É falso que autor de atentado em Brasília tenha sido morto a tiros por seguranças

Postagens alegam que Francisco Wanderley Luiz teria morrido baleado, mas versão é contestada por imagens de câmeras de vigilância, relatos de testemunhas e laudo pericial

PUBLICIDADE

Foto do author Gabriel Belic
Atualização:

O que estão compartilhando: que o autor do atentado em Brasília no último dia 13 foi morto por um segurança do local com um tiro. “O cara foi na estátua e soltou uns rojões, os seguranças mataram ele com um tiro e ele caiu no chão com um rojão aceso que ele segurava e explodiu (sic)”, afirma uma das postagens.

PUBLICIDADE

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Imagens das câmeras de segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) da última quarta-feira, 13, não mostram nenhum disparo contra Francisco Wanderley Luiz, conhecido como “Tiü França”, apontado como responsável pelo atentado na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Registros do circuito evidenciam que o catarinense de 59 anos morreu com um explosivo próximo ao seu corpo, enquanto estava deitado.

De acordo com o exame necroscópico feito por peritos médicos da Polícia Federal (PF), a causa da morte de Francisco foi traumatismo cranioencefálico, em decorrência da explosão de um dos artefatos carregados por ele. Relatos de testemunhas que estavam no local conferem com o que é mostrado nas imagens de segurança.

Leitores solicitaram checagem deste conteúdo pelo WhatsApp do Estadão Verifica, pelo número (11) 97683-7490.

Publicidade

Não há evidências de que autor de atentado em Brasília tenha sido morto a tiros Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: no dia 13 deste mês, a Praça dos Três Poderes foi isolada após uma sequência de explosões. Um corpo, identificado como o de Francisco Wanderley Luiz, foi encontrado nas proximidades do prédio do Supremo. O carro que explodiu no anexo IV da Câmara dos Deputados pertencia a ele.

Postagens virais têm espalhado que Tiü França, como era conhecido, foi morto por um segurança do local, após o disparo de um tiro. Segundo esses posts, ele teria caído no chão já sem vida. O artefato teria explodido pois havia sido acendido antes da queda. Essa versão, no entanto, é contestada pelas imagens do circuito de segurança do STF daquela noite, por relatos de testemunhas e pelo laudo pericial.

Imagens que flagraram atentado não mostram disparo

Registros capturados por câmeras do circuito de segurança do STF permitem visualizar que Francisco caminhava pela Praça dos Três Poderes com um guarda-chuva. Ele joga o que parece ser um tecido na estátua da Justiça, mas recua após ser abordado por um segurança. Depois, ele atira dois explosivos em direção ao Supremo. Em seguida, ele aparenta se deitar no chão com um artefato próximo ao corpo, que explode segundos depois. Veja abaixo.

Uma das postagens nas redes sociais alega que haveria um corte entre o lançamento do segundo artefato e a explosão que causou a morte de Francisco, na tentativa de “ocultar” o disparo de um dos agentes de segurança. A afirmação é falsa, já que imagens divulgadas pelo UOL, que mostram a marca temporal da gravação (veja no canto superior direito), e os números indicam que não houve corte do registro.

Publicidade

Laudo indica que causa da morte foi traumatismo cranioencefálico

Exames do Instituto Nacional de Criminalística (INC) apontam que o catarinense morreu por conta de um traumatismo cranioencefálico, causado pelo artefato detonado. Francisco sofreu uma fratura no lado direito do crânio e teve os dedos da mão direita amputados pela explosão. Os peritos concluíram que as regiões estavam próximas durante o estrondo, o que indica que Francisco provavelmente segurou o artefato com a mão direta próximo à cabeça. Veículos de imprensa que divulgaram a perícia não mencionam nenhum ferimento causado por disparo (veja aqui, aqui e aqui).

Relatos de testemunhas conferem com registros do ataque

Em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, o segurança do STF Natanael da Silva Camelo descreveu que Francisco explodiu dois artefatos e, em sequência, deitou-se no chão. O relato confere com o que é mostrado na gravação do circuito de segurança. “(Ele) acendeu o último artefato, colocou na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão”, afirmou.

Na última quinta-feira, 14, o ministro Alexandre Padilha afirmou ao UOL News que “está explícito” que não se trata de um caso de suicídio. “Quando você pega as imagens, chegou a sair uma primeira versão de que a pessoa tinha pegado a bomba, colocado debaixo da cabeça, chegou a ter um pronunciamento sobre isso, não nos órgãos de segurança. As imagens mostram claramente que não, que ele estava tirando os explosivos, tirando um, tirando o segundo, quando foi tirar o terceiro, aparentemente ele caiu e se feriu”, disse.

Neste domingo, 17, o programa Fantástico, da TV Globo, divulgou imagens inéditas do atentado, que mostram que Francisco quase atingiu um grupo de pessoas no ataque. Os registros divulgados anteriormente mostravam apenas a presença de seguranças do local. O novo ângulo permite ver que mais pessoas presenciaram o momento das explosões.

Publicidade

Testemunhas que estavam no local relataram à Globo uma versão similar ao que consta nas imagens de segurança. “E aí ele se deitou. Ele deitou, colocou do lado dele o explosivo e a gente ouviu o barulho. Eu me lembro chegando perto do carro, eu me abaixei para me proteger da bomba, de algo que poderia me atingir”, disse a advogada Patrícia Pita, que estava na rampa do STF durante o ataque.

Até o momento, não há relatos de testemunhas sobre disparos de tiro na ocasião. É possível conferir o relato de Patrícia e do marido Roberto Pita a partir do minuto 1:34 do vídeo abaixo.

Como lidar com postagens do tipo: o atentado ocorrido em Brasília neste mês é um assunto em evidência, amplamente noticiado pela imprensa. É importante confirmar alegações virais em fontes confiáveis antes de compartilhar uma postagem suspeita. Leia aqui a cobertura do Estadão sobre o caso.