A conquista do quarto título consecutivo de Max Verstappen com o quinto lugar obtido no GP de Las Vegas teve sabor de 7 x 1 vitorioso para a Cadillac: a marca de luxo da General Motors poderá estrear na categoria em 2026 (foto de abertura, Red Bull e Cadillac). Ontem (25/11) a F-1 divulgou um documento onde relata que um acordo de princípio foi estabelecido com o grupo estadunidense para apoiar a GM/Cadillac como a décima primeira equipe a partir desse ano. Inicialmente o time norte-americano deverá arrendar os motores do seu carro - Ferrari e Honda são favoritos à essa escolha -, e utilizar um motor próprio em 2028.
O anúncio encerra um período de farpas e acusações entre a família Andretti e a F-1: a primeira cumpriu as exigências estipuladas pela FIA para aderir à categoria, mas essa demanda foi rejeitada pela F-1, detentora dos direitos comerciais do campeonato, alegando que essa participação não agregaria valor ao seu negócio e apenas valorizaria a marca Andretti.
Algumas coincidências podem ser registradas no caminho. A marca norte-americana segue um caminho semelhante à Audi, que adquiriu a equipe suíça Sauber, que a partir de 2026 será rebatizada com a identidade alemã. A família Andretti esteve próximo de adquirir o time de Hinwil, mas o negócio terminou às vésperas da assinatura do contrato de venda.
A realidade do projeto da Cadillac é a utilização da estrutura montada pela Andretti Global, que teve seu ingresso na categoria vetado pela Liberty Media, a proprietária dos direitos comerciais da F-1. No dia 7 de outubro Michael Andretti anunciou seu desligamento da Andretti Global, um complexo de companhias que buscava acrescentar a categoria a seu portfólio de equipes que disputam campeonatos internacionais como as fórmulas Indy, E e Extreme, entre vários outros.
No último dia 11 foi a vez de Greg Maffei anunciar que em dezembro deixa a presidência da F-1, cargo que assumiu em 2020 em substituição a Chase Carey. Isso poderia passar despercebido caso Maffei e Andretti fossem bons amigos, algo que é inverdade: desafetos desde algum tempo, o primeiro é reconhecido como o algoz do segundo. Vale lembrar que Mario, pai de Michael, e lenda viva no automobilismo dos Estados Unidos, iniciou uma cruzada junto a lideranças políticas do país alegando preconceitos da Liberty Media contra o projeto Andretti Global.
Coincidências ou não, a Andretti Global foi incorporada pela empresa TWG Global, grupo financeiro que tem Dan Towriss com líder do setor de esportes a motor. O projeto Cadillac F-1 é oficialmente um investimento da GM operado por aquela empresa e sem a participação da família Andretti. Entretanto, Mário Andretti ocupa um cargo semelhante a embaixador e Michel como conselheiro na TWG Global. Poucos acreditam que os dois vão aparecer nos boxes da equipe. Outro ponto importante nesse empreendimento é a participação de Mark Walter, CEO da empresa de investimentos Guggenheim Partners e ele próprio um investidor em franquias esportivas.
Esse arranjo é fundamental em função do investimento requerido para se estabelecer uma nova equipe de F-1. Atualmente é preciso pagar US$ 200 milhões, quantia próxima a R$ 1,16 bilhão, unicamente para ser inscrito no campeonato. Essa quantia poderá se aumentada entre 250% e 300% em 2026, quando entra em vigor o novo Acordo de Concórdia, documento que rege as relações comerciais entre a F-1 e suas equipes participantes. A construção da sede e operação da equipe podem chegar a cinco vezes esses valores, o que justifica a presença de pesos pesados do mercado financeiro nesse contexto.
A TWG Global já tem uma base na Inglaterra, apropriadamente situada nos arredores de Northampton, local da sede de oito das 10 equipes da categoria. De acordo com os planos anunciados pela GM o primeiro motor Cadillac só estará disponível para uso nas pistas em 2028, data considerada otimista. Em 26/27 o time utilizará trem de força, conjunto formado pelos motores a combustão e elétrico e câmbio de outra marca que já participe da F-1. Até agora as possibilidades para isso incluem as marcas Audi, Ferrari, Honda, Mercedes e Red Bull Ford. Audi e Red Bull Ford estão fora de questão enquanto a Mercedes atenderá Haas, McLaren e Williams. A Ferrari deixará de atender a Sauber e a Honda unicamente a Aston Martin. Estas duas últimas são as favoritas para ocupar a parte traseira do primeiro Cadillac de F-1.
As razões da entrada da GM na F-1 vão muito além da possibilidade de promover sua marca de luxo. Entre esses motivos pode-se destacar o fato de a Ford ter se associado com a Red Bull no desenvolvimento dos motores que a equipe de Milton Keynes utilizará a partir de 2026, o tradicional hábito de as duas marcas norte-americanas seguirem caminhos semelhantes no que toca a produtos e políticas de mercado e a possibilidade de gerar lucro em um mercado que vive um período de franco crescimento institucional e financeiro.
O resultado completo do GP de Las Vegas você encontra aqui.
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