O que estão compartilhando: que a Polícia Federal apreendeu no Porto de Santos 60 baús de medicamentos com bilhões de dólares, dinheiro do Brasil que vai para Cuba por meio do programa Mais Médicos e que volta ao País para financiar a guerrilha armada do PT.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O vídeo é antigo, circula na web pelo menos desde 2018 e mostra ativos localizados em Acra, capital de Gana. O dinheiro foi associado ao desvio de milhões de dólares após a morte do ditador líbio Muammar Kadafi, em 2011. A Cruz Vermelha afirmou que o logotipo da organização foi utilizado indevidamente nas caixas que aparecem nas imagens. Não há notícias de uma operação como a mostrada no vídeo realizada pela Polícia Federal no Brasil, nem de apreensão do tipo no Porto de Santos.
Saiba mais: Não é a primeira vez que as caixas com dinheiro são alvo de desinformação. O assunto já se espalhou no passado no Brasil, na Ucrânia, na Síria e na Espanha. Desta vez, o vídeo passou a circular no País com uma acusação grave e sem nenhuma prova: de que o dinheiro foi para Cuba pelo programa Mais Médicos e voltou ao Brasil para financiar uma “guerrilha armada do PT”.
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Dinheiro estava em Gana
Uma fotografia que mostra as caixas metálicas com o logotipo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (ICRC, na sigla em inglês) aparece em um relatório enviado por especialistas ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em junho de 2017. A Cruz Vermelha disse que o emblema foi usado indevidamente.
Segundo informou o Painel de Especialistas na Líbia ao Conselho de Segurança da ONU, as caixas eram mantidas nas instalações de uma suposta organização internacional de direitos humanos chamada Le Comité International pour la Protection des Droits de l’Homme (CIPDH).
Em tese, a organização era sediada na França. O país europeu, assim como a polícia de Gana, foram contatadas pelo Painel de Especialistas em Líbia, mas não responderam até o envio do relatório ao Conselho de Segurança. O documento tratava de diversos assuntos, incluindo o desaparecimento de milhões de dólares da Líbia após a morte do ditador Muammar Kadafi, em 2011.
Parte do dinheiro, de acordo com o relatório, estaria em caixas metálicas em Ouagadougou, em Burkina Faso. Outra parte estaria nas caixas com emblema do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, em Gana.
Cruz Vermelha nega envolvimento com dinheiro
Em um comunicado de janeiro de 2018, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha informou que o vídeo vinha aparecendo periodicamente nas redes sociais há dois anos e que o emblema nas caixas foi usado indevidamente. “O ICRC não tem absolutamente nada a ver com o armazenamento ou transporte de dinheiro alegado neste vídeo e nós condenamos veementemente o uso indevido do nosso nome e logotipo desta forma”, diz o comunicado.
O Comitê tratou o uso indevido como “um abuso perigoso do nome do ICRC e do significado e propósito específico do emblema da Cruz Vermelha, que é o sinal visível da proteção conferida pelas Convenções de Genebra às vítimas de conflitos armados”.
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