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Checamos o discurso de Lula na Assembleia Geral da ONU

Presidente falou da redução do desmatamento na Amazônia em seu governo, mas omitiu avanço da perda de cobertura vegetal no Cerrado

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Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu os discursos da 78ª Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, 19. Ele exaltou a queda no desmatamento na Amazônia, mas omitiu que os índices crescem no Cerrado. Também destacou que a maior parte da energia elétrica consumida no País é proveniente de fontes renováveis, o que é correto. Ele não citou, porém, estatísticas sobre o consumo total de energia, incluindo a dos combustíveis, que são menos favoráveis.

Presidente Lula abriu os discursos na 78ª Assembleia Geral da ONU.  Foto: Justin Lane/EFE

Confira a seguir a checagem das declarações:

Matriz energética

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O que Lula disse: que a matriz energética do Brasil é uma das mais limpas do mundo e que 87% da energia elétrica é produzida por fontes limpas e renováveis.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 86,1% da matriz elétrica brasileira é formada por fontes de energia renováveis: dos rios (61,9%), dos ventos (11,8%), do sol (4,4%), da cana-de-açúcar (4,7%), de subprodutos do processamento da celulose (2,5%) e de outras (0,8%). A parte não renovável vem de gás natural, carvão, óleo diesel, energia nuclear e outras, somando 12%, além de uma pequena parte oriunda de importação.

O presidente Lula escolheu levar um dado mais favorável para a Assembleia Geral da ONU. Quando analisada a matriz energética como um todo, incluindo combustíveis e o gás de cozinha, por exemplo, e não apenas a energia elétrica, o consumo no Brasil é 48,4% proveniente de fontes renováveis e 51,6% de outras. Ainda assim, ela é mais renovável do que a mundial, que tem uma proporção de 15% e 85%, respectivamente. Vale lembrar também que as fontes renováveis são menos poluentes, mas não estão livres de impactos ambientais e sociais.

Desmatamento

O que Lula disse: que o desmatamento na Amazônia caiu 48% nos primeiros oito meses de 2023.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. Os dados foram divulgados no dia 5 de setembro pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e são do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter-B) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). De acordo com dados do Deter-B, o número de alertas de desmatamento na Amazônia entre janeiro e agosto de 2023 teve redução de 48% com relação ao mesmo período de 2022. No mesmo período de oito meses houve um aumento de 19,83% no número de alertas de desmatamento no Cerrado.

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Os dados do Deter-B não mostram com precisão áreas desmatadas de no mínimo um hectare, mas ajudam na fiscalização e apontam uma tendência, porque são capazes de mostrar o corte da floresta ao mesmo tempo em que ele ocorre. Os dados anuais de desmatamento costumam ser medidos entre agosto e julho e serão divulgados em novembro pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), também do INPE.

Gasto militar

O que Lula disse: que os gastos militares no mundo somaram mais de US$ 2,24 trilhões em 2022, e que as despesas com armas nucleares chegaram a US$ 83 bilhões, o que equivale a mais de 20 vezes o orçamento regular da ONU.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. Conforme noticiou o Estadão, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri) apontou que os gastos militares de todo o planeta chegaram a um recorde de US$ 2,24 trilhões (cerca de R$ 11,31 trilhões). Já a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (ICAN - na sigla em inglês) divulgou no mesmo ano que nove países gastaram US$ 82,9 bilhões em armas nucleares, valor 25 vezes maior que o orçamento das Nações Unidas para 2023, que é de US$ 3,39 bilhões.

População passando fome

O que Lula disse: que a fome atinge 735 milhões de pessoas no mundo.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. O dado é da própria ONU e foi divulgado em julho deste ano. O número aparece em um relatório produzido por cinco agências associadas das Nações Unidas e mostra que 735 milhões de pessoas passaram fome em todo o mundo ao longo de 2022. Isso indica que o planeta teve, no ano passado, 122 milhões de pessoas passando fome a mais do que em 2019. Entre as razões apontadas estão o impacto da pandemia de covid-19, conflitos armados e mudanças climáticas.

Poluição

O que Lula disse: que os 10% mais ricos da população são responsáveis por quase metade de todo o carbono lançado na atmosfera.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. Um relatório da Oxfam, publicado em 2020, indica que 10% mais ricos da população mundial foram responsáveis por 52% das emissões de carbono adicionadas à atmosfera entre 1990 e 2015.

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De acordo estudo do World Inequality Database, os 10% mais ricos foram responsáveis por 48% das emissões globais em 2019. Um novo estudo publicado na PLOS Climate também aponta que os 10% mais ricos dos Estados Unidos são responsáveis por quase metade da poluição que acarreta no aquecimento do planeta no país.

Desigualdade global

O que Lula afirmou: que os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza do que os 40% mais pobres da humanidade.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é controverso. O dado citado pelo presidente consta no relatório Lucrando com a Dor, publicado em 2022 pela ONG Oxfam. Segundo o documento, os 10 homens mais ricos do mundo tinham mais riqueza do que a combinação de 40% da população mais pobre, equivalente a 3,1 bilhões de pessoas, naquele momento. A fonte dos dados utilizados pela entidade é a Forbes. A metodologia do relatório, porém, foi alvo de críticas. Uma pessoa com alta renda e qualidade de vida pode aparecer nas estatísticas como pobre se estiver muito endividada (ao financiar uma casa, por exemplo).

População da Amazônia

O que Lula disse: que há 50 milhões de pessoas vivendo na Amazônia.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é contestado. O dado citado por Lula também já foi mencionado pela secretária-geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Alexandra Moreira, durante a Cúpula da Amazônia. “O desafio social e econômico também está presente por causa dos 50 milhões de habitantes vivendo na Amazônia, incluindo 420 cidades indígenas dos 800 que existem na América Latina”, disse.

No entanto, de acordo com o relatório “Fatos da Amazônia”, publicado em 2021, a população estimada da Pan-Amazônia – que se estende por oito países – é de 38 milhões de habitantes. O estudo diz que a população da Amazônia Legal – que engloba nove estados brasileiros – aumentou de 8,2 milhões em 1972 para 28,1 milhões de habitantes em 2020, o que representa 13% da população brasileira.

A Secretaria de Comunicação da Presidência foi procurada, mas não respondeu até a publicação.

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