O que estão compartilhando: que vai “estourar uma bomba” relacionada a um depoimento de Adélio Bispo após hackers invadirem o sistema da Polícia Federal e que a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT, falou que está preocupada com a proteção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Publicações nas redes sociais resgatam boato antigo, já checado pelo Estadão Verifica. A Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica a Adélio Bispo de Oliveira, informou que o último depoimento dele foi prestado em 19 de agosto de 2019 e que não há novidades sobre o assunto. Além disso, a alegação do deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que vem sendo citada atualmente nas redes sociais, é de fevereiro do ano passado, quando foi desmentida. Já a fala de Gleisi mencionada nas postagens é de 2019.
Saiba mais: Em vídeo que soma 2,8 mil compartilhamentos no Facebook, um homem afirma, em tom de urgência, que uma bomba anunciada por Gustavo Gayer ”vai estourar”. Sobre as imagens foi acrescentada uma legenda com a data 22/07/2023. Conforme o autor do conteúdo, um grupo de hackers invadiu o sistema da Polícia Federal e conseguiu acesso ao depoimento de Adélio Bispo, que cumpre medida de segurança pelo esfaqueamento de Jair Bolsonaro (PL), em 2018. Ele acrescenta que, neste contexto, Gleisi Hoffmann falou que está preocupada com a proteção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A postagem resgata um boato desmentido em fevereiro do ano passado pelo Estadão Verifica e por outras iniciativas de checagem (Aos Fatos, Lupa).
Gustavo Gayer ainda não era deputado quando gravou um vídeo de sete minutos citando um texto publicado pelo Terra Brasil Notícias, em fevereiro de 2022, com o título: “URGENTE: Segundo Anonymous, em novo depoimento Adélio Bispo abre o jogo sobre facada em Bolsonaro e diz que o PT o contratou em 2018″. À época, a Polícia Federal negou que Adélio Bispo tivesse sido novamente interrogado sobre o crime.
Agora, ao Verifica, a PF preferiu não comentar o caso, mas a DPU, que presta assistência jurídica a Adélio Bispo informou não ter sido notificada para acompanhar qualquer depoimento e que não tem conhecimento de qualquer investigação aberta que envolva diretamente o agressor de Bolsonaro. Ainda de acordo com o órgão, o último depoimento de Adélio foi prestado no dia 19 de agosto de 2019 e não há novidades sobre o assunto.
Como explicado pelo Verifica em 2022, a primeira menção a um novo suposto depoimento foi feita pelo perfil @AnonNovidades, em 12 de fevereiro. A página, que havia sido criada em 2020 e se dizia parte do grupo de ativistas Anonymous, não informava qual seria a fonte desta alegação. A página está fora do ar por violar as diretrizes do Twitter.
Já o blog Terra Brasil Notícias apagou o conteúdo construído a partir do tuíte e publicou outro texto, informando que a Polícia Federal negou que o depoimento tivesse ocorrido.
O vídeo de Gayer não consta mais nas redes sociais dele, embora ainda possa ser acessado em outras contas direitistas. A referência à fala de Gleisi Hoffmann, que aparece nas postagens atuais, havia sido feita por ele naquele momento, porém já estava fora de contexto. À época, Gayer mostrava um vídeo da presidente do PT afirmando que temia pela vida de Lula, mas não informava que o conteúdo havia sido gravado quatro anos antes, em 30 de outubro de 2018, durante entrevista coletiva do partido, que está disponível na página da AFP, no YouTube.
Caso de Adélio Bispo
Adélio foi considerado inimputável, ou seja, incapaz de responder pelo crime por sofrer distúrbios psicológicos. Ele cumpre medida de segurança na penitenciária federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, por tempo indeterminado. Na última segunda, 24, ele passou por uma nova perícia médica e os laudos dos exames devem ser divulgados em até 30 dias.
Em 2018, a PF finalizou o primeiro inquérito que investigou o ataque e concluiu que ele atuou sozinho no dia do crime, motivado pelo “inconformismo político”.
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Em 2022, foi concluído o relatório final da segunda investigação aberta, quando o delegado Rodrigo Morais Fernandes descartou a participação de agremiações partidárias, facções criminosas, grupos terroristas ou paramilitares. Fernandes afirmou ter ficado demonstrado que Adélio Bispo agiu sozinho.
Conforme o delegado, a única lacuna deixada pelas investigações foi quanto à “dúvida razoável acerca do real interesse dos advogados” de Adélio. Por isso, foram feitas buscas no escritório do advogado Zanone Júnior. A PF quer saber se alguém pagou pelos honorários dele ou se ele assumiu a defesa pela visibilidade do caso. Contudo, à época, uma decisão liminar de um desembargador do 1º Tribunal Regional Federal (TRF-1) impediu a análise do material coletado.
Em novembro de 2021, a Segunda Seção do TRF-1, em Brasília, derrubou a decisão liminar, permitindo que a investigação fosse reaberta. Em abril deste ano, o Estadão divulgou que a apuração teria identificado operações financeiras de uma empresa em nome de um dos advogados com o crime organizado.
A PF não quis informar se agora, em julho, a investigação ainda está em andamento. Já a DPU disse não ter conhecimento de qualquer investigação aberta que envolva diretamente Adélio Bispo.
O autor do vídeo foi procurado via Kwai, onde o conteúdo foi originalmente postado. Ele chegou a falar com a reportagem, mas não respondeu às perguntas enviadas até o momento.
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