Voltou a circular um boato que diz que 7,2 milhões de votos teriam sido anulados de pelas urnas eletrônicas. Esse conteúdo viralizou em 2018 e dizia que representavam "6,2% do total", pedindo uma explicação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na realidade, os votos podem ser anulados por erro ou vontade consciente do eleitor e não representam irregularidades.
O TSE disponibiliza os dados da apuração. No primeiro turno, em 2018, as urnas contabilizaram 7.206.222 de votos nulos (6,14%) e 3.106.937 de votos brancos (2,65%).
O voto em branco ocorre quando o eleitor pressiona o botão "branco" na urna e depois confirma. Já o voto nulo é quando o eleitor digita uma sequência de números que não corresponde a nenhum partido ou candidato, e depois confirma. Isso pode ocorrer por erro do eleitor ou de maneira consciente para não dar voto a nenhum candidato. Em ambos os casos, eles não beneficiam nenhum candidato ou partido.
Como exemplo, o Estadão Verifica consultou o registro digital do voto da urna na seção eleitoral 0001 da zona 0001 na cidade de São Paulo - este tipo de registro está disponível publicamente no aplicativo de resultados da Justiça Eleitoral. Para o cargo de deputado federal, a urna recebeu sete votos em branco e seis nulos. Destes, um foi com a sequência 000 e quatro 0000, além de um nulo com a sequência 6669. Ao consultar o site de candidaturas do TSE (DivulgaCand), é possível confirmar que não havia nenhum candidato com esse número para o Estado de São Paulo.
Com 100% das urnas apuradas, no primeiro turno de 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve 57,2 milhões de votos (48,43% dos votos válidos), ante 51 milhões (43,20%) recebidos pelo presidente Jair Bolsonaro. Foram 3,4 milhões de votos nulos (2,82% do total) e 1,9 milhão de votos em branco (1,59%).
Nas redes
Os comentários da publicação mostram que usuários acreditam na alegação enganosa e entendem se tratar do pleito atual. Um homem sugeriu que a Polícia Federal investigasse por que "anularam os votos do 22", citando o número de Jair Bolsonaro nas urnas este ano -- em 2018, ele usava o 17. Já outro usuário solicitou a intervenção das Forças Armadas, embora a competência para conduzir o processo eleitoral seja exclusividade da Justiça Eleitoral.
O post analisado pelo Estadão Verifica recebeu ao menos 4,3 mil curtidas no Instagram. Ele tem algumas características comuns a peças de desinformação. Ela pede o compartilhamento "para apenas 20 contatos", incentivando a viralização desse conteúdo. Também usa tom alarmista e mensagens em caixa alta, como "NÃO quebre essa corrente" e "os incautos precisam ser esclarecidos antes que seja tarde demais".
O Estadão Verifica já havia checado essa alegação em 2018 e 2021.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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