Vídeo distorce notícias antigas para dizer que cloroquina é mais eficaz que vacinas contra covid-19

Postagem tira de contexto trechos de telejornais para alegar que medicamento pode ser usado contra coronavírus, o que é falso

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Por Ana Luiza Serrão
Atualização:

Com recortes de notícias antigas e fora de contexto, um vídeo que atribui maior eficácia à cloroquina do que às vacinas contra a covid-19 tem sido disseminado no Facebook e no TikTok desde terça-feira, 7, com mais de 320 mil visualizações. A informação é falsa e diverge do que é recomendado pelas autoridades de saúde ao redor do mundo. O conteúdo se inicia com a frase: “Bolsonaro tinha razão, imprensa brasileira fala a verdade sobre a cloroquina”.

Durante a pandemia, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu o uso do chamado “kit covid” e questionou a segurança dos imunizantes em diversas ocasiões. Na sua gestão, o Ministério da Saúde, inclusive, classificou em nota técnica de janeiro de 2022 a hidroxicloroquina como eficiente contra o coronavírus e não atribuiu a mesma eficácia aos imunizantes. Dias depois, o documento teve de ser retificado, sem essas informações falsas.

É falso que cloroquina seja mais eficaz que vacinas contra covid Foto: Arte/Estadão

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O vídeo verificado aqui se inicia com uma notícia sobre a referida nota técnica, transmitida pelo Jornal da Band em 22 de janeiro do ano passado. A postagem exibe o trecho do telejornal como se fosse atual. Em seguida, mostra a notícia de um estudo sobre cloroquina e hidroxicloroquina da revista científica The Lancet, publicado em 2020, o qual foi retirado do ar pela entidade após levantar suspeitas sobre a sua base de dados. No mesmo ano, uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que reuniu mais de 11 mil pessoas em 30 países, indicou a ineficácia desses e outros medicamentos para pacientes com SARS-CoV-2.

O vídeo também insere outra terceira notícia, de 2020, de quando o Ministério da Saúde solicitou à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a divulgação da cloroquina e hidroxicloroquina como tratamento inicial da covid-19. A postagem exibe ainda outro trecho de telejornal, que relaciona a cloroquina ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O americano defendeu de forma veemente o medicamento ineficaz, mas não o tomou quando contraiu o coronavírus em 2020. Por fim, o vídeo distorce um estudo científico, feito por 55 hospitais brasileiros em 2020, que comprova que a hidroxicloroquina não funciona para casos leves e moderados de covid-19.

Os comentários do vídeo falso exaltam o ex-presidente, atacam o atual governo, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a imprensa. Um deles diz: “Por isso, eu tomei [cloroquina],e não fiz o uso da vacina, graças a Deus”. Outro relata que “o sistema estava todo contra o presidente Bolsonaro”.

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A Associação Médica Brasileira (AMB) já havia afirmado, em 2021, que “medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”.

Em entrevista ao Estadão, o imunologista e professor da faculdade de medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) Edson Teixeira destacou uma grande redução do número de mortes e de internações em diversos países depois de as vacinas contra a covid-19 serem disseminadas para a maioria da população. “Não é uma evidência difícil de ser verificada, as vacinas fizeram que a gente pudesse voltar a ter uma vida normal”.

O especialista manifestou ainda preocupação com a queda da cobertura vacinal no País e declarou que os conteúdos de desinformação sobre os imunizantes são perversos. “Precisamos propagar notícias verdadeiras para que as pessoas voltem a se vacinar e a gente possa evitar o ressurgimento de doenças como o sarampo, a rubéola e tantas outras que podem ser prevenidas com o Programa Nacional de Imunização”.

O Aos Fatos também publicou uma verificação sobre este vídeo.

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