as equipes vivem ciclos bons e ruins e a Audi, com certeza, já vai trazer muita coisa boa em 2025. O Gabriel é um cara com muito talento, é muito sério e dedicado. Ele terá uma experiência fantástica e não podemos esquecer que a Sauber já lançou grandes pilotos na F1, como o Kimi Räikkönen e o Felipe Massa, entre outros.

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WG - Para encerrar, o que você, aos 78 anos, mantém a mesma faz para se manter tão ativo e disposto?

EF - Eu sou muito cristão, sou um homem de muita fé. Deus falou que nós somos o corpo sagrado que nos criou, um templo sagrado. Nós temos que equilibrar o corpo físico, a mente, a alma e o espírito. Eu procuro me manter bem fisicamente, durmo e acordo cedo, mas o mais importante é saber que o Nosso Senhor nos criou e nos ama.

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