O que estão compartilhando: que existe um código secreto no celular que permite desbloquear internet gratuita em qualquer lugar.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. De fato, existem códigos numéricos de um protocolo chamado USSD, que permitem acionar ações internas ao próprio celular ou junto à operadora. Esses códigos dependem do fabricante do celular, operadora ou sistema operacional. Especialistas consultados pela reportagem, no entanto, destacam que o suposto método para desbloquear internet gratuita não funciona.
Saiba mais: um vídeo viral no Facebook descreve um suposto método para adquirir internet gratuita em qualquer lugar. De acordo com o conteúdo, esses seriam os passos a serem seguidos: primeiro, digitar o “código secreto” *777# na tela de ligação e tocar em chamada; depois, acessar o site mencionado; instalar o aplicativo indicado na página; por fim, selecionar no aplicativo o servidor indicado na filmagem.
O Estadão Verifica enviou o vídeo para análise de dois profissionais da área. O especialista em criptografia e cibersegurança da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) Marcos Simplicio explicou que esses códigos numéricos integram o protocolo USSD, que não são “secretos”, e sim pouco conhecidos. Esses códigos permitem executar ações internas no celular ou junto à operadora, e variam de acordo com especificidades de cada aparelho.
Ao avaliar o conteúdo, o professor ressaltou que o próprio vídeo revela que o código não funciona. Isso porque, ao executar o código numérico, a tela do celular mostra um aviso de “Unknown Application” (em português, “Aplicação Desconhecida”). “O celular está dizendo simplesmente que não conseguiu executar aquele código, por desconhecer o que ele faz”, explicou. Veja abaixo.
O site mostrado na gravação foi consultado por Simplicio e por Jéferson Campos Nobre, professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os dois especialistas ressaltaram para uma incongruência no vídeo: o site direciona o usuário a um aplicativo, mas o programa exibido na tela é outro.
O celular mostra que o aplicativo instalado faz menção ao uso de VPN (veja a imagem abaixo). “VPNs servem essencialmente para que o usuário navegue na rede usando um IP (responsável por identificar um dispositivo na internet) de terceiro, como se a sua máquina estivesse conectada ao WiFi dessa rede”, explicou Simplicio.
O professor da USP destaca, contudo, que esse procedimento não aumenta a velocidade da rede, tampouco fornece internet gratuita. Da mesma forma, Nobre afirma que utilizar um código numérico do protocolo USSD tem uma finalidade diferente de usar um aplicativo de VPN.
O aplicativo recomendado no vídeo faz menção ao protocolo SSH, que permite ao usuário se conectar em um dispositivo remoto. “O resultado pode ser similar a uma VPN dependendo do uso, mas pode também trazer riscos adicionais para usuários: por exemplo, suponha que alguém que se conecte à minha máquina remotamente e navegue na Internet por dentro dessa conexão; nesse caso, eu posso capturar todos os dados de navegação da pessoa, inclusive senhas”, explicou Simplicio.
O professor destaca que não é possível afirmar que o aplicativo permite a aplicação de golpe, mas que é um risco potencial ao usuário. Simplicio ressalta novamente que o procedimento não aumenta a velocidade da navegação, nem fornece internet de graça.
Como lidar com postagens do tipo: tenha cuidado com métodos “mágicos” que oferecem soluções fáceis aos usuários. Programas desconhecidos instalados no celular podem oferecer uma série de riscos, como, por exemplo, o controle do dispositivo ou roubo de informações. Antes de instalar, busque a finalidade do aplicativo, se há alguma denúncia relacionada a ele na internet e o modo de operação correta do programa.
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