O que estão compartilhando: que Adélio Bispo, autor de um ataque a faca contra Jair Bolsonaro, em 2018, confessou a ligação do crime com os partidos PT, Psol e MDB e pessoas ligadas a eles.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A imagem que acompanha a peça desinformativa é o vídeo de um depoimento gravado de Adélio publicado pela revista Veja, em 2020. Na ocasião, ele não confessou nenhum envolvimento de políticos. Em dois inquéritos, a Polícia Federal descartou o envolvimento de partidos no atentado.
Saiba mais: conteúdos falsos sobre o episódio do atentado a faca em Jair Bolsonaro voltaram a circular nas redes sociais. Novas mensagens e vídeos afirmam que o crime aconteceu a mando da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. As peças também dizem que a ex-deputada federal Manuela D’Ávila foi quem organizou o ataque e que um “ex-deputado Glauber Rocha”, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi quem indicou Adélio para a realização do crime.
As publicações resgatam boatos que já foram desmentidos anteriormente. Além disso, a imagem que é usada nas postagens não é recente e é um recorte de um depoimento de Adélio Bispo à Justiça que foi publicado pela revista Veja, em 2020. No vídeo, o autor da facada não faz referência a nenhuma das afirmações que estão sendo disseminadas nas redes sociais. Durante o depoimento em questão, Adélio conta que tomou a decisão de cometer o atentado contra Jair Bolsonaro por motivos “políticos e religiosos” e diz ainda que “tinha interesse” em atacar o ex-presidente Michel Temer.
Adélio foi considerado inimputável, o que quer dizer que é considerado incapaz de responder pelo crime por sofrer distúrbios psicológicos. Ele cumpre medida de segurança na penitenciária federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, por tempo indeterminado.
Adélio não prestou novo depoimento; dois inquéritos da PF concluíram que ele agiu sozinho
Não houve um suposto novo depoimento de Adélio. Em nota, a Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica a Adélio, informou que “não tem conhecimento, até o momento, de investigação aberta sobre o caso que envolva diretamente o Sr. Adélio Bispo, nem qualquer novidade sobre o caso”. O último depoimento dele aconteceu em 19 de agosto de 2019.
Em 2018, a Polícia Federal (PF) finalizou o primeiro inquérito sobre o caso que concluiu que Adélio agiu sozinho por “inconformismo político”. Em 2020, a PF concluiu um segundo inquérito sobre o caso que descartou a hipótese de que o crime tivesse ligação com “agremiações partidárias, facções criminosas, grupos terroristas ou paramilitares”.
Em 2021, uma nova investigação foi aberta para apurar se o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que defendeu Adélio na época do crime, foi pago ou assumiu o caso para ganhar visibilidade. Em abril deste ano, foi revelado um novo rumo na investigação. Agora, a PF passou a apurar operações financeiras suspeitas entre acusados de integrar a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para a empresa do advogado Fernando Costa Oliveira Magalhães, que também representou Adélio. A investigação está em andamento.
Desinformação sobre Manuela D’Ávila foi desmentida pela PF
A ex-deputada federal Manuela D’Ávila, candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT), em 2018, foi alvo de boatos que alegavam uma suposta relação dela com o agressor. As mensagens falsas disseminadas na internet afirmavam que a Polícia Federal teria quebrado o sigilo telefônico de Adélio e encontrado diversas ligações de Manuela. O boato foi desmentido pela corporação.
No relatório do inquérito finalizado em 2020, a PF ressaltou que uma ligações telefônicas entre Adélio, Manuela e outras figuras políticas “definitivamente nunca existiram, assim como nenhuma outra ligação, feita ou recebida, de agentes políticos ou de qualquer outra pessoa com possíveis interesses ou motivações para atentar contra a vida do (então) Presidente da República Jair Messias Bolsonaro.”
É falso que PT contratou Adélio
Outros nomes que faziam oposição a Jair Bolsonaro continuam sendo falsamente ligados ao episódio da facada. O Estadão Verifica também já desmentiu anteriormente que Adélio tenha tirado foto com Gleisi em 2018 e que José Dirceu admitiu que a facada foi ordenada pelo PT. Também mostramos ser falso que ele tenha confessado que o ministro da Economia, Fernando Haddad, teria sido o mandante do crime.
Como lidar com postagens do tipo: É comum que casos de grande repercussão nacional sejam alvos de notícias falsas. Em casos assim, uma busca em portais de notícias confiáveis ou fontes oficiais pode ajudar a evitar espalhar desinformação. O Projeto Comprova já mostrou o que é verdade e o que é falso sobre a facada em Bolsonaro em 2018.
O boato foi compartilhado no TikTok e até a publicação dessa checagem contava com 2.225 curtidas e 1.677 compartilhamentos. No Instagram, o post atingiu 6.030 visualizações. Leitores também pediram a checagem desse conteúdo pelo WhatsApp através do (11) 97683-7490.
Esse conteúdo também foi checado por UOL Confere e Terra.
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