Zhiying Zeng, ou Tia Tania, chegou a vencer o primeiro set no tênis de mesa contra a libanesa Mariana Sahakian, na estreia nos Jogos Olímpicos de Paris. Mas a adversária foi soberana e venceu a partida por 4 sets a 1. Representante do Chile, aos 58 anos, Zeng realizou, mesmo na derrota, um sonho que havia sido guardado há quase quatro décadas.
A mesa-tenista nasceu Guangzhou, na China, em 1966 e começou a praticar o esporte aos nove anos com incentivo da mãe, que era treinadora. Aos 12, Zeng já disputava partidas profissionais. Quatro anos depois, veio a primeira convocação para a seleção chinesa.
A carreira da atleta teve uma virada em 1986, quando foi aplicada a regra que determinava cores diferentes para os lados da raquete. Para Zeng, isso a prejudicou, já que uma de suas estratégias era confundir oponentes com batidas de diferentes efeitos, com uma rotação pouco perceptível do equipamento. “A mudança de regras afetou muito meu jogo. Foi quando tive um declínio e deixei a seleção”, relembrou Zeng à CNN norte-americana. Dois anos depois, em 1988, o tênis de mesa entrou no programa olímpico, nos Jogos de Seul.
A piora no desempenho foi a deixa para que ela mudasse a direção de sua carreira. Em 1989, a atleta recebeu um convite para ensinar tênis de mesa em uma escola na cidade de Arica, no norte do Chile. O país sul-americano é sua casa há 35 anos. Foram 14 na função de treinadora, sem jogar profissionalmente
Em 2003, Zeng retomou a prática do esporte para incentivar o filho de 13 anos, como a mãe fez com ela. De incentivadora, ela voltou a ser atleta. Entre 2004 e 2005, ela conquistou dois títulos nacionais, mas logo parou novamente, sob argumento de que o filho já tinha idade para treinar e disputar torneios sem ela.
Pandemia ‘obrigou’ Zeng a se aproximar mais uma vez da raquete
Foi no período de isolamento social causado pela pandemia de covid-19 que ela voltou a pegar a raquete. Vieram as vacinas e a retomada da vida normal, mas ela não queria mais largar o tênis de mesa. “Quando foi possível sair, eu imediatamente quis jogar contra alguém para ver meu nível e se eu ainda poderia competir ou não”, conta.
A realidade já era outra em relação ao período em que ela trabalhava na escola em Arica. Agora, Zeng vivia em Iquique e era proprietária de uma loja de móveis. Em contato com a federação local, ela recebeu a resposta de que poderia, sim, competir.
Em 2022, a Federação Chilena de Tênis de Mesa motava a seleção para o Campeonato Sul-Americano de 2023. Cética de que ainda teria este nível, Zeng inscreveu-se mesmo assim. Ela não só foi chamada como conquistou o título por equipe.
A terceira empreitada no esporte era diferente. Zeng foi para Santiago na disputa dos Jogos Pan-Americanos de 2023. Na estreia, perdeu os dois primeiros sets, mas conseguiu uma virada para vencer por 4 sets a 2. Em casa, a torcida chilena a adotou como estrela. Foi quando nasceu o apelido “Tia Tania”, criado pelos fãs. Novamente veio o pódio na disputa por equipes. Desta vez, no bronze.
O pré-olímpico que definiu a vaga em Paris aconteceu em Lima, no Peru, no mês de maio. Tia Tania não dormiu na noite anterior, mas viveu o sonho quando fez o match point. Na China, pai, de 92 anos, e o irmão assistiram à partida às 5h. “Meu pai pôde ver sua filha classificar para os Jogos Olímpicos. Ele costumava me levar a treinos e partidas quando eu era menina. Agora, eu consegui. Eu consegui”.
Na França, ela reencontrou uma antiga amiga, com quem treinava na infância, Ni Xia Lian. Ela joga por Luxemburgo, aos 61 anos. A própria adversária de Zeng, Mariana Sahakian já não é mais novata, aos 46 anos.
Tia Tania não precisa sentir que voltou à juventude. Como quem gira a raquete para confundir adversários, ela acredita em recomeços. “Foi uma experiência única. Competições são assim. Ganha e perde. Tem que se tomar como positivo. Há muitos campeonatos no futuro”, avaliou.
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