Clubes militares negam ter divulgado carta com ataques ao Judiciário

Conteúdo forja assinatura dos presidentes do Clube Militar, do Clube Naval e do Clube de Aeronáutica

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Por Bernardo Costa
Atualização:

O que estão compartilhando: carta com cabeçalho em que se lê “Comissão Interclubes Militares” logo abaixo dos símbolos do Clube Militar, do Clube Naval e do Clube de Aeronáutica. O texto, intitulado “Defesa da Pátria, contra a tirania do Judiciário”, faz ataques ao Poder Judiciário. O texto diz que o Supremo Tribunal Federal (STF) “tem se mostrado conivente com os interesses do crime organizado”. A carta diz que o Judiciário é corrupto e age ilegalmente. E afirma que “chegou o momento de agir com firmeza e determinação” e que não haverá hesitação na tomada de medida enérgicas para restaurar a ordem e a segurança no País. “Sangue nas ruas é o último cenário que desejamos, mas não hesitaremos em agir para proteger nossa nação”, diz o texto.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é falso. Os presidentes do Clube Militar, do Clube Naval e do Clube de Aeronáutica divulgaram nota conjunta desmentindo que sejam os autores do conteúdo. A nota com a negativa da veracidade do conteúdo está disponível no site das instituições.

Reprodução da postagem verificada Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: a suposta carta da Comissão Interclubes Militares traz a data de 9 de fevereiro de 2024. No mesmo dia, os clubes militares divulgaram “Comunicado Urgente” desmentindo a veracidade do documento. “Está circulando nas mídias sociais uma nota FALSA com o título ‘Defesa da Pátria, contra a tirania do Judiciário’, datada de 9 de fevereiro de 2024, cuja autoria é atribuída à COMISSÃO INTERCLUBES MILITARES. Os presidentes do Clube Naval, do Clube Militar e do Clube de Aeronáutica reiteram se tratar de uma FAKE NEWS!”, diz o comunicado, que foi publicado nos sites do Clube Militar (clique aqui para ler), do Clube Naval (clique aqui para ler) e do Clube de Aeronáutica (clique aqui para ler).

A montagem da carta ainda inclui, de forma forjada, as assinaturas dos presidentes dos três clubes. O documento falso está circulando nas redes sociais e por WhatsApp, incluindo grupos de militares. A falsa carta surge após a deflagração, em 8 de fevereiro, da Operação Tempus Veritatis pela Polícia Federal, que investiga a formação de uma suposta organização criminosa que teria atuado em tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito depois das eleições de 2022. Na ocasião, foram presos preventivamente três militares: Marcelo Câmara, coronel do Exército e ex-assessor de Jair Bolsonaro; Rafael Martins de Oliveira, major das Forças Especiais do Exército; e Bernardo Romão Corrêa Neto, coronel do Exército.

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As justificativas para as prisões dos militares

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O coronel do Exército Bernardo Romão Corrêa Neto, segundo a PF, articulava um golpe de Estado que envolveria a decretação de estado de sítio por Bolsonaro, o que abriria brecha para uma intervenção militar. O plano, de acordo com as investigações, previa ainda o impedimento da posse de Lula e a prisão de autoridades, como o ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo a PF, Correa Neto fazia parte de um grupo que incitava militares a aderir ao golpe e teria sido o intermediador de uma reunião entre militares que planejavam a ação golpista em novembro de 2022, logo após a derrota de Bolsonaro nas eleições. O pedido de prisão de Bernardo Romão Corrêa Neto foi justificado pela PF diante do alegado risco de que ele poderia suprimir provas importantes para a continuação das investigações.

Segundo a PF, o também coronel do Exército Marcelo Câmara integrava o chamado “Núcleo de Inteligência Paralela”. Esse grupo teria o objetivo de espionar opositores de Bolsonaro e ministros do STF, incluindo Alexandre de Moraes. Também deveria coletar dados para ajudar na tomada de decisões ligadas ao suposto golpe. De acordo com a PF, sua prisão é justificada por não haver indícios de que o monitoramento tenha cessado e para impedir que ele destrua provas.

Já o major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira era um interlocutor de Mauro Cid na execução de estratégias voltadas para a execução do golpe de Estado, segundo dados das investigações. A prisão de Rafael Martins foi justificada pela PF pela identificação de troca de mensagens com Mauro Cid na qual ele pede que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro apague documentos que poderiam revelar a participação de pessoas envolvidas na tentativa de golpe. “Conclui-se que a manutenção de liberdade do investigado poderá acarretar a supressão de elementos de prova relevantes até então desconhecidos e que sejam essenciais para desvendar por completo as circunstâncias de ação do grupo de forças especiais nos atos golpistas”, disse a PF no relatório das investigações.

Conteúdos falsos como a suposta carta de presidentes dos clubes militares contribuem para acirrar ânimos entre as Forças Armadas e o STF a partir da disseminação de ódio nas redes sociais impulsionada por mentiras. Nesse sentido, o Estadão Verifica já mostrou que vídeo inventa pedido de prisão do STM contra Alexandre de Moraes, que é falso que militares tenham destruído móveis do Planalto antes do ataque de 8 de janeiro e que vídeo engana ao afirmar que comandante do Exército deu recado a Lula e ao STF.

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