O que estão compartilhando: um vídeo afirmando que a Polícia Federal (PF) encontrou um cofre “cheio de dinheiro” no endereço de Luciano Cavalcante, um dos principais auxiliares de Arthur Lira (PP-AL) e liderança do PP na Câmara dos Deputados.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Um cofre cheio de dólares e reais foi apreendido em junho de 2023 em um escritório de Maceió, capital de Alagoas, durante a Operação Hefesto. Contudo, conforme divulgado pela imprensa na época, o endereço é ligado ao policial civil Murilo Sergio Juca Nogueira Junior, e não a Luciano Cavalcante, à época assessor do PP na Câmara dos Deputados. Ele também foi alvo da operação.
Saiba mais: o vídeo no Instagram afirma que a PF encontrou um cofre cheio de dinheiro e remédios no endereço de Luciano Cavalcante. Ele é um dos principais auxiliares de Lira e liderança do PP na Câmara dos Deputados. O conteúdo acrescenta que ele está sendo investigado por desvio milionário de dinheiro público da educação.
O post se refere à Operação Hefesto, desencadeada pela Polícia Federal em 1º de junho do ano passado em decorrência de uma investigação sobre esquema de fraudes em licitações de 43 cidades de Alagoas. Na ocasião, aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, foram alvos de mandados judiciais. Lira não foi alvo da operação.
Naquele dia, a CNN chegou a divulgar que um cofre com R$ 4 milhões foi encontrado em um endereço de Luciano Cavalcante. A informação foi corrigida posteriormente. A emissora publicou errata onde se desculpou e explicou que, na verdade, a quantia foi apreendida em endereço de outro alvo. Disse que a Polícia Federal havia informado primeiramente que o valor foi encontrado em Brasília, mas depois se corrigiu e disse que a apreensão ocorreu em Maceió. O cofre estava em um escritório ligado ao policial civil Murilo Sergio Juca Nogueira Junior, como informado pelo Estadão.
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Murilo tem ligação com Arthur Lira, que mantém o controle político da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), em Maceió. O órgão possui contrato com uma empresa da qual o policial é sócio. Além disso, nas eleições de 2022, Murilo emprestou uma caminhonete para a campanha de Lira, então candidato a deputado federal. O policial foi alvo da operação após a investigação apontar que ele recebeu R$ 850 mil de uma fornecedora de kits de robótica para municípios alagoanos.
O contrato entre a empresa de Murilo com a CBTU foi assinado pelo superintendente do órgão, Carlos Jorge Ferreira Cavalcante. Ele é irmão de Luciano Cavalcante, presidente do União Brasil em Alagoas e também é investigado.
Quando deflagrada a operação, Luciano era assessor do PP na Câmara dos Deputados. Ele foi exonerado por Lira em seguida.
Um motorista de Luciano é suspeito de receber dinheiro do esquema. Cerca de R$ 150 mil foram apreendidos em um veículo que o funcionário dirigia.
Operação Hefesto
Conforme a Polícia Federal, entre 2019 e 2022, houve direcionamento e superfaturamento de contratos para a compra de equipamentos de robótica para escolas públicas, custeados com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), repassados pelo governo federal. O prejuízo estimado pela investigação é de R$ 8,1 milhões e o esquema era efetivado por meio de repasse de emendas do orçamento secreto.
No dia da ação policial foram realizadas buscas em 27 endereços ligados aos investigados – 16 em Maceió (AL), oito em Brasília (DF), um em Gravatá (PE), um em São Carlos (SP) e um em Goiânia (GO). Duas pessoas também foram alvos de mandados de prisão temporária em Brasília.
Como mostrado pelo Estadão, Lira não foi citado nos primeiros relatórios da investigação. Foi implicado depois que os policiais apreenderam anotações manuscritas de uma série de pagamentos a “Arthur”. Em julho, o juiz federal substituto Roney Raimundo Leão Otilio, da 2ª Vara da Justiça Federal de Alagoas, determinou a remessa dos autos da investigação para o Supremo Tribunal Federal (STF). Justificou que a Polícia Federal encontrou “indícios da participação nos delitos ora investigados de um congressista”.
A reportagem procurou a Polícia Federal perguntando se algum cofre foi apreendido em posse de Luciano Cavalcante. A assessoria de imprensa informou que todas as ações e operações são divulgadas oficialmente no site da instituição, onde há apenas uma publicação relacionada à operação e que não cita a apreensão do cofre. A instituição acrescentou que não se manifesta sobre investigações em andamento.
O escritório Callegari Advogados, que faz a defesa de Luciano Cavalcante, afirmou que não foi encontrado qualquer cofre na casa dele. A assessoria de Lira não respondeu ao contato. Já o PP respondeu um e-mail direcionando a reportagem a um número de telefone que não está funcionando.
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