Vídeo engana ao afirmar que mistura de alimentos ‘impulsiona sistema imunológico em 200%’

Nutricionistas explicam que cebola, mel, cenoura, limão, gengibre, açafrão e laranja fazem bem para a saúde, mas não têm o efeito descrito em conteúdo que circula no Instagram

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Por Kethilyn Mieza
Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo apresenta misturas de alimentos que seriam benéficas para a saúde. O conteúdo cita que a cebola e o mel “impulsionam o sistema imunológico em 200%”, que cenoura e limão deixam o estômago “mais plano” e com menos inchaço, que gengibre e mel “limpam o muco dos pulmões” e que açafrão e laranja “protegem contra doenças crônicas”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Dois especialistas em nutrição consultados pelo Verifica afirmaram que as alegações do vídeo não são embasadas em estudos científicos. Por mais que os alimentos citados tenham nutrientes importantes para o bom funcionamento do corpo, as combinações mostradas não têm os efeitos anunciados.

Não há comprovação que cebola e mel impulsionem o sistema imunológico em 200% Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: O vídeo foi publicado no Instagram por uma página que compartilha dicas e receitas feitas para “quem quer emagrecer”. A publicação já conta com cerca de 150 mil visualizações e mais de 6 mil compartilhamentos.

Ao contrário do que o vídeo faz parecer, os alimentos citados não funcionam de forma instantânea, apesar de serem fontes de nutrientes importantes. O nutrólogo Daniel Magnoni, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que, após consumirmos uma fruta ou um vegetal, ele é digerido e quebrado na forma de nutrientes. Depois, esses nutrientes são absorvidos e transportados para as células do corpo. Magnoni acrescenta que os alimentos não têm funções específicas para uma única parte do corpo, como indica o vídeo.

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Segundo o nutrólogo, não existe comprovação científica que as misturas citadas na postagem “impulsionem” o sistema imunológico, desinchem o estômago, limpem os pulmões ou protejam contra doenças crônicas. Ele diz ainda que não existe pesquisa que compare especificamente as quantidades e as combinações de alimentos mencionados no conteúdo.

A nutricionista Débora Pazin Leão, supervisora de nutrição do hospital Nove de Julho, concorda que as alegações do vídeo não têm comprovação científica. Para ela, os nutrientes dos alimentos apresentados de fato fazem bem à saúde a longo prazo, mas não como descrito no conteúdo. “São alimentos que possuem muitos nutrientes, em especial ricos em vitaminas e minerais, que fazem diversas funções imunológicas do nosso corpo”, disse. “Mas não em órgãos específicos, como citado”.

Segundo Leão, não é possível afirmar que cenoura e limão tenham efeito de redução do abdômen, como diz o vídeo. A cenoura é rica em betacarotenos, vitamina C e fibras alimentares que ajudam no funcionamento do nosso intestino — assim como o limão, que é muito rico em vitamina C e antioxidantes. Mas para a mistura dos dois alimentos não existe comprovação científica de que eles possam reduzir a circunferência abdominal.

Débora afirma que o mesmo se aplica à cebola e ao mel, que o vídeo diz aumentar a imunidade em 200%. A nutricionista explica que esses alimentos ajudam a proteger o organismo dos radicais livres e têm funções antiinflamatórias. Ainda assim, não se pode dizer que a mistura dos dois possa aumentar a imunidade. “Não existem estudos que correlacionam as células de defesa do organismo com o consumo de uma certa quantidade do alimento ou dessa mistura de um alimento com o outro e que possam ter essa ação confirmada no nosso processo imunológico”, explicou Débora.

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Também não há comprovação sobre a mistura de gengibre e mel para a limpeza do muco. De acordo com a nutricionista, esses alimentos são recomendados durante o processo gripal, mas não se pode afirmar que essa combinação vai agir diretamente na limpeza dos pulmões. Em relação ao açafrão e à laranja, os dois fazem bem para a redução de doenças crônicas, mas não existe indicação de uma quantidade de consumo específica nem comprovação sobre a mistura dos dois.

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