A Fiat e a Confederação Brasileira de Futebol anunciaram nesta quarta (14/3), um amplo contrato de patrocínio de quatro anos para as quatro seleções nacionais da bola: a principal, feminina, olímpica e de base. Nada de errado na decisão tornada pública por Antonio Filosa, presidente da FCA para a América Latina, e Rogério Caboclo, o cartola-mór do futebol brasileiro, e que consiste em associar produtos com marcas amplamente conhecidas, operação que demandou projeto cuidadoso e que envolve várias ações publicitárias e promocionais. Não custa lembrar que tanto a fabricante de automóveis e caminhões quanto a CBF primam pelo zelo que dedicam à exploração mercadológica dos seus produtos.
Herlander Zola (Diretor do Brand Fiat e Operações Comerciais) e Fernão Silveira (Diretor de Comunicação e Sustentabilidade) são dois executivos de alto escalão do grupo FCA no Brasil que trabalharam duro para fazer valer cada real investido nesse programa de apoio à CBF. Não se poderia esperar outra coisa de executivos de alta linhagem em um conglomerado de 26 mil dependentes. A assinatura do contrato foi um mero gesto que coroou um processo de avaliação e análise de duas partes interessadas.
Ocorre que é curioso notar que o Brasil tem cinco títulos mundiais de futebol conquistados desde 1958 e que o automobilismo já rendeu oito títulos mundiais de F-1 desde 1972 com o bicampeão Emerson Fittipaldi e os tricampeões Nelson Piquet e Ayrton Senna, um título no Mundial de Resistência com Raul Boesel. Mais ainda: temos sete vitórias nas 500 Milhas de Indianapolis - com Hélio Castro Neves (3), Emerson Fittipaldi (2), Gil de Ferran e Tony Kanaan.
Levando esses números em consideração fica mais fácil entender porque o automobilismo brasileiro encontra sérias dificuldades para recuperar essa tradição e status quando se pergunta a executivos da FCA porque o grupo não replica esquemas que dão certo no Exterior. Há exemplos fáceis do apoio que a Fiat presta esporte a motor no Atlântico Sul e no Atlântico Nortea: a marca tem equipoes oficiais nos Campeonatos Argentinos das categorias TC 200 e Super TC 2000 e provie os motores para os carros inscritos nos campeonatos alemão e italiano de F-4, entre tantos outros programas. Indagados separadamente por que isso não é replicado no Brasil, as respostas de Zola e Silveira são idênticas:
"Não fomos procurados nem consultados."
Os dois executivos também confirmaram que estão abertos a estudar propostas sérias e que se encaixem nos valores da FCA, cabe à CBA cumprir seu papel e fazer a lição de casa. A atual gestão da entidade prometeu trabalhar para isso quando chegou ao poder há cerca de dois anos; até agora, porém, o número de campeonatos nacionais diminuiu e apenas o kart recebeu atenção coerente.
Quem sabe se fazendo a lição de casa seja possível cumprir o terceiro parágrafo do artigo sexto de seu estatuto consolidado em 9 de novembro de 2018. Esse item fala sobe a missão de promover e valorizar o esporte a motor no País e é uma atitude que os praticantes e apaixonados por automobilismo esperam da entidade.
Por esse novo estatuto nota-se no artigo 11, parágrafo quinto, a citação que "os dirigentes da Confederação Brasileira de Automobilismo poderão ser remunerados pelo efetivo desempenho de suas funções, cabendo à assembleia geral ordinárias, que aprovar o orçamento anual da entidade, fixar-lhes a remuneração para o ano, que deverá observar as limitações impostas pela legislação pertinente", item que não existia em estatutos anteriores.
No dia 14 de março de 2019 o site da entidade não traz o balancete do último trimestre de 2018 , mas no documento que registra a movimentação financeira do período 1/7 a 30/9 de 2018 constam no item 3030103 - pagamentos a serviços de terceiros - na ordem de R$ 118.537,67 para pessoas físicas e R$ 1.783.690,46 para pessoas jurídicas, valores acumulados para os nove primeiros meses do ano.
Se os dirigentes já podem ser recompensados financeiramente por serviços prestados à entidades chegou a hora de justificar esse pagamento. A porta está aberta para eles convençam a nova patrocinadora das quatro seleções brasileiras de futebol e outras empresas de que, além do kart, o automobilismo esportivo como um todo é uma boa ferramenta de marketing e pode desenvolver o potencial de pilotos, mecânicos e engenheiros.
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