Com dados errados sobre imunização, vídeo desinforma sobre vacina pediátrica contra covid-19

No Brasil, os números demonstram que as crianças não estão isentas das formas graves e letais da doença

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Atualização:

Circula no Facebook o vídeo de um médico que comenta sobre a inclusão da vacina pediátrica contra covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação a partir de 2024. Ele faz alegações enganosas sobre imunização, dizendo que as doses não controlam infecção ou transmissão da doença e que casos leves hoje se devem à “imunidade natural”. Confira abaixo a verificação do vídeo:

Vacinas estimulam o sistema imune a gerar células de memória e produzir anticorpos. - Foto: LUIS LIMA JR/FOTOARENA/FOTOARENA/PAGOS Foto: LUIS LIMA JR / PAGOS

Infecção e transmissão

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O que estão compartilhando: que o imunizante contra a covid-19 não controla infecção ou transmissão da doença.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. De acordo com a pesquisadora e professora de Imunologia da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais Luara Isabela dos Santos, não há como evitar que o indivíduo tenha contato com o vírus, mas há como protegê-lo de manifestações mais graves da doença.

“O objetivo de toda vacina é estimular a resposta de defesa do nosso corpo”, começa a professora de imunologia. “Dessa forma, se tiver contato com a infecção, o nosso sistema de defesa já estará preparado para controlar esse vírus”, completa.

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Luara detalha que as vacinas estimulam o sistema imune a gerar células de memória e produzir anticorpos. Assim, quando há contato com o vírus, o vacinado não terá a doença causada por ele, ou a terá mais fraca.

As vacinas disponíveis no Brasil para crianças até 5 anos de idade são a Pfizer Baby, que cobre dos 6 meses aos 4 anos de idade, e a CoronaVac, dos 3 aos 4 anos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), há evidências de que indivíduos vacinados com esses imunizantes apresentam menor carga viral na nasofaringe (parte mais alta das vias aéreas), o que reduz o potencial de transmissão.

Dados levantados pelo estudo VAX*SIM, do Observatório de Saúde na Infância da Fundação Oswaldo Cruz e do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (Observa Infância Fiocruz-Unifase), evidenciam a importância de manter a vacinação em dia. “O atraso na vacinação infantil contra a covid-19 é preocupante, uma vez que, até junho de 2022, o Brasil registrava uma média de 2 mortes diárias por covid-19 entre crianças menores de 5 anos”, afirmou a coordenadora do Observatório Patricia Boccolini em nota da Fiocruz de maio deste ano.

Boccolini completou que, desde a aprovação da Pfizer pediátrica pela Anvisa, em 16 de setembro de 2022, houve uma redução para dois óbitos a cada três dias.

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Imunidade natural

O que estão compartilhando: que casos leves hoje se devem à “imunidade natural”

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. De acordo com a pesquisadora Luara do Santos, a relação feita no vídeo sobre a diminuição de casos e a imunidade natural não é verdadeira. “Tivemos o controle da pandemia graças a vacinação e é por ela que conseguimos ter a imunidade de rebanho (que é quando a maior parte dos indivíduos em uma comunidade está protegida)”, afirma.

A explicação da pesquisadora começa com uma simples diferenciação: “A imunidade natural (ou inata) se refere às células de defesa da primeira resposta que temos, enquanto a resposta adquirida (ou adaptativa) se refere a uma resposta mais específica e treinada, é como se fosse o exército para nos defender”.

De acordo com a professora, a diferença entre uma pessoa com manifestação leve da doença e outra com quadro grave está em como foi a resposta imune desse indivíduo diante do contato com o vírus. “Ou seja, caso tenha sido vacinada, essa pessoa já tem em seus corpo o exército de defesa apresentado e preparado para essa luta (resposta adquirida) e, portanto, terá mais chances de ter a doença mais fraca.”

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Vale destacar que o Estadão Verifica também já desmentiu o boato de que “pessoas que já tiveram covid-19 no passado não precisam se vacinar”. Foi esclarecido que a proteção conferida por uma infecção prévia, assim como no caso das vacinas, tende a decair com o tempo — seja pela queda no nível de anticorpos ou pela presença de novas variantes capazes de driblar as defesas do organismo. Em razão disso, as doses de reforço ainda são necessárias.

Eficácia

O que estão compartilhando: que a vacina perde eficácia após um mês da aplicação.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não há evidência disso. Dados atualizados em julho de 2023 pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) sugerem que a maioria das pessoas que recebem duas doses da vacina contra covid-19 desenvolve uma resposta imunológica de 6 a 12 meses de proteção contra a reinfecção.

Há também um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas, divulgado em 2022, que avaliou a resposta imunológica gerada por vacinas ao longo de um ano. O estudo focou em pessoas vacinadas com a primeira e segunda doses de Coronavac e com a Pfizer como dose de reforço.

A pesquisa mostrou que a proteção pela vacina passou de 98%, após 30 e 60 dias da aplicação do imunizante, para 69%, no período que compreendeu entre 91 e 180 dias após a vacinação. “Mas, com a aplicação do reforço da Pfizer, tais índices foram restabelecidos, chegando a 100% de soropositividade, 15 dias após a aplicação”, afirma o estudo. A Fiocruz Minas aponta que entre as principais constatações da análise está a importância da dose de reforço.

O Estadão Verifica já desmentiu o boato de que “pessoas que já tiveram covid-19 no passado não precisam se vacinar”. FOTO WERTHER SANTANA / ESTADÃO Foto: ESTADAO CONTEUDO

Taxas de mortalidade

O que estão compartilhando: países com cerca de 25% de vacinação têm número de fatalidades próximo aos países com 80% de cobertura.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não há evidência disso. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), desde o início da vacinação contra a covid-19, em dezembro de 2020, as estatísticas globais de saúde pública vêm apontando que quanto maior o índice de imunização de um país, menor a taxa de mortalidade pela doença.

De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), dos 27 países da União Europeia, só dois tinham menos de 50% da população adulta completamente imunizada até novembro de 2021: a Romênia (42,8%) e a Bulgária (29,2%). Esses dois tiveram as maiores taxas de mortes proporcionais ao tamanho da população nos primeiros 14 dias daquele mês.

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O Ministério da Saúde cita um estudo conduzido pela Universidade Estadual de Londrina, com a Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, a Universidade Federal de São Carlos e a Faculdade de Medicina Albert Einstein dos Estados Unidos. Com dados de 90 países, a pesquisa mostra que 75% das mortes por covid-19 registradas nos primeiros dez meses de 2021 foram de indivíduos que não foram imunizados contra a doença. Os pesquisadores constataram que a cada aumento de 10% na cobertura vacinal, a mortalidade reduz 7,6%.

Saiba mais: No início deste mês, o MS anunciou a inclusão da vacina de covid-19 pediátrica no Calendário Nacional de Vacinação a partir de 2024. De acordo com a pasta, a medida foi tomada com base em evidências científicas mundiais e dados epidemiológicos de casos e óbitos pela doença no país. “No Brasil, os números demonstram que as crianças não estão isentas das formas graves e letais da doença”, afirma o ministério.

Entre as complicações possíveis, está a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). Essa última condição, segundo o MS, é “potencialmente grave” e ocorre em crianças e adolescentes infectados com a covid-19. “Em geral, requer hospitalização e, em alguns casos, internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)”, afirma o ministério.

De janeiro a agosto deste ano, no país, foram registrados na população menor de 5 anos de idade, 5.189 casos e 115 óbitos de SRAG por covid-19. A vacina contra Covid-19 é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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A pessoa no conteúdo verificado aqui é Roberto Zeballos. Ele se apresenta no Instagram como médico internista, clínico geral e doutor em imunologia. Procurado, Zeballos afirmou que na África do Sul, o índice de fatalidade da covid é menor que nos Estados Unidos, apesar de o primeiro país ter vacinado menos que o seguindo. O Estadão Verifica checou no site de estatísticas Our World In Data que o índice de fatalidade por caso na África do Sul é de 2,52%, enquanto nos EUA é de 1,10%. Esse dado diz respeito à porcentagem de pacientes que morreram após serem infectados com o coronavírus.

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