É falsa postagem que lista 109 mil demissões em empresas após posse de Lula

Toyota, Citroën, Sadia, Carrefour e outros seis empregadores negaram desligamento de funcionários; Riachuelo e Yoki fecharam fábricas, mas informaram não haver relação política

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Foto do author Luciana Marschall
Atualização:

É falsa a lista que circula nas redes sociais indicando a demissão de 109.540 trabalhadores por mais de 15 empresas em apenas 13 dias do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em vídeo publicado originalmente no Kwai e compartilhado amplamente no Facebook, um homem lê uma lista de companhias, acompanhada de afirmações falsas ou enganosas sobre o número de pessoas supostamente desligadas em cada uma delas. O autor sustenta que as supostas demissões ocorreram nos 13 primeiros dias do novo governo e conclui: “faz o ‘L’ você que votou nele e olha a desgraça que ele está trazendo para a nossa nação”. Procuradas pelo Estadão Verifica, mais de 10 marcas informaram serem falsas ou enganosas as afirmações feitas no vídeo.

card demissões Foto: Reprodução

Toyota

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Alegação: 12 mil funcionários demitidos e empresa deixando o Brasil

Conclusão: falso.

A assessoria de comunicação da Toyota do Brasil informou não ter havido qualquer anúncio da empresa neste ano em relação a demissões. A montadora, inclusive, sequer possui esse número de funcionários: emprega 6 mil pessoas atualmente. “Como esclarecimento, a companhia está presente no Brasil há mais de 60 anos e segue comprometida com o País”, afirmou, em nota.

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Recentemente, em janeiro de 2023, a revista Quatro Rodas publicou texto informando que uma reportagem antiga, de abril de 2022, informando que a Toyota havia anunciado o fechamento de sua primeira fábrica no Brasil, vinha sendo compartilhada como se fosse recente, com intuito de atacar o atual governo.

Na época, conforme divulgou a revista, a empresa anunciou que a decisão afetaria 550 funcionários, a quem foi oferecida a oportunidade de trabalhar em outras fábricas da empresa. Desde então, a produção está sendo transferida de São Bernardo do Campo, em São Paulo, para fábricas de Indaiatuba e Sorocaba, no mesmo estado. A operação deve ser finalizada até o final de 2023.

Carrefour

Alegação: 1.200 funcionários demitidos e empresa fechando as portas.

Conclusão: falso.

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O Grupo Carrefour Brasil informou não haver demissões relacionadas ao contexto político ou econômico do País e garantiu que as atividades no Brasil seguem em “franca expansão”. Conforme a assessoria de imprensa, o grupo emprega, atualmente, 150 mil pessoas.

Citroën

Alegação: 13 mil demissões.

Conclusão: falso.

O grupo Stellantis, que controla a montadora francesa PSA Group, responsável pela Citroën, informou que o conteúdo que circula nas redes sociais é “totalmente improcedente e sem contato com a realidade”. A assessoria de imprensa afirma que as operações industriais seguem normalmente no País e que o grupo consolidou, ano passado, a liderança do mercado brasileiro, com 32,9% de participação nas vendas totais e mais de 646 mil unidades comercializadas. A Citroën, acrescenta, contribuiu para este resultado com crescimento de 37% nas vendas em 2022.

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Riachuelo

Alegação: 2 mil demissões e fábrica fechando.

Conclusão: enganoso.

O Grupo Guararapes, ao qual pertence a Riachuelo, confirmou ao Estadão Verifica o encerramento, na terça-feira, 17, das atividades de uma fábrica em Fortaleza (CE). Com isso, foram demitidas cerca de 2 mil pessoas. De acordo com a empresa, não há relação com a atual política econômica. Conforme a assessoria de comunicação, agora a produção fabril será centralizada em Natal, no Rio Grande do Norte, e este é um movimento estratégico adotado para conferir mais eficiência, centralização operacional e competitividade. A companhia comunicou estar preservando a cadeia produtiva nacional, transferindo a produção de um estado para o outro, e que estão sendo gerados novos postos de trabalho.

Grupo Guararapes, ao qual pertence a Riachuelo, afirma estar transferindo a produção de um estado para o outro, e estar gerados novos postos de trabalho. (FOTO: WERTHER SANTANA/ESTADÃO)  

Nova Odessa

Alegação: 1.600 demissões.

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Em alta
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Conclusão: falso.

Não foi localizada empresa com este nome e a peça desinformativa parece estar se referindo ao município de Nova Odessa, em São Paulo. No início de janeiro deste ano, o Jornal de Nova Odessa publicou que o saldo de empregos no município ficou negativo.

A reportagem do veículo local se baseia nos dados mais atuais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Embora tenham sido publicadas em 2023, as informações do estudo são referentes a novembro de 2022. De acordo com o levantamento, o município registrou 1.077 demissões. No entanto, foram contratados 920 trabalhadores, ou seja, o saldo negativo foi de 157 postos de trabalho, e não de 1.600.

Sadia

Alegação: 1.800 demissões

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Conclusão: falso.

A BRF S.A., companhia de alimentos que tem a Sadia entre suas marcas, informou não haver nenhum movimento programado de redução do quadro de colaboradores e que a rotatividade de empregados está em linha com o observado em anos anteriores para o período. Além de negar os 1.800 desligamentos, a companhia afirma ter pelo menos 1.060 vagas abertas para contratação em suas unidades produtivas.

Cacau Show

Alegação: 3 mil demissões

Conclusão: falso.

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A assessoria de imprensa da Cacau Show informou ser falsa a alegação feita no vídeo e destacou que a marca está em amplo crescimento, tendo inaugurado mil lojas novas no ano passado e uma fábrica em Linhares (ES), gerando mais empregos.

IFood

Alegação: 17 mil demissões

Conclusão: falso.

A IFood informou que a afirmação feita no vídeo é inverídica e compartilhou link com informações sobre os principais números da empresa no Brasil. A quantidade de funcionários gira em torno de 5 mil, o que tornaria impossível a demissão de 17 mil.

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Uber

Alegação: 12 mil demissões.

Conclusão: falso.

A Uber negou as afirmações feitas no vídeo e destacou que o site da empresa divulga que a empresa possui aproximadamente mil funcionários no Brasil.

Mercado Pago

Alegação: 6 mil demissões.

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Conclusão: falso.

O Mercado Pago informou serem falsas as alegações de que teria desligado grande volume de colaboradores em 2023 e destaca que o volume citado no vídeo é maior que o quadro total de colaboradores no Brasil. Além disso, acrescenta que a empresa contratou cerca de 300 pessoas em 2022 e que nos primeiros dias de janeiro já somou dezenas de profissionais ao quadro. Há, ainda, 120 vagas abertas em diferentes áreas e previsão de criação de outras neste ano, acompanhando o crescimento da operação.

Amazon

Alegação: 17 mil demissões.

Conclusão: falso.

A Amazon negou à reportagem o número de demissões no Brasil apresentado no vídeo e encaminhou posicionamento do CEO da empresa, Andy Jassy, sobre as mais de 18 mil demissões anunciadas entre novembro de 2022 e janeiro de 2023 em todo o mundo, não apenas no País, em razão de “incertezas econômicas” globais.

Amazon anunciou 18 mil demissões no mundo todo, não apenas no Brasil, ligadas a “incertezas econômicas” globais. Foto: Mike Segar/Reuters

Yoki

Alegação: 750 demissões

Conclusão: enganoso.

A General Mills, responsável pela marca Yoki, confirmou que irá transferir as atividades da unidade de Cambará, no Paraná, onde emprega 750 pessoas, para a planta em Pouso Alegre, em Minas Gerais, o que acarretará em demissões. No entanto, segundo a assessoria de imprensa, a decisão foi tomada há vários meses, não agora em janeiro, e se baseou exclusivamente na busca por uma maior integração entre as estruturas fabril e logística da empresa. “A General Mills reitera que é uma decisão de negócios, e não está relacionada ao poder público ou à comunidade local”, afirma. A mudança será colocada em prática a partir de dezembro deste ano e a empresa garante que irá ofertar diversas oportunidades de transferência para colaboradores que tenham interesse de seguir no quadro.

Sem retorno

A assessoria de imprensa da Americanas, que recentemente anunciou um rombo que pode chegar a R$ 40 bilhões, negou previamente terem sido anunciadas 20 mil demissões em janeiro, mas se comprometeu em enviar nota mais elaborada sobre a atual situação, o que não ocorreu.

Em relação ao Frigorífico Bom Boi, que supostamente teria demitido 890 pessoas, o Estadão Verifica localizou mais de uma empresa que utiliza o mesmo nome fantasia e tentou contato com as que têm cadastro ativo junto à Receita Federal, uma em Fortaleza (CE) e outra em Camaçari (BA), sem conseguir localizar um representante.

Não foi possível falar com a Twitter, citada como responsável por 600 demissões, pois a empresa não mantém mais time de comunicação no Brasil, conforme noticiou a Veja. A conta da equipe responsável pela comunicação na própria plataforma não é atualizada desde outubro do ano passado.

Foram procurados, ainda, Rede Baratão Supermercados (600 demissões) e o app 99 (100 demissões), mas não houve retorno. A reportagem enviou mensagem ao responsável por publicar o conteúdo no Kwai, mas ele não respondeu.

Posts semelhantes foram verificados e pelo Boatos.Org.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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