Agentes da PRF não saquearam carga de cerveja após acidente com caminhão em Santa Catarina

Vídeo mostra policiais recolhendo parte da carga para interromper saque que já acontecia; mercadoria foi levada para pátio de guincho conveniado e colocada à disposição da seguradora

PUBLICIDADE

Foto do author Clarissa Pacheco

É falso que policiais rodoviários federais tenham saqueado uma carga de cerveja na BR-470, no Alto Vale Itajaí, em Santa Catarina, no dia 27 de dezembro do ano passado. Um vídeo feito no local do acidente, o quilômetro 185 da rodovia, na altura do município de Pouso Redondo, mostra o momento em que policiais pegam fardos de cerveja na beira da rodovia e os colocam na carroceria de uma viatura. Os policiais recolhiam o produto para interromper o saque por parte de populares que levaram a cerveja antes mesmo do resgate do motorista, que acabou morrendo no local.

 Foto: Reprodução

PUBLICIDADE

O acidente aconteceu na madrugada do dia 27 de dezembro. O motorista Leandro La Roque Dornelles, 49 anos, conduzia um caminhão da empresa Rigon Transportes carregado de cerveja. Ele ia de Veranópolis (RS) para Blumenau (SC), mas perdeu o controle do veículo em uma curva no km 185 da BR-470 e acabou arremessado para fora do caminhão. Leandro morreu no local, e pessoas começaram a saquear a carga antes mesmo da chegada do resgate. Foi quando os policiais que aparecem na imagem chegaram ao local e recolheram, com a ajuda do Corpo de Bombeiros, parte da carga, na tentativa de interromper o saque.

Em nota, a PRF em Santa Catarina negou que os policiais estivessem saqueando a carga: “Ao chegar no local do acidente, os policiais INTERROMPERAM o saque que estava sendo feito por populares. Para SALVAR parte da carga que ainda estava intacta, com apoio de bombeiros militares, os agentes a colocaram na viatura da PRF, assim como também no veículo do guincho conveniado. A medida foi tomada para DESESTIMULAR QUE O SAQUE RECOMEÇASSE após a saída da equipe do local”, diz a nota.

O operador do guincho que recolheu a carga confirmou que a PRF retirou o material do local para interromper o saque, assim como a empresa Rigon Transportes, dona do produto. Segundo a transportadora, quase toda a carga foi saqueada, e o que a PRF conseguiu salvar foi levado ao pátio do guincho conveniado. Como a carga tinha seguro, a transportadora não foi buscar o que foi salvo e não sabe dizer o que a seguradora decidiu fazer com o produto.

Publicidade

Quem fez o vídeo?

A PRF em Santa Catarina informou ao Estadão Verifica que não conseguiu identificar os autores do vídeo que viralizou, mas acredita que as imagens tenham sido feitas pelos próprios saqueadores, numa tentativa de jogar a opinião pública contra os policiais. “A PRF lamenta profundamente que algumas pessoas tenham, de forma maldosa, espalhado versões falsas em redes sociais, tentando desabonar a conduta dos policiais envolvidos na ocorrência”, diz a nota.

No início do vídeo, e possível ouvir quando um dos homes que filma os policiais pergunta ao outro: “Será que ele queria minhas três caixinhas também, cara?”. Uma segunda voz questiona: “É 20 pila cada uma, aquelas tuas ali (sic)?”, provavelmente se referindo ao preço pelo qual seria vendida cada uma das caixas de cerveja. Em seguida, um dos homens pergunta por uma pessoa, e o outro responde: “Foi pro mato”.

Guincho foi ao local recolher carga

Aos 20 segundos de vídeo, é possível ver quando um dos policiais assobia em direção ao caminhão acidentado e fala: “Tem que liberar o guincho pra cá”. O guincho não chega a aparecer no vídeo viral, mas ele se refere à empresa ITU Guinchos, sediada em Rio do Sul (SC), e que tem um contrato há dois anos com a PRF para atuar em situações como a do acidente. Funcionários do guincho aparecem em fotos divulgadas pela PRF, ao lado de um carro da empresa, além da viatura, onde foram colocadas algumas caixas de cerveja.

Imagens do local do acidente mostram caixas de cerveja em carroceria de viatura da PRF e funcionários de guincho atuando na ocorrência ao lado de veículo da empresa Foto: Divulgação

De acordo com o operador do guincho que estava no local no dia do acidente, Jairo Gevaerd, a empresa foi acionada para limpar o trecho da rodovia onde o caminhão tombou, recolher a carga remanescente e levá-la para o pátio, onde a carga fica guardada à disposição dos donos da mercadoria. Foram os funcionários do guincho que auxiliaram na retirada do corpo do motorista do local até o carro da perícia.

Publicidade

“Houve o derramamento da carga onde o caminhão tombou. Ele deitou e a carga ficou lá no local do acidente. Ali onde os policiais estão dá uma distância de 70 até 100 metros do caminhão, tem carga amassada, suja de lama. O policial não estaria saqueando a carga assim. Se ele tivesse a intenção de saquear, ele pegaria a carga intacta. O que eles fizeram foi interromper o saque”, disse Jairo.

Segundo ele, além de recolher a carga remanescente, os funcionários do guincho também acionaram um representante da empresa que iria receber a carga de cerveja, Eles pediram ainda que a PRF chamasse a seguradora para inspecionar o material, fazer a contagem e o lacre da carga. “O rapaz da empresa que comprou esteve lá no local do acidente e ficou abismado com o tamanho da brutalidade: era mulher grávida, senhor de idade descalço. Eram dois policiais tentando impedir o saque e mais de 100 pessoas saqueando. O vídeo não passa de uma crítica maldosa contra quem tá trabalhando para impedir o crime”, afirmou Jairo.

Ele acrescentou que saques de carga são comuns naquele ponto da rodovia. “É hábito o pessoal arrombar os contêineres de carne com machado. Às vezes, o caminhão nem tomba, o caminhão quebra naquele trajeto, o motorista fica esperando o auxílio de guincho, o pessoal rompe o lacre e leva a carga”, completa.

Em entrevista ao site NSC Total, o chefe de comunicação da PRF em Santa Catarina, Adriano Fiamoncini, disse que atender a uma ocorrência de saque de carga é uma das situações mais difíceis enfrentadas por um agente, e declarou que há um grupo organizado que chega ao local minutos após os acidentes, inclusive em carros de luxo. “Temos que lidar com uma turba enlouquecida que atua sem razão ou argumento”, disse.

Publicidade

Transportadora confirma atuação da PRF

A carga de cerveja levada pelo motorista Leandro Dornelles era de responsabilidade da empresa Rigon Transportes, com sede em Nova Prata (RS). O Verifica entrou em contato com a transportadora, que confirmou ser a dona da carga e ratificou a versão da PRF e da empresa ITU Guinchos.

“A carga foi toda saqueada. A mercadoria que a PRF e o Guincho retirou do local, colocaram à disposição da seguradora. Não temos informação do que foi feito”, informou um representante da Rigon, que disse não ser mais responsável por recuperar ou não a carga saqueada.

De acordo com o operador do guincho que trabalhou no dia do acidente, foram recolhidas para o pátio da ITU Guinchos 128 caixas de cerveja, com 12 latas cada, entre embalagens fechadas e latas soltas. O material foi embalado na presença de um perito de segurança e segue no pátio aguardando por uma decisão da seguradora.

Carga recolhida pela PRF e pela ITU Guinchos foi levada para pátio da empresa, inspecionada e lacrada; agora, está à disposição da seguradora Foto: Divulgação
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.