Fabrício Werdum já foi campeão dos pesos-pesados do UFC, tem dois títulos mundiais de jiu-jitsu e hoje desfruta de tudo que o mundo das lutas lhe proporcionou. Não está aposentado - e sequer gosta do termo ‘aposentar’ -, mas dedica o tempo a outras atividades fora do octógono ou qualquer outro tipo de ringue, sem deixar de estar conectado às artes marciais.
Comunicativo, o gaúcho de Porto Alegre virou comunicador. Começou como comentarista, desenvolveu-se na função de entrevistador em seu próprio podcast no YouTube, o Dos Nossos, e foi convidado para estrelar o talk show Papo Cruzado, do canal Combate, em uma parceria inusitada com a atriz e youtuber Kéfera Buchmann.
O programa, que estreia às 19 horas desta segunda-feira com a presença de Wanderlei Silva, não recebe apenas astros das lutas e traz convidados de outros nichos. Os nomes vão de João Gordo, apresentador e vocalista da banda de punk rock Ratos de Porão, ao global Marcos Mion.
“Veio esse convite para ser apresentador, e eu vi como um um desafio, o que eu adoro. Não gosto de perder nem no par ou ímpar”, diz Werdum ao Estadão. “Foi uma surpresa quando falaram que seria com a Kéfera, eu não conhecia ela. A gente se deu bem de primeira, começou a conversar, começou a fluir. O que eu gosto é da energia do lugar. Toda a equipe. Da faxineira ao diretor, me dei muito bem com todo mundo. E eu sou um cara simpático e bonito também”, brinca.
No talk show, assim como em seu podcast, o gaúcho de 47 anos trata de diversos assuntos, mas não deixa o esporte de lado. Está sempre atento ao que está acontecendo no mundo das artes marciais e diretamente ligado aos principais eventos do meio, mesmo sem lutar desde setembro do ano passado, quando perdeu para Júnior Cigano por decisão dividida.
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Tyson x Paul
Werdum é pupilo de Rafael Cordeiro, o Mestre, um dos responsáveis pela preparação da lenda Mike Tyson na esperada luta com o influenciador e pugilista Jake Paul. Em seus contatos com o treinador e amigo, ouve falar do quanto Iron Mike é dedicado e preparado, mesmo com 58 anos. Até por isso, não acredita que o desafio possa trazer grandes riscos à saúde do pugilista americano, que teve de adiar a luta por causa de uma crise de úlcera sofrida durante um voo em maio.
“Não acho que é perigoso. Com toda estrutura do evento, todo cuidado. Ele tem médicos a postos para cuidar da integridade física do atleta. vida inteira o Mike Tyson fez isso e tenho certeza que não vai afetar muito ele se tomar um nocaute, não vai ser coisa de outro mundo. Ele está acostumado com isso. Não vejo perigo nenhum”, afirma o gaúcho.
“Já vou aproveitar e dizer que a torcida é 100% Tyson.,130%, 140%. O mundo inteiro quer que o Tyson ganhe. O Jake Paul não é mais um influencer, é um lutador, foi mostrando com o tempo, ganhando do Anderson Silva, de outros lutadores. Ele se preparou para isso, e há muita expectativa. O mestre (Rafael Cordeiro) me passa algumas informações, que o Tyson é um cara diferenciado. É um caro que com 58 anos levanta às 4 horas da manhã para correr”, completa.
O tipo de preocupação que existe com a saúde de Tyson foi direcionado a Werdum recentemente, depois que um depoimento feito por ele durante um processo de classe de lutadores contra o UFC acabou disseminado pela imprensa. No texto, revelava danos cerebrais causados por sua profissão. De acordo com o próprio lutador, contudo, o caso está sendo monitorado e não é grave.
“Esse cisto não está atrapalhando nada, porque o próprio médico me liberou para lutar. É uma coisa muito pequena, e quando a gente fala cisto as pessoas se assustam”, explica. “Não influencia em nada na minha vida, eu não deixo de fazer nada. Está estagnado. E se, precisar, em último caso, se o cisto começar a crescer, existe uma cirurgia. Seria o caso de fazer um canal lateralmente para o líquido passar. É uma coisa muito simples, o médico me disse, mas no meu caso não precisa.”
O ex-campeão dos pesos-pesados está envolvido no processo contra o UFC, mas não por causa de alguma problema de saúde. Ele foi incluído pelo próprio juiz do caso, após ação movida pelo americano Cung Le, que pedia melhores pagamentos. A Justiça entendeu que a ocasião pedia uma ação de classe, para contemplar outros profissionais na mesma situação.
Hoje um veterano do MMA, Werdum conseguiu estabilidade financeira, diferente de outros colegas de profissão, e, por tudo que conquistou, ainda tem uma gama de possibilidades para continuar fazendo dinheiro nos ringues. Propostas chegam constantemente e, em breve, ele pode aparecer lutando novamente.
“Penso em lutar de novo, e acontecem algumas propostas, sim. Não vou dizer mais do que isso, porque não tem nada 100%, mas podemos ter surpresas em 2025. É uma coisa que eu gosto muito. Estou fazendo esses projetos, o Papo Cruzado, estou em São Paulo gravando 16 podcasts, são quatro por dia. É uma coisa que gosto de fazer. Palestras, podcasts, presenças, seminários e a luta por último, em stand by”, diz
“Aconteceu uma proposta milionária, eu até fico feliz pelo reflexo da carreira que eu tive. Nem quando eu estava na ativa eu tinha propostas como as que tenho hoje. Mas tem que fazer sentido. No momento que eu aceitar a proposta, a luta passa lá para cima e elimina tudo que eu estava fazendo, porque precisa de 100% de dedicação. Não faria mais o podcast, a palestra se cancela… e vou para os Estados Unidos treinar com o Rafael Cordeiro”, conclui.
Lutar contra um influenciador, em um evento mais midiático, também não está descartado. “Eu acho muito legal, desde que não seja armado. Se for exibição, deixar claro que é exibição, não pode nocautear, vai ser uma apresentação. Não pode deixar com expectativa que é uma luta de verdade e depois acontecer o contrário. Eu não lutaria com ninguém uma luta armada. Eu lutaria com alguém que valesse a pena e fizesse sentido para a minha carreira. Não lutaria com qualquer um. Se eu fosse lutar com influencer, iria para nocautear 100%, sem chance nenhuma”
Werdum sonha com Jones x Poatan
Fabrício Werdum não quer parar e também não deseja que outras lendas do esporte parem. Apesar das especulações, não acredita que Jon Jones vá se aposentar depois da luta contra Stipe Miocic, no dia 16 de novembro. Confia na vitória e na continuidade de Jones.
“Sobre o Jon Jones se aposentar depois disso, acho que não. As propostas são boas depois que se anuncia a aposentadoria, eu não gosto dessa palavra. Uma vez lutador sempre lutador. O Miocic, sim, eu acho que depois dessa luta - já está um tempo sem lutar - tem uma vida financeira boa, é bombeiro, uma profissão muita valorizada nos Estados Unidos. Acredito que ele pare ou faça uma luta de vez em quando”, avalia.
O lutador gaúcho deseja mais tempo de carreira para Jon Jones também porque deseja vê-lo lutando contra o brasileiro Alex Poatan no futuro. Atual campeão meio-pesado e ex-campeão peso-médio, Poatan está em vias de subir para o peso-pesado e há grande expectativa de um embate entre ele e Jones.
“Eu tenho certeza que, com o tempo, o Poatan vai se tornar um dos melhores de todos os tempos. Ele já está fazendo, em pouco tempo, esse nome. Ele é diferenciado, o mundo inteiro está vendo a façanha que ele está fazendo. Eu fico até pensando: se eu pudesse voltar atrás e fazer algo diferente, eu lutaria mais, muito mais do que eu lutei. O Poatan faz isso, chamam ele e ele vai, não tem frescura”, comenta Werdum.
“Nos pesados ele vai incomodar muita gente, vai ter muitas vitórias, mas não acredito que ele esteja pronto ainda. Não que a torcia não seja para ele; a torcida é sempre Poatan… para lutar contra o Jon Jones, por exemplo que é algo que vai acontecer, todo mundo gostaria de ver. Pode surpreender com a parte de pé. Jon Jones é um cara que gosta de testar, vai querar testar essa parte de pé do Poatan, ver qual é que é. Jon Jones é malaco, mas o Poatan também, ele tem a maldade da luta, que a gente precisa ter”, completa.
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