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Vídeo exagera número de mortes registradas no Rio Grande do Sul e repete boatos sobre tragédia

Canal no YouTube revive afirmações falsas, já desmentidas pelo ‘Verifica’; autor disse que publicação foi um ‘react’ a vídeos recebidos

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Atualização:

O que estão compartilhando: que 300 mil pessoas morreram na tragédia climática no Rio Grande do Sul no mês passado.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Segundo dados da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, o número de mortes causadas pelas enchentes é 176. Para chegar ao número falso de 300 mil, o vídeo se apoia em boatos já desmentidos pelo Verifica, como o de que comportas de barragens foram abertas propositalmente para provocar as inundações e de que centenas de corpos estavam armazenados em frigoríficos em Canoas.

Procurado, o responsável pelo vídeo respondeu ao Verifica que a peça é um “react”, um tipo de conteúdo em que o autor reage a outros vídeos.

Homem reage a vídeos com boatos sobre tragédia climática no RS que já foram desmentidos. Foto: Reprodução/YouTube

Saiba mais: O vídeo compartilhado no YouTube divulga uma série de afirmações falsas sobre a tragédia climática no Rio Grande do Sul. O título é “ACABOU DE MORR3R 300 MIL? Olha isso ANTES QUE DERRUB3M ESSE VÍDEO! A VERDADE apareceu sobre o RS!”. Na filmagem, o autor da postagem afirma: “Já tem um documento que oscila entre 100 mil a 150 mil casas destruídas no Rio Grande do Sul. Se considerarmos três pessoas em cada casa, são mais de 300 mil pessoas afetadas. Onde estão todas essas pessoas?”.

De fato, a Confederação Nacional de Municípios estima que 101 mil casas foram destruídas ou danificadas pelas chuvas. Mas isso não quer dizer que todas as pessoas que moravam nelas foram mortas. De acordo com o balanço oficial mais recente da Defesa Civil e do governo gaúcho, até o dia 14 de junho 176 óbitos foram confirmados. Além disso, 422.753 estavam desalojadas e 39 desaparecidas naquela data.

Ao Verifica, o Corpo de Bombeiros do Estado informou que todos os dados verdadeiros sobre o número de vítimas são divulgados pelo balanço da Defesa Civil e governo do Estado. “As forças de segurança estão trabalhando em conjunto para resgates de corpos. O compilado de dados é fornecido apenas pela Defesa Civil”, disse.

O autor da postagem no YouTube afirmou à reportagem que fez um “react” de conteúdos recebidos por ele. Ele exibe diferentes vídeos de pessoas que falam sobre um número de mortos maior do que a realidade e mentem sobre a real causa do desastre climático. Confira abaixo:

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Vídeo ignora estatísticas e afirma falsamente que ‘300 mil pessoas sumiram’

Nesse vídeo, um homem repete o discurso sobre 100 mil casas destruídas e 300 mil pessoas que teriam “sumido”. Como mostrou o Verifica, essa afirmação ignora que há pessoas que foram colocadas em abrigos e outras que foram acolhidas em casas de parentes e amigos. Nas estatísticas oficiais, essas situações são descritas como o número de “desabrigados” e de “desalojados”, respectivamente. No boletim mais recente, o governo informou que havia 10.793 desabrigados e 422.753 desalojados.

É falso que caminhão com frigorífico estava repleto de corpos em Canoas

Também é falso o áudio em que uma mulher afirma que estão congelando corpos em câmaras frigoríficas no bairro Mathias Velho, em Canoas. O Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul negou a prática. No vídeo, junto do áudio é exibida a imagem de uma carreta estacionada. Não se trata de um caminhão frigorífico, nem da cidade de Canoas. Na realidade, a foto é de Lajeado, a cerca de 100 km de distância.

É falso que comportas foram abertas de propósito e causaram enchentes

Desde o início das fortes chuvas, boatos de que o governo abriu propositalmente comportas de barragens se espalham nas redes sociais. As postagens tentam esconder as causas climáticas por trás do desastre ambiental.

Não há qualquer evidência que a abertura de barragens tenha provocado as cheias no Estado. O alto volume de chuvas no Sul foi provocado por uma massa de ar frio que veio da Argentina e estacionou sobre o Estado, por causa de uma massa de ar seco que pairou no centro do Brasil. Esse bloqueio impediu a passagem da massa de ar fria, fazendo com que a região sofresse com fortes chuvas, que fizeram grandes rios da região registrarem cheias históricas.

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Especialistas também apontam outros fatores que contribuíram para o desastre, como a localização do Estado, situada no encontro entre sistemas polares e tropicais, o El Niño e as mudanças climáticas.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou anteriormente ao Verifica que existem 125 usinas hidrelétricas no Rio Grande do Sul, com 143 barragens. Das 125 usinas, apenas quatro possuem reservatório com capacidade de regularização do fluxo de água dos rios: são as usinas hidrelétricas Passo Fundo, Passo Real, Barra Grande e Machadinho.

Todas as outras são usinas do tipo “fio d’água”, que operam apenas com o fluxo natural dos rios. A Aneel explica que essas usinas não possuem capacidade de armazenar e regular água de cheias, por isso a abertura de suas comportas não pode agravar casos como o que está ocorrendo no Rio Grande do Sul.

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