Não, CEO da Pfizer não disse que 33% da população terá ‘turbocâncer’ por causa das vacinas

Não há qualquer evidência que imunizantes causem tumores; teoria da conspiração é desmentida por órgãos de saúde e por dados coletados em todo o mundo

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Foto do author Luciana Marschall

O que estão compartilhando: vídeo em que um homem afirma que o CEO da Pfizer teria avisado que 33% da população terá “turbocâncer”, aceleração de tumores em pessoas vacinadas contra a covid-19.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não há registro de que o CEO (diretor executivo) da Pfizer, Albert Bourla, tenha dito que 33% da população terá “turbocâncer”. A farmacêutica nega qualquer declaração neste sentido. O “turbocâncer” nem existe. Trata-se de uma teoria da conspiração criada pelo movimento antivacina para espalhar a mentira de que pessoas vacinadas estariam desenvolvendo câncer de rápido crescimento. Conforme o Programa Nacional de Vacinação (PNI) do Ministério da Saúde, a alegação é infundada.

Não há registro de que o CEO da Pfizer, Albert Bourla, tenha dito que 33% da população terá “turbocâncer”. Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: O autor do vídeo afirma que médicos teriam alertado sobre uma “misteriosa epidemia de câncer” após a princesa de Gales, Kate Middleton, revelar estar em tratamento contra a doença. Ele mostra uma reportagem do jornal inglês Telegraph que faz essa afirmação no título. Em seguida, ele faz uma associação entre esse assunto e a vacinação contra a covid-19.

A publicação do jornal britânico, contudo, não cita a imunização. A reportagem afirma que médicos têm advertido sobre o aumento de câncer abdominal em pessoas com menos de 45 anos. O site destaca que há uma confusão entre os pesquisadores sobre o que pode estar causando a tendência, embora a maioria concorde que é improvável que se deva a um único fator.

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) informou que faltam estudos mais amplos e conclusivos sobre o assunto. A entidade informou que mudanças de comportamento nas últimas décadas, como obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e alimentos ultraprocessados, assim como a melhoria nos meios de conhecimento e diagnóstico da doença, podem estar associados ao aumento de casos de câncer nas pessoas mais jovens.

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, explica que a farmacovigilância (monitoramento de possíveis efeitos adversos) não mostra nenhuma relação entre qualquer vacina contra a covid-19 e o câncer.

O autor do vídeo diz ainda que, segundo o professor de biologia evolutiva Bret Weinstein, mais de 17 milhões de pessoas teriam morrido por conta das doses. Mas isso também é falso, como já demonstrou o Estadão Verifica. A alegação surgiu a partir de um estudo que fez uma correlação enviesada entre “mortalidade por todas as causas” e as vacinas. Leia mais abaixo.

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Vacinas causam ou aceleram câncer? Existe “câncer turbo?”

Segundo o governo federal, o termo “câncer turbo” passou a ser propagado por grupos antivacina para “instigar medo e desconfiança quanto à segurança dos imunizantes”, principalmente os de mRNA, como o da Pfizer. Trata-se de um conceito baseado em relatos isolados e especulações desprovidas de qualquer base em pesquisa científica confiável. A falsa teoria começou a ser propagada com mais força após o caso da princesa Kate, mas não existem evidências que vinculem as vacinas contra a covid-19 ao desenvolvimento de câncer. Conteúdos desinformativos sobre a existência de um “câncer turbo” também foram desmentidos fora do Brasil (aqui, aqui e aqui).

Conforme a Pfizer, a vacina de RNA mensageiro não tem nenhuma relação com doenças oncológicas, tampouco existem evidências científicas para tal associação. O mesmo diz a médica Isabella Ballalai, da SBIm. “Ao contrário, existem muitas evidências de que a vacina não causa câncer”, explicou. “A farmacovigilância não é mais uma farmacovigilância num país só, é no mundo inteiro. No mundo inteiro, a farmacovigilância não mostra nenhuma relação entre qualquer vacina contra a covid-19 e o câncer”.

O Guia de Imunização do Paciente Oncológico, atualizado em março e produzido pela SBOC e pela SBIm, indica a vacinação contra a covid-19 em pacientes com câncer. “Atualmente, todas as vacinas contra covid-19 disponíveis são inativadas (sem o vírus ativo), logo, não há contraindicação para vacinação de imunocomprometidos”, informa o documento. “As vacinas de vetor viral são constituídas por vírus não replicantes e também classificadas como funcionalmente inativadas”.

Mais de 17 milhões de pessoas já morreram por conta dos imunizantes?

O Estadão Verifica já checou essa alegação anteriormente e identificou que ela é falsa. O boato começou a circular devido a um estudo publicado em setembro de 2023 em uma revista científica canadense, que faz uma correlação enviesada entre “mortalidade por todas as causas” e as vacinas contra a covid-19.

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Os autores argumentam que houve um excesso de mortalidade no período de aplicação das vacinas e que as mortes aumentaram justamente quando houve aplicação das doses de reforço. Para eles, 17 milhões de mortes teriam sido provocadas pela vacina. No entanto, os dados utilizados na publicação não apontam se as pessoas que morreram no período estavam ou não vacinadas.

O estudo ainda desconsidera as próprias mortes pela covid-19, alega que a doença não causou uma pandemia e defende, sem provas, que as vacinas não foram capazes de reduzir a mortalidade. O conteúdo do estudo foi desmentido também pela AFP e pela organização Health Feedback.

Bret Weinstein, citado pelo autor do vídeo, reproduziu essa falsa alegação em entrevista ao ex-apresentador da Fox News Tucker Carlson. Ele é ex-professor de biologia e podcaster, conhecido por difundir teorias negacionistas, como as relacionadas à pandemia de coronavírus. A afirmação dele em entrevista foi checada por Lead Stories e Fact Check.

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A médica Isabella Ballalai afirma que o número de mortes notificadas como Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVI) é muito pequeno. Na maior parte das vezes, a relação entre o óbito e a vacina é descartada.

As vacinas aprovadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil, foram submetidas a testes, pesquisas e processos rigorosos que atestaram sua segurança e eficácia.

Em janeiro deste ano, a OMS divulgou que, desde dezembro de 2020, as vacinas contra a covid-19 reduziram em 57% as mortes devido à pandemia na região europeia da entidade, que abrange 53 países da Europa e da Ásia Central, salvando mais de 1,4 milhões de vidas.

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