O que estão compartilhando: que 19 países encaminharam pedidos de entrada no Brics após Dilma Rousseff (PT) assumir o cargo de presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).
O Estadão investigou e concluiu que: é enganoso. Apesar de o Banco do Brics, como é conhecido, ser uma das principais estruturas do grupo, as solicitações de adesão externa dizem respeito ao clube de países emergentes, e não propriamente ao banco de fomento. Além disso, parte dos pedidos foram realizados meses antes da vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições e da indicação de Dilma Rousseff para a chefia da instituição financeira.
Saiba mais: O Irã, por exemplo, formalizou a intenção em 28 de junho do ano passado, e a Argentina, em 20 de setembro. Arábia Saudita, Egito e Turquia também demonstraram interesse no mínimo antes de outubro, com base em declarações de uma porta-voz na época. Dilma foi indicada por Lula a presidir o NBD somente em 10 de fevereiro de 2023. Ela foi eleita pelo conselho em 24 de março e assumiu o cargo no dia 14 de abril deste ano.
Analistas apontam que o movimento de adesão externa, na realidade, ocorre em reação a um posicionamento da China. O país asiático adota o discurso de expansão há alguns anos, mas fortaleceu a ideia ao se dispor oficialmente a explorar critérios e iniciar o processo antes da 14ª cúpula do Brics, em junho de 2022. Em discurso no encontro anual, o presidente chinês, Xi Jinping, declarou que o Brics deve “perseguir o desenvolvimento mantendo as portas abertas” a outras nações.
A informação de que haveria 19 candidatos ao Brics foi publicada pela Bloomberg nesta segunda-feira, 24 de abril. A agência informa, com base em informações prestadas pelo representante sul-africano Anil Sooklal, que 13 países formalizaram o pedido até o momento e outros seis fizeram comunicados informais nesse sentido. Todos os cinco membros do Brics concordaram em avançar no debate no próximo encontro, marcado para os dias 2 e 3 de junho, na Cidade do Cabo.
No entanto, especialistas e diplomatas ouvidos pela BBC apontam que Brasil, Índia e África do Sul encaram o movimento majoritariamente patrocinado pela China e, em alguns casos, pela Rússia, com ressalvas. Há receio de que o aumento na quantidade de membros possa diluir a influência do trio e críticas a respeito da ausência de critérios objetivos neste momento para se aceitar a entrada de novos parceiros no bloco.
Entenda a diferença entre Brics e NBD
Segundo artigo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a ideia do “Brics” foi formulada pelo economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neil, em 2001, como uma forma de incorporar uma categoria de análise em relatórios políticos e financeiros.
Somente em 2006 que o Brics passou a se articular concretamente, através de uma reunião de chanceleres de Brasil, Índia, Rússia e China. A ideia era facilitar a cooperação entre os membros e constituir um fórum alternativo de debate em paralelo a agrupamentos de potências mundiais, como o G7.
Em 2009, o nível de interação política foi ampliado, com a promoção anual de encontros entre os chefes de Estado dos quatro países emergentes. Dois anos depois, a África do Sul passou a compor oficialmente o grupo, inaugurando a formação que permanece inalterada desde então. Segundo a BBC, os cinco países dos Brics somam hoje quase 3,7 bilhões de pessoas, o equivalente a 46% da população mundial, e respondem juntos por cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta.
Já o Novo Banco de Desenvolvimento foi criado em 2014, durante a 6ª cúpula, e tem como objetivo facilitar empréstimos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento de países pobres e emergentes. Além dos cinco membros do Brics, o NBD é composto por Emirados Árabes Unidos, Egito, Uruguai e Bangladesh.
Dilma Rousseff assumiu o comando do banco do Brics em substituição ao economista Marcos Troyjo, ex-secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia. Troyjo ocupava o cargo desde julho de 2020, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro para um mandato rotativo de cinco anos. A ex-presidente deve concluir o mandato, portanto, em 2025, dando sequência a um rodízio que passou primeiro pelo governo indiano.
O que dizia o boato
O post que deu origem a essa checagem foi espalhado pela Choquei, uma página de fofoca que acumula mais de 25 milhões de seguidores no Twitter e no Instagram.
Ao comentar a informação noticiada pela Bloomberg e repercutida por um jornalista no Twitter, a página faz uma associação enganosa na legenda. “Após Dilma Rousseff assumir a presidência do BRICS, 19 países manifestaram interesse para entrar no banco, incluindo Arábia Saudita e Irã. MUITO BOM!”, escreveu o perfil junto a uma foto de Dilma apertando a mão do presidente Lula.
O boato continua no ar desde o dia 24 de abril, mesmo que usuários tenham contestado a informação entre os comentários mais relevantes dos posts. A peça teve 205 mil curtidas e 6,5 mil comentários no Instagram e foi visualizada mais de 2,8 milhões de vezes no Twitter.
O Estadão Verifica entrou em contato por e-mail com a página Choquei na tarde de quarta-feira, 27 de abril, mas a página não se manifestou até a publicação desta checagem.
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