O que estão compartilhando: que a fruta nêspera (também conhecida como ameixa amarela) serve de remédio natural para tratar colesterol LDL, diabetes e para evitar enfartes.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não é bem assim. Apesar de ter propriedades antioxidantes e ser rica em vitaminas, a nêspera não pode ser considerada um tratamento para diabetes, controle de colesterol ou preventivo de enfartes.
De acordo com a nutricionista Valéria Machado, da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), casos de doenças cardiovasculares, pressão alta, colesterol alto e diabetes precisam ser assistidos por especialistas.
“Esses remédios naturais não devem ser utilizados de forma substituta de medicamentos, que possuem grandes estudos e grandes bases científicas”, destaca a nutricionista. “Então é importante que tomemos muito cuidado ao propagar este tipo de ciência, em dizer que isso [um remédio natural] pode ser substituto de um tratamento mais sério para o paciente”, afirma.
Saiba mais: Estudos têm mostrado que os principais efeitos da nêspera são o antidiarréico, ação hipoglicemiante, propriedade anti-inflamatória e antioxidante. “Isso devido a muitos nutrientes presentes nesse fruto”, completa Machado.
A nutricionista detalha que o teor de fibras da ameixa amarela também ajuda a regular o intestino e facilitar a digestão. A fruta também contém compostos vegetais repletos de propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que trazem benefícios à saúde.
Além disso, é rica em vitamina A, potássio, manganês, vitamina B6, vitamina B9 e magnésio. “E minerais como o potássio e o magnésio, por exemplo, são essenciais para regular a pressão arterial e garantir a saúde do coração”, afirma a especialista. “Mas lembramos que nenhum alimento pode ser substituído pelo controle medicamentoso da pressão arterial, prescrita pelo médico”, enfatiza.
Quanto ao controle do colesterol, Machado explica que a nêspera pode sim auxiliar na redução do LDL (considerado o “colesterol ruim”, por formar placas de gordura quando em grandes quantidades). “Mas dependendo dos valores desse LDL, o paciente necessita de medicamento, junto com uma alimentação adequada e balanceada”, afirma.
Por fim, em quadros de diabetes, a nutricionista destaca novamente que nenhum remédio natural substitui a medicação prescrita. Precisamos “consultar um médico e organizar a alimentação junto ao nutricionista para organizar essa glicemia alterada”, finaliza.
O Estadão Verifica tentou contato com a página que postou o conteúdo, mas não obteve resposta.
Como lidar com postagens do tipo: É recomendável cautela antes de acreditar em “alimentos milagrosos”. Para a coordenadora do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBN), Tarcila Campos, uma alimentação natural é sempre bem-vinda, mas não pode ser encarada como substituição de medicação ou a única via a ser utilizada em tratamentos de saúde.
Campos lembra que o exagero no consumo de algumas ervas e compostos também pode ser tóxico para órgãos do corpo. “E como esses chás e essas substâncias são comercializadas sem uma posologia ideal, a gente não tem estudos de dose resposta”, explica.
”Fica aqui sempre a importância da alimentação mais natural possível, tudo em equilíbrio e, sempre que for utilizar algum alimento ou algum composto bioativo novo, converse com a sua equipe para fazer a melhor adaptação”, recomenda a nutricionista. “E não substitua sua medicação do dia a dia”.
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