Colchões não ficaram retidos em centro de doações de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul

Vídeo com alegações enganosas foi desmentido por voluntários que atuam no local e pela prefeitura; autora do conteúdo foi procurada, mas não se manifestou

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O que estão compartilhando: vídeo em que uma mulher afirma que colchões doados para pessoas atingidas pelas chuvas no Rio Grande do Sul estariam retidos em um centro de doações de Passo Fundo (RS), aguardando liberação do governo para serem distribuídos. Na gravação, ela chora e diz estar indignada pois os colchões estariam parados no local.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: imagens divulgadas pela prefeitura de Passo Fundo e relatos de voluntários que atuam no centro de armazenamento e distribuição de doações, localizado às margens da rodovia RS-324, desmentem o vídeo. Segundo a administração municipal e um voluntário entrevistado pelo Verifica, os colchões foram enviados para o município de Canoas, uma das cidades mais afetadas pelas chuvas, na última quarta-feira, 8, no mesmo dia em que o vídeo foi gravado. Os itens haviam chegado ao local no dia anterior, quando o espaço começou a funcionar como centro de doações.

A reportagem identificou a autora do vídeo, que é advogada e disse que não pretende se manifestar enquanto não contatar sua defesa. Ela negou que as alegações sejam enganosas, mas não apresentou evidências que comprovem a veracidade do vídeo que gravou.

Vídeo com alegações enganosas sobre colchões doados foi gravado no dia 8 de maio, data em que os itens foram enviados para Canoas Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: O vídeo verificado aqui foi gravado por uma mulher que relata estar deixando de ajudar o centro de doações, que funciona em um local onde era a filial da empresa norte-americana de guindastes Manitowoc. Segundo a autora da gravação, colchões doados estariam parados no local aguardando liberação do governo para serem distribuídos. As declarações dela foram desmentidas pela prefeitura de Passo Fundo e pelo voluntário João Fabiano, que publicou um vídeo em seu perfil no Instagram negando que os colchões teriam ficado retidos no depósito.

De acordo com a prefeitura, não é necessário autorização do governo municipal para a liberação de doações. A administração informou que os colchões filmados chegaram ao local no dia 7 de maio, quando o espaço começou a ser organizado para funcionar como centro de armazenamento e distribuição de donativos. O vídeo com as alegações enganosas foi gravado no dia 8, data em que os colchões foram levados em um caminhão com destino a Canoas.

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Ao Verifica, o voluntário João Fabiano esclareceu que, no dia da chegada dos colchões, os voluntários prepararam e abasteceram o espaço para então iniciar a distribuição das doações no dia seguinte. Ele mencionou que a carreta que levou 300 colchões para Canoas chegou no depósito no mesmo dia e passou a noite no local, pois havia chegado após o horário de trabalho dos voluntários, que encerra às 18h.

Vídeo publicado no Instagram da prefeitura de Passo Fundo mostra o trabalho de voluntários no local e caminhões sendo carregados com colchões e outros itens, na manhã do dia 8 de maio. Uma legenda escrita no vídeo informa que as doações tinham como destino as cidades de São Leopoldo, Canoas, Espumoso, Arroio do Meio, Candelária, Rio Pardo, Santa Maria e Santa Cruz.

Segundo a prefeitura, a responsável pela gravação estava no local como voluntária no dia em que o vídeo foi gravado.

Voluntários desmentem vídeo

Além do voluntário João Fabiano, outros usuários que atuaram ou estão atuando como voluntários no centro de doações contestaram as alegações de que os colchões estariam todos parados. Em comentários na postagem de João, uma usuária que disse ter trabalhado no local na última semana, afirmou que os donativos não ficaram guardados. “Estou ajudando na separação há dois dias, tudo está sendo separado e enviado para as cidades. É muita coisa! Tudo está sendo enviado para as cidades, inclusive, ajudei a descarregar os colchões”, disse.

Outra usuária que também disse ter trabalhado no local na quarta-feira, 8, disse ter testemunhado que o trabalho é sério e ordenado. “Quem trabalha quase nem para pra comer e como o João falou, separamos e embalamos doações para serem carregadas hoje e chegar ao seu destino. Quem não quer ajudar, só quer conteúdo para postar, faça o favor de não atrapalhar”, comentou.

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Em outro comentário, um usuário disse que estava presente no dia do ocorrido. “Somos testemunhas de que tudo que chegou foi descarregado de um lado e carregado do outro, tudo foi para o seu destino. Quem não ajuda, não atrapalha!”, contou.

Segundo o voluntário João Fabiano, o vídeo gravado pela advogada colocou em xeque o trabalho de mais de mil voluntários que passaram pelo local. “Colocou em cheque todas instituições, por isso fiz o vídeo refutando”, disse. “Em momento algum citei o nome dela, só que colocou todos voluntários em cheque”, comentou.

Pessoas que que atuaram ou estão atuando como voluntários no centro de doações contestaram as alegações do vídeo Foto: Reprodução/Instagram

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Doações passam por triagem e organização

De acordo com a prefeitura de Passo Fundo, o processo de recebimento e organização das doações é coordenado pela Defesa Civil do Estado. É a defesa quem centraliza as demandas dos municípios atingidos pelas enchentes e orienta a distribuição dos donativos. Conforme mostrou uma matéria publicada pelo jornal GZH, nesta terça-feira, 14, o espaço tem em média 400 voluntários por dia para triar e organizar doações. O local recebe dezenas de caminhões e carretas com donativos de todo o País.

Uma postagem publicada no Instagram da prefeitura informa que o espaço aberto no dia 7 de maio, às margens da rodovia RS-324, funciona como centro de distribuição e recebe donativos de outros pontos de doação como Paróquia Santa Terezinha, Centro de Tradições Gaúchas Lalau Miranda e de outras cidades do País. A publicação menciona que o espaço otimiza a organização de todas as doações feitas na cidade e facilita o carregamento dos caminhões, que levam os itens até os municípios atingidos.

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