O que estão compartilhando: vídeo em que médica afirma que o uso de contraste em ressonância magnética faz mal e gera graves consequências ao organismo dos pacientes. Ela ainda diz que as substâncias se acumulam no corpo e não são eliminadas na urina e que, no exame, as pessoas não são informadas sobre os “perigos”.
O Estadão Verifica e concluiu que: é enganoso. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), o uso do contraste em ressonâncias magnéticas provoca reações adversas muito raras, sendo considerado método seguro com risco extremamente baixo. O exame usa substâncias para facilitar a visualização de órgãos e tecidos internos do corpo humano e beneficia os pacientes no diagnóstico de doenças.
Diferentemente do que diz a médica, o CBR informou que, em pacientes com função renal normal, mais de 95% do contraste é eliminado pela urina nas primeiras 24 horas. Também nunca foi comprovado qualquer dano à saúde em pessoas que tenham acúmulo do contraste no organismo. O exame indicado anualmente para diagnóstico do câncer de mama traz benefícios e não risco aos pacientes, segundo os especialistas.
Saiba mais: em entrevista publicada no Instagram do jornalista Fernando Beteti, a médica Lucy Kerr diz que o contraste usado em ressonâncias magnéticas faz mal ao organismo e se acumula no corpo dos pacientes, não sendo eliminado na urina. Ela fala que mulheres que realizam o exame não são informadas sobre os riscos da substância. Nos comentários, usuários contraindicam o exame que diagnostica o câncer de mama.
O Estadão Verifica entrou em contato com o consultório da médica Lucy Kerr, que não respondeu. A médica já foi alvo de checagens pelo Estadão Verifica (aqui).
Em ressonâncias magnéticas do exame de mamas é usado um elemento químico chamado de gadolínio. Ao ser introduzido no corpo, o contraste permite aumentar a sensibilidade do diagnóstico por imagem e realça a visualização de estruturas do organismo, proporcionando imagens mais nítidas e detalhadas. O método é usado nos exames desde 1988, após a sua aprovação pela agência sanitária dos Estados Unidos, a U.S. Food and Drug Administration (FDA).
Por nota, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) informou que o contraste é considerado seguro e apresenta “risco extremamente baixo de reações adversas agudas”. Segundo dados da entidade, os efeitos prejudiciais ou indesejáveis representam 0,079% das aplicações, sendo que, destes, 90% são leves.
O médico da Sociedade Brasileira de Mastologia Heverton Amorim, especialista em diagnóstico por imagem, também confirmou a segurança do método: “O gadolínio que é usado na ressonância das mamas tem reações adversas muito raras, é um contraste bastante seguro”. O exame é complementar à mamografia e, por meio dele, se visualizam nódulos e lesões no organismo dos pacientes.
As entidades de saúde frisaram que os benefícios do diagnóstico de doenças, como o câncer de mama, por meio das ressonâncias magnéticas superam potenciais riscos relacionados ao uso do contraste. “A identificação precoce permite a realização de tratamentos mais eficazes e menos agressivos, o que não só aumenta a sobrevida, mas também melhora a qualidade de vida das pacientes”, disse o CBR. O câncer de mama é a principal causa de morte de mulheres por câncer em todo o mundo.
Pacientes passam por questionário antes do exame
Antes da realização da ressonância magnética com o contraste, o paciente passa por um questionário para detectar possíveis contraindicações ao método. É necessário assinar um termo de consentimento que informa sobre eventuais problemas relacionados à substância.
Amorim explica que se trata de um questionário rigoroso em que há informações sobre reações raras adversas. “Nas ressonâncias da mama há sempre uma correlação entre o peso da paciente e a quantidade de contraste a ser utilizada. O gadolínio é muito seguro e não deve ser utilizado em pacientes com problemas renais agudos ou crônicos ou, pelo menos, deve pensar bastante no risco-benefício”, disse o mastologista.
O especialista informou que, quando há hipersensibilidade ao exame, no caso de pacientes com problemas alérgicos, podem ser utilizados corticoides e antialérgicos nas situações em que a ressonância seja imprescindível. “O contraste não traz malefícios. Se há uma reação adversa, que na maioria das vezes é fraca, ela é manejada de maneira bastante fácil pela equipe médica”, explicou.
Acúmulo só é identificado em pacientes que realizam múltiplas ressonâncias
A médica também difundiu desinformação ao alegar que o contraste não é eliminado na urina. O CBR explicou que, quando o paciente tem função renal normal, mais de 95% do contraste é eliminado na urina. Em relação ao “perigo” do acúmulo da substância no organismo, os estudos apontam que isso pode acontecer apenas naqueles que realizam múltiplas ressonâncias.
“Vale ressaltar que mais de 300 milhões de pessoas já utilizaram meios de contraste à base de gadolínio no mundo inteiro, e nunca foram comprovados sintomas clínicos ou qualquer dano à saúde naqueles indivíduos com deposição tecidual do contraste”, disse a entidade que representa os especialistas em radiologia.
O integrante da Sociedade Brasileira de Mastologia também explicou que o acúmulo é mais comum em pacientes que realizam o exame de maneira sequencial, quando há outras patologias. “Já foi descrito realmente que pode ocorrer o acúmulo de gadolínio no sistema nervoso central, entretanto sem nenhuma sequela estabelecida”, disse Heverton Amorim.
É importante saber que nas pessoas que realizam o rastreamento do câncer de mama ou ressonâncias em casos específicos, indicada uma vez ao ano, “não há o acúmulo sequencial do gadolínio porque é feito de maneira esporádica”, lembrou o mastologista Amorim.
Como lidar com publicações do tipo: desconfie de recomendações médicas feitas pela internet que vão contra orientações de autoridades e entidades de saúde do Brasil e do mundo. É importante verificar o que afirma o Ministério da Saúde ou a Organização Mundial da Saúde e, quando necessário, procurar por um especialista.
O Verifica já checou conteúdos similares, como um vídeo que alegava que o exame de mamografia anual causa câncer de mama.
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