Xadrez: investigação aponta que Hans Niemann ‘provavelmente trapaceou’ em mais de 100 jogos online

Relatório de 72 páginas foi divulgado nesta terça-feira pelo ‘chess.com’, um dos principais sites de torneios na web; enxadrista americano não se manifestou

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Por Redação
Atualização:

Uma investigação do chess.com, um dos principais sites de torneios de xadrez online, apontou que o americano Hans Niemann, “provavelmente trapaceou” em mais de 100 partidas na plataforma, inclusive em eventos com premiação em dinheiro. Ao mesmo tempo, o relatório de 72 páginas divulgado nesta terça-feira diz que não foi possível encontrar “evidências estatísticas concretas” de que o enxadrista de 19 anos tenha trapaceado em duelos pessoalmente. Ele ainda não se manifestou sobre o resultado das investigações.

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“Acreditamos que Hans é um jogador incrivelmente forte e um indivíduo talentoso. Dito isso, dado o seu histórico em nosso site, não acreditávamos que poderíamos garantir que ele jogaria de forma justa em nossos eventos online até que pudéssemos reavaliar as evidências e nossos protocolos. No entanto, e para ser claro, não é nossa posição que Hans deveria ser limitado ou banido do xadrez on the board (pessoalmente)”, diz o relatório do site.

Niemann ganhou notoriedade no início de setembro, após derrotar o norueguês Magnus Carlsen, campeão mundial desde 2013, no prestigiado torneio Sinquefield Cup 2022, em St. Louis, nos Estados Unidos. O grão-mestre de 31 anos insinuou que o novato trapaceou para obter sua vitória, abandonando o torneio três dias após o duelo. Cerca de duas semanas depois, Carlsen abandonou um segundo confronto com Niemann, desta vez online, pela sexta rodada da Julius Baer Generations Cup, da etapa de Meltwater na Turnê dos Campeões. A desistência se deu com apenas dois movimentos no tabuleiro.

Magnus Carlsen (esq.) e Hans Niemann se enfrentaram pessoalmente no torneio de St. Lous.  Foto: Crystal Fuller/Saint Louis Chess Club

A atitude Carlsen foi vista como um ato de protesto e colocou em xeque a idoneidade de Niemann. O assunto reverberou com força na comunidade do xadrez, com diversas teses de como o jovem teria burlado as regras para superar o norueguês em St Louis. Entre as especulações mais absurdas, a que mais chamou atenção dos fãs do esporte milenar ao redor do mundo foi a de que o novato teria usado um sex toy no reto para receber informações através de código morse. Nada disso foi comprovado, no entanto.

Ao comentar a vitória sobre Carlsen, que quebrou uma sequência de 53 vitórias do adversário, Niemann disse ter descoberto os primeiros movimentos do norueguês por um “milagre”. As suspeitas aumentaram quando ele confessou que trapaceou em torneios online quando era adolescente, mas nunca em partidas envolvendo premiações em dinheiro e rechaçou ter usado de artifícios proibidos para vencer jogos. Ele nega todas as especulações.

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“Se eles quiserem que eu fique totalmente nu, eu fico. Eu não me importo. Porque eu sei que estou limpo. Você quer que eu jogue em uma caixa fechada com transmissão eletrônica zero, eu não me importo. Estou aqui para vencer e esse é o meu objetivo”, disse Niemann ao jornal inglês de The Guardian na ocasião.

Na última semana, Magnus Carlsen se pronunciou oficialmente sobre a polêmica. Em carta aberta, o campeão mundial reafirmou as denúncias contra Niemann e pediu mudanças urgentes no xadrez para evitar novas trapaças. O grão-mestre disse ainda acreditar que o rival trapaceou de maneira ainda mais incisiva por reiteradas vezes. “Acredito que trapacear no xadrez é um grande problema e uma ameaça existencial ao jogo”, escreveu.

Segundo o chess.com, a trapaça online envolveria conectar o computador a um software capaz de jogar no mais alto nível do que qualquer ser humano foi capaz de atingir. “A maioria dos mecanismos de xadrez usa redes neurais que foram treinadas em milhões de jogos de xadrez de alto nível para capturar o mais profundo entendimento estratégico do xadrez. Eles também têm um cálculo tático quase infalível, pois podem analisar mais de 40 movimentos profundos na posição e calcular os resultados potenciais”, diz o relatório.

A Federação Internacional de Xadrez também pediu uma investigação sobre o caso.

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