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Checamos o debate do Estadão/Record com os candidatos à Prefeitura de São Paulo; confira o resultado

Veja o que é verdade e mentira no confronto entre Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB)

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Os candidatos à Prefeitura de São Paulo participaram neste sábado, 19, do debate Estadão, realizado em parceria com a TV Record. Estiveram presentes Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). Eles passaram para o segundo turno com 29,07% e 29,48% dos votos válidos, respectivamente.

Nunes e Boulos no debate Estadão deste sábado, 19 Foto: Werther Santana/Estadão

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O Estadão Verifica, equipe de checagem de fatos do jornal, analisou as alegações feitas pelos candidatos e conferiu a veracidade delas. Foram consideradas apenas afirmações factuais, como números, datas, comparações de grandeza e outras. Após a apuração, atribuímos as etiquetas “falso”, “enganoso”, “exagerado”, “subestimado”, “falta contexto” e “verdadeiro”. Este texto será atualizado depois que novas checagens ficarem prontas.

Clique nos nomes abaixo para ver o que cada candidato disse.

Guilherme Boulos Foto: Werther Santana/Estadao

Guilherme Boulos (PSOL)

Vice de Nunes

O que Boulos disse: que Mello Araújo defendeu que a polícia trate diferente quem mora na periferia e quem mora no Jardins.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é verdadeiro. Boulos se refere a uma fala de 2017 do coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, candidato a vice-prefeito na chapa de Nunes. Na época, Araújo era comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e disse que a abordagem em áreas nobres não deve ser igual ao que é feito na periferia. “É outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma de ele abordar tem de ser diferente. Se ele for abordar uma pessoa da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins, ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”, afirmou, em entrevista ao UOL.

Ação da Prefeitura na poda de árvores

O que Boulos disse: que a Prefeitura de São Paulo assinou um acordo assumindo a responsabilidade pela remoção e manejo de árvores perto de fios elétricos.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A poda e o manejo de árvores na cidade é de responsabilidade da Prefeitura, enquanto a concessionária de energia, a Enel, deve fazer a poda em árvores em que há risco de que os galhos atinjam cabos energizados e interfiram no serviço.

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Em 2020, a Prefeitura e a Enel firmaram um convênio sobre o tema, em que fica estabelecido que é responsabilidade da Enel “auxiliar a Prefeitura com o manejo na cidade” em relação às árvores “que estão em contato com rede elétrica energizada ou próximas à zona controlada” e “representam risco às equipes da Prefeitura”. No entanto, caso a Enel não cumpra a remoção, a Prefeitura pode pedir o desligamento para realizar a poda com segurança.

Chefe de gabinete de Obras

O que Boulos disse: que Eduardo Olivatto é cunhado do Marcola, líder da facção criminosa PCC, e libera dinheiro público na Prefeitura de São Paulo.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Boulos se refere a uma reportagem do Tab UOL, que mostra que o chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), Eduardo Olivatto, é irmão da advogada Ana Maria Olivatto, ex-mulher de Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola. Boulos omite, contudo, que Ana Maria morreu há mais de 20 anos. Ela foi assassinada em outubro de 2002, em Guarulhos, em razão de disputas de poder interno da organização criminosa. O texto afirma que não há indício de que a relação de Ana Maria com o líder da organização criminosa tenha repercutido na trajetória de Olivatto. O psolista já repetiu a afirmação em diferentes ocasiões, como no debate promovido pela TV Globo no primeiro turno das eleições municipais.

O que Boulos disse: que Nunes não obedeceu a lei do aborto no Hospital Cachoeirinha.

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O Estadão Verifica checou e concluiu que: é verdadeiro. Em dezembro de 2023, a Prefeitura de São Paulo suspendeu a realização de abortos legais – como em casos de estupro – no Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, unidade de referência para o serviço e que fazia o procedimento havia cerca de 30 anos. Ao Estadão, Nunes justificou que transferiu o serviço para outras unidades para realizar outras cirurgias, como de endometriose.

No início deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) obrigou o município a voltar a oferecer o serviço no hospital, sob multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento, e determinou a busca ativa das mulheres que tiveram o serviço negado. A Justiça alegou que o Hospital Vila Nova Cachoeirinha era o único que não impunha limite à idade gestacional. Nunes conseguiu reverter a decisão.

Em maio, o g1 mostrou que médicas que realizaram aborto legal no hospital foram suspensas. A Agência Pública noticiou que a Prefeitura é investigada por acessar dados sigilosos de abortos legais na unidade de saúde.

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Fiscalização da Enel

O que Boulos disse: que a fiscalização da Enel é de responsabilidade da Arsesp, cujos diretores foram nomeados pelo governador Tarcísio de Freitas

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. De acordo com o site da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), uma das atribuições da agência é “fiscalizar os serviços de energia elétrica, de competência da União, por meio de convênio com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”. No dia 17 de setembro, Comissão de Infraestrutura da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou a indicação de Thiago Roberto Magalhães Veloso para o cargo de diretor técnico da Arsesp. A indicação foi feita pelo governador Tarcísio de Freitas. No entanto, os demais diretores da agência tomaram posse anteriormente ao início do mandato de Tarcísio, em 2023. Amauri Gavião Almeida Mareque da Silva, que responde pela Diretoria de Regulação Técnica e Fiscalização dos Serviços de Energia, tomou posse em 28 de dezembro de 2022, tendo sido indicado em 7 de outubro de 2022. Já Gustavo Zarif Frayha, diretor de Regulação Técnica e Fiscalização dos Serviços de Saneamento Básico, tomou posse em 7 de abril de 2021.

Atualização do CadÚnico

O que Boulos disse: que a cidade de São Paulo se tornou a terceira capital onde é mais difícil atualizar o cadastro do Bolsa Família. Por causa disso, pessoas correm o perigo de perder o benefício.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A cidade de São Paulo não está entre os municípios com a pior taxa de atualização no Cadastro Único (CadÚnico), que é porta de entrada do Bolsa Família e outros programas sociais, conforme dados do mês de agosto de 2024, publicados em reportagem do jornal Folha de S.Paulo no dia 14 de outubro.

Em setembro de 2023, o município tinha a segunda pior taxa de atualização do cadastro, ficando atrás apenas de Boa Vista (PR), conforme reportagem publicada pelo jornal O Globo naquele ano. O texto, que informa que a capital deixou de receber cerca de R$ 2,4 milhões do governo federal de janeiro a agosto daquele ano por atrasos na atualização do cadastro, utilizava dados coletados pelo programa Polos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Caso envolvendo Nunes em boate

O que Boulos disse: que Ricardo Nunes já foi preso porque deu tiros para cima em uma boate.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso, porque Nunes não foi preso na ocasião. De acordo com reportagem do Metrópoles, Nunes disparou um tiro em uma casa noturna em Embu das Artes em setembro de 1996. O dono da pistola estava com Nunes no local, mas teria fugido na abordagem policial. Conforme a matéria, Nunes foi conduzido para delegacia de madrugada por portar uma arma sem licença e atirar em via pública ou local habitado. Ele assinou o termo circunstanciado – registro de uma ocorrência de infração penal de menor potencial ofensivo – e foi liberado para ir embora.

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Nunes virou réu do caso em 1997. No dia da audiência, contudo, a promotora do Ministério Público de São Paulo (MPSP) propôs um acordo judicial para uma pena alternativa. Nunes aceitou e entregou o equivalente a R$ 120, em valor da época, em canecas plásticas ao serviço social, o que levou ao arquivamento do processo. Ao Metrópoles, o atual prefeito alegou que o episódio é antigo e envolveu um “disparo acidental de arma” registrada em nome de outra pessoa.

À época, o porte de armas sem licença e o disparo de arma de fogo em local público eram contravenções penais, delitos de menor gravidade. O Estatuto do Desarmamento, com penas mais severas para essas infrações, começou a vigorar apenas no fim de 2003.

Apagão de 2023

O que Boulos disse: que, após o apagão do ano passado, Ricardo Nunes sugeriu taxa para que os cidadãos pagassem o enterramento de fios.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. Em novembro de 2023, após um apagão atingir a região metropolitana de São Paulo, a imprensa informou que Ricardo Nunes sugeriu a cobrança de uma contribuição opcional de moradores para enterramento de fios da rede elétrica, em parceria com a Prefeitura. Um dia depois, contudo, o prefeito negou que apresentaria a proposta. Ele disse que as declarações foram “tiradas de contexto” e afirmou que o esclarecimento não seria um recuo. Nunes afirmou que a proposta de aplicação da taxa havia sido apresentada pela Enel.

Corredor de ônibus

O que Boulos disse: Nunes prometeu 40 km de corredores, mas só entregou 4 km.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. Como já foi explicado pelo Verifica, 6,8 km de novos corredores de ônibus foram iniciados até agosto, de acordo com o site do Programa de Metas. A SPTrans afirmou ao Verifica que entregou um trecho de 4,1 km do corredor Itaquera-Líder e que está construindo 2,7 km de corredor na Avenida Celso Garcia. Isso totaliza 6,8 km.

Ricardo Nunes Foto: Werther Santana/Estadao

Ricardo Nunes (MDB)

UPAs

O que Nunes disse: que inaugurou 19 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

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O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. Como prefeito, Nunes foi responsável pela inauguração de 16 Unidades de Pronto Atendimento. Outras duas foram entregues em 2021, quando o candidato era vice-prefeito. Ele já repetiu essa alegação em outros debates, como o da TV Globo em 3 de outubro.

Segurança pública

O que Nunes disse: que Guilherme Boulos defende o fim da Polícia Militar

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. Uma postagem publicada por Boulos no Facebook em 2018 mostra que o político defendeu a desmilitarização das polícias para acabar com o genocício da juventude pobre e negra no Brasil.

Conforme matéria publicada pelo Estadão, na época em que defendeu a desmilitarização, Boulos esclareceu que a polícia continuaria armada e operante, mesmo sem o caráter militar. O objetivo de Boulos seria retirar a doutrina e estrutura militar da corporação, mantendo suas funções de segurança pública.

Tribunal de Contas da União

O que Ricardo Nunes disse: que foi ao Tribunal de Contas da União pedir a fiscalização do contrato com a Enel, e que foi ao Ministério de Minas e Energia pedir o fim da concessão.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. Como mostrou uma reportagem do g1, em janeiro Ricardo Nunes entregou um ofício para o ministro do Tribunal de Contas da União solicitando fiscalização e a possível rescisão do contrato do fornecimento de energia pela Enel. No último dia 15, com o apagão em São Paulo, Nunes e os 17 prefeitos da região metropolitana de São Paulo enviaram uma carta ao TCU pedindo intervenção na Enel.

Citações na Justiça

O que Nunes disse: que nunca houve contra ele processo, inquérito, denúncia ou condenação.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. Um inquérito da Polícia Federal (PF) apura o suposto desvio de verbas públicas destinadas ao atendimento de crianças na cidade de São Paulo. Em julho, a PF indiciou 117 suspeitos de participar do esquema. Nunes não está entre eles, mas foi alvo de um pedido da PF à Justiça para a abertura de um inquérito específico, para apurar a relação dele na época em que era vereador com duas empresa envolvidas no esquema.

Em setembro do ano passado, o Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM-SP) apontou um superfaturamento de R$ 67,1 milhões em 18 obras emergenciais contratadas pela gestão de Nunes entre 2021 e 2022.

Outro lado: a campanha disse que o pedido de inquérito contra Nunes ainda não foi aceito. “Nunca houve denúncia, condenação ou inquérito durante toda a sua vida pública. Agora, a menos de dois meses das eleições, há apenas um pedido de inquérito, depois de cinco anos de investigação e indiciamento de mais de 100 pessoas.”

Construção de CEUs

O que Nunes disse: que todos os CEUs que prometeu estarão com alunos em sala de aula em 2025, e que o ex-prefeito Fernando Haddad prometeu 20 CEUs, mas entregou apenas um.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. De fato, Haddad prometeu 20 Centros Educacionais Unificados e entregou apenas um. No entanto, ao final do mandato do petista, outros 14 CEUs estavam em obras. Já sobre Nunes, o Plano de Metas da Prefeitura fala em entregar 12 novos CEUs até o final deste mandato. Até agora, contudo, nenhum deles foi entregue. Apesar de o Programa de Metas da Prefeitura apontar cinco CEUs entre “entregues ou em obras”, nenhum foi inaugurado. O Tribunal de Contas do Município liberou a licitação para obras em julho do ano passado, apenas após a Prefeitura se comprometer a reformular o edital.

Outro lado: a campanha do prefeito falou que ele “nunca prometeu entregar, mas sim viabilizar” 12 CEUs. O prefeito considera unidades em obras, licitadas ou em fase de projeto.

Votação da Operação Delegada

O que Nunes disse: que o PSOL votou contra a Lei 18.038 (Operação Delegada).

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O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O PL 511/2023, que foi transformado na Lei 18038/2023, que institui gratificação aos integrantes da Polícia Militar e da Polícia Civil que exercem atividade municipal delegada ao Estado de São Paulo, tramitou na Câmara de São Paulo. Ao ser avaliado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o integrante do PSOL na comissão, vereador Toninho Vespoli, se absteve na votação, mas não foi contra. O mesmo ocorreu em relação do posicionamento da bancada do PSOL.

Outro lado: procurada, a campanha disse que “abster-se em temas dessa importância para o cidadão tem o mesmo efeito de ser contra”.

Programa Smart SAMPA

O que Nunes disse: que já existem 17 mil câmeras instaladas no sistema Smart SAMPA.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. O secretário de Segurança Urbana de São Paulo, Junior Fagotti, disse em entrevista à Agência de Notícias da Associação Comercial de São Paulo, no último dia 17 de outubro, que o número de câmeras instaladas chegou a 17 mil. O programa foi lançado em julho.

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