O que estão compartilhando: vídeo em que um suposto socorrista afirma que no bairro Mathias Velho, em Canoas, no Rio Grande do Sul, há mais de 20 mil pessoas desaparecidas que não estão em abrigos. Segundo ele, caminhões frigoríficos estariam circulando lotados de corpos. O homem também afirma que bombeiros estariam usando um produto descongestionante para disfarçar o odor da água.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Dados da Defesa Civil gaúcha sobre as enchentes, divulgados nesta terça-feira, 28, mostram que há 12 pessoas desaparecidas e 27 mortas em Canoas. Em todo Estado, o número de desaparecidos é 53 e o de mortos, 169.
Segundo a prefeitura de Canoas, mais de 11 mil pessoas estão em abrigos institucionais. Até a última contagem realizada na sexta-feira, 24, outras 87.456 estavam em acolhimentos voluntários, como casas de parentes e amigos.
O Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP-RS) informou que não há e nunca houve armazenamento de corpos em caminhões frigoríficos. O Corpo de Bombeiros do Estado negou que o uso de Vick Vaporub seja uma técnica adotada pela corporação para lidar com o odor da água.
O rapaz que aparece no vídeo não é socorrista. Em vídeos publicados nas redes sociais, ele se identifica como um voluntário que veio de São Paulo e se apresenta como skatista e produtor de vídeos. Ele foi procurado, mas não respondeu.
Saiba mais: O vídeo verificado circula nas redes sociais há pouco mais de uma semana. Postagens identificam o rapaz que aparece nas imagens como “socorrista Cleber Nagib”, mas o nome e a profissão estão incorretos (leia mais abaixo).
Ele afirma que o bairro Mathias Velho, um dos mais atingidos pelas enchentes, teria mais de 70 mil habitantes e que mais de 20 mil pessoas estariam desaparecidas. Mas isso é falso. De acordo com a prefeitura de Canoas, o bairro tem cerca de 42 mil habitantes. Em toda a cidade, o número de desparecidos é 12. De acordo com o último balanço divulgado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul sobre as consequências das enchentes, há 581.638 pessoas desalojadas, 48.789 em abrigos e 2.345.400 afetados em todo o Estado.
Conforme mostrou o Verifica em outra checagem, há uma diferença entre os termos “desalojado” e “desabrigado”. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social do RS (Sedes), desabrigados são aqueles que saíram de suas casas e estão instalados em abrigos. Os desalojados, por sua vez, são pessoas que tiveram que deixar suas residências e estão em outros locais, como casa de familiares, amigos ou conhecidos.
Autor do vídeo não é socorrista
Ao contrário do que alega a postagem falsa, o autor do vídeo não se chama Cleber Nagib, nem atua como socorrista . A gravação foi publicada originalmente nas redes sociais de um rapaz chamado Lucas Santos. Ele afirma que esteve no Rio Grande do Sul como voluntário e, no TikTok, postou esse e outros vídeos sobre a tragédia climática. No perfil, se apresenta como skatista e produtor de vídeos.
Em vídeo publicado no Instagram da rede de hotéis onde Lucas ficou hospedado, na cidade de Gramado, ele diz ter ido ao Estado com um grupo de resgate para doar o tempo dele. A legenda da postagem diz que Lucas e os demais integrantes são voluntários de São Paulo.
Ao Verifica, o governo do Estado informou que não há um socorrista chamado Cleber Nagib entre os servidores da Secretaria Estadual da Saúde. A prefeitura de Canoas comunicou que o município não possui socorristas. Em buscas no portal da transparência da cidade, não foram encontrados servidores com o nome citado na postagem falsa.
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Não há evidências de corpos armazenados em caminhões frigoríficos
Essa não é a primeira vez que alegações falsas sobre corpos armazenados em caminhões frigoríficos circulam nas redes sociais. Nas últimas semanas, o Verifica desmentiu um áudio em que uma mulher afirma que corpos estariam sendo congelados em câmaras frigoríficas, também no bairro Mathias Velho.
À reportagem, o Instituto-Geral de Perícias do Estado informou que caminhões da Polícia Científica estão sendo utilizados para transporte e armazenamento de materiais que precisam ser refrigerados, como compostos químicos utilizados em análises laboratoriais, materiais recebidos como doação e outros itens.
De acordo com o órgão, os caminhões têm sido usados como medida preventiva, caso algum material refrigerado não possa ser armazenado na própria sede. “Há sedes do IGP que foram atingidas pelas enchentes e que permaneceram sem energia -- e sem refrigeração -- por um tempo”, informou o órgão. “Sob o risco de queda de energia, o caminhão é uma medida preventiva”.
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