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- Conteúdo verificado: Com trecho de entrevista em vídeo de Anthony Fauci e dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, post no Instagram afirma que o infectologista "é uma farsa completa" e que ele e o CDC não acreditam na eficácia das vacinas contra a covid-19.
É enganoso o post que viralizou no Instagram usando trecho de entrevista de Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos e principal autoridade de saúde no país, para afirmar que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estão dizendo que "as vacinas não protegem".
A autora do post escreve que "Fauci é uma farsa completa" e que "ele fala como se os dados tivessem mudado", ignorando que os dados haviam, de fato, mudado.
O vídeo que ela usa para atacá-lo é de uma entrevista que o infectologista concedeu para a rede MSNBC em 28 de julho. A gravação girou em torno de uma medida anunciada pelo CDC um dia antes, quando o órgão deu um passo atrás e voltou a recomendar o uso de máscara em ambientes fechados por pessoas vacinadas. A mudança, como Fauci explica na entrevista, foi a chegada da variante delta aos Estados Unidos, o que não é explicado no post verificado.
O conteúdo enganoso ainda afirma que "os próprios números do CDC provam que Fauci está mentindo", usando a informação de que o órgão norte-americano reportou "menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas". O problema, no caso, é que o post é de 28 de julho - quando os Estados Unidos vivem uma nova alta de casos, muito por conta da variante delta - e, o dado sobre o número de internações, de 19 de abril.
Além disso, o post engana ainda ao afirmar que o "CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem". Na entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é "extremamente improvável'' que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra. O CDC reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra a covid-19 e que, mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves.
A reportagem procurou a autora do post, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações do contexto original e as utiliza de modo que seu significado sofra alterações.
Como verificamos?
O primeiro passo foi, por meio de pesquisa no Google com frases do vídeo usado no post, encontrar a gravação original da entrevista de Fauci. A partir dela, a reportagem buscou informações sobre as diretrizes do CDC em relação ao uso de máscaras no site do órgão e também pesquisou, com a plataforma TweetDeck, tuítes da Casa Branca sobre avisos acerca da proteção facial.
O site do CDC também foi utilizado como fonte de informação sobre comunicados sobre a campanha de vacinação nos Estados Unidos.
Para saber o número de norte-americanos vacinados em diferentes datas citadas abaixo, a equipe usou o painel virtual Our World in Data, da Universidade de Oxford.
Via mensagem privada no Instagram, o Comprova contatou a autora do post verificado aqui, @kennia.wr, mas não obteve resposta.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de agosto de 2021.
Verificação
Momentos diferentes
A autora coloca dois dados acompanhando o vídeo com a entrevista de Fauci para acusá-lo de mentiroso: "161 milhões de americanos foram vacinados (dados do CDC)" e "o CDC reporta menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas".
A primeira informação é verdadeira e da mesma época em que o post foi publicado. Em 22 de julho - ou seja, apenas seis dias antes da postagem -, a Casa Branca informou que o país havia vacinado "mais de 161 milhões de pessoas".
Já o segundo dado foi tirado de contexto. A informação de que o CDC havia reportado menos de 6 mil hospitalizações entre vacinados foi dada pelo órgão à CNN norte-americana em 15 de abril, mais de três meses antes da postagem. Na época do post, o número de novos casos de covid naquela semana havia subido para 500 mil, ante 92 mil na última semana de junho. Em 28 de julho, dia da entrevista dada por Fauci, os Estados Unidos viviam uma alta de casos - muito em decorrência da variante delta, como Fauci diz no vídeo -, como é possível ver no gráfico abaixo:
CDC e as máscaras
Em 8 de março, o CDC relaxou as diretrizes em relação ao uso de máscaras, afirmando que pessoas completamente vacinadas podiam se reunir em grupos pequenos em locais fechados sem a proteção facial.
No comunicado, o órgão destacava que, "embora a nova orientação seja um passo positivo, a grande maioria das pessoas precisa ser totalmente vacinada antes que as precauções com a covid-19 possam ser amplamente suspensas" para "proteger o grande número de pessoas que permanecem não vacinadas".
Já em 13 de maio, o o uso de máscara não era mais necessário por cidadãos completamente imunizados.
Na época do primeiro anúncio (8 de março), segundo o site Our World in Data, apenas 9% dos norte-americanos estavam totalmente imunizados e, 8,6%, parcialmente protegidos. Na data do post verificado aqui, os números eram, respectivamente, 48,9% e 7,8%.
Em 10 de março, o país atingia um pico de 4,6 milhões de novas doses aplicadas em apenas um dia e, depois, viu a administração da vacina cair, chegando a apenas 600 mil doses diárias em 29 de julho, segundo reportagem da Folha.
O CDC deu um passo atrás em 27 de julho e atualizou as diretrizes baseado em "novas evidências sobre a variante B.1.617.2 (delta)", que já circulava nos Estados Unidos". Assim, o órgão voltou a recomendar que pessoas vacinadas usassem a proteção facial em ambientes fechados e em áreas de "transmissão substancial".
Fauci, CDC e vacinas
A publicação afirma que "CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem", mas isso não é verdade. Na própria entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é "extremamente improvável'' que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra de covid-19 e ressalta a importância de vacinar o maior número de pessoas possível.
Em comunicado, o CDC incentiva a vacinação, reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra o vírus e que pessoas imunizadas podem voltar a fazer as atividades que faziam antes da pandemia. O órgão diz que mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves. Apesar disso, pessoas vacinadas que se infectarem com a variante delta podem transmitir o vírus para outras e por isso é importante o uso de máscaras. O CDC ainda alerta que pessoas com sistema imunológico baixo, incluindo aquelas que tomam medicamentos imunossupressores, podem não estar protegidas mesmo se totalmente vacinadas.
Com exceção da Janssen, que é aplicada em dose única, as demais vacinas contra a covid-19 disponíveis nos Estados Unidos devem ser tomadas em duas doses. A imunização completa ocorre cerca de duas semanas após a aplicação da segunda dose.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo o Instagram, o post verificado aqui foi visualizado mais de 12,5 mil vezes até 10 de agosto.
Conteúdos enganosos que tentam desacreditar autoridades e órgãos de saúde e suas campanhas contra a covid-19 são especialmente perigosos porque colocam a população em risco, fazendo-a questionar medidas de prevenção, como a vacina, principal ferramenta contra o coronavírus no momento.
O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria não indicava ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.
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