Notícia da CNN sobre falta de recursos do INSS é antiga; Previdência nega crise este ano

Boato no Tiktok e no Instagram tira reportagem de contexto para criticar governo Lula e espalhar pânico entre aposentados

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Foto do author Samuel Lima
Atualização:

O que estão compartilhando: que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) alertou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não terá recursos para pagar aposentadorias a partir de quarta-feira.

O Estadão investigou e concluiu que: o vídeo circula fora de contexto. A reportagem da CNN Brasil foi exibida no dia 5 de dezembro de 2022, ao final do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Não houve anúncio de contingenciamento de recursos da Previdência Social este ano, nem alerta do INSS sobre risco de falta de pagamento de aposentadorias.

Boato tira de contexto reportagem sobre alerta do INSS publicada pela CNN Brasil em dezembro do ano passado. Foto: Reprodução

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Saiba mais: o vídeo analisado nesta checagem circula em plataformas como TikTok e Instagram, com milhares de compartilhamentos, sem identificar corretamente a data em que foi veiculado. O material aparece junto a críticas ao governo de Lula, que nem havia tomado posse naquele momento, e especulações de que as aposentadorias deixariam de ser pagas em breve no Brasil.

Busca simples no Google com palavras-chave sobre o assunto direciona a uma notícia publicada pela CNN Brasil em 5 de dezembro do ano passado, com o título “INSS alerta governo que deve paralisar atividades na quarta-feira por falta de recursos”. A data era em referência ao dia 7 de dezembro, e o texto explica que a situação era resultado de bloqueios orçamentários promovidos pelo Ministério da Economia.

Algumas postagens enganosas mostram apenas a manchete da reportagem, omitindo a data de publicação. Outras trazem um recorte específico da fala do apresentador do telejornal Rafael Colombo.

A tentativa de desinformar sobre o assunto fica evidente ao se analisar o material completo no canal da CNN Brasil no YouTube, que deixa claro se tratar de uma notícia relativa ao governo de Jair Bolsonaro logo nos primeiros segundos de vídeo. “A Basília Rodrigues (apresentadora da CNN Brasil) conseguiu apurar que tem mais um setor do governo Bolsonaro ameaçando parar”, diz Colombo.

O trecho é suprimido das peças nas redes sociais, que trazem inscrições como “Faz o L”. Nos comentários, os usuários fazem críticas descontextualizadas a projetos que tiveram captação aprovada pela Lei Rouanet e a supostos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ainda não confirmados.

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Reportagem do Estadão mostra que alguns dias depois, em 15 de dezembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro editou medida provisória abrindo crédito extraordinário de R$ 7,5 bilhões para o INSS pagar aposentadorias. A gestão passada pediu autorização ao Tribunal de Contas da União (TCU) para liberar o recurso fora do teto de gastos, justificando que houve um aumento extraordinário da procura por benefícios previdenciários com a pandemia.

A cada novo ano, o INSS e todas as outras demais áreas do governo ficam sujeitas ao orçamento público específico daquele período. Na segunda-feira, 24 de abril, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, negou que exista risco de falta de pagamento neste ano aos benefícios já concedidos, mais a quantidade estimada de novos beneficiários por crescimento vegetativo no Brasil.

Ainda se discute, por outro lado, maneiras de zerar a fila de pedidos em análise, inclusive com a alocação de verba para dar conta da demanda reprimida. Em fevereiro, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, a fila era calculada em 1,79 milhão de segurados esperando análise de algum tipo de benefício, como aposentadoria ou auxílio, e pedidos de perícia médica, necessários para o acesso a benefícios por invalidez.

Procurado pelo Estadão, o INSS respondeu que a notícia é antiga e que a situação foi resolvida com o crédito extraordinário. “Não há ameaça de falta de orçamento para o INSS e nem de paralisação de pagamento de benefícios”, esclarece a autarquia.

Como lidar com postagens do tipo: fique de olho em postagens que apresentam um recorte específico de alguma notícia na internet, sem maiores detalhes como data e onde foi divulgado. O material pode ser fabricado ou antigo.

Uma simples pesquisa no Google pode ser suficiente para se prevenir contra peças de desinformação como os posts analisados nesta checagem. Existe a possibilidade de agências de checagem já terem verificado aquele tipo de conteúdo duvidoso anteriormente, o que provavelmente fará com que esse artigo apareça entre os primeiros resultados da busca.

Além disso, tente ir além daquela manchete que viralizou na internet: reportagens de veículos profissionais de imprensa geralmente contextualizam a informação e procuram o outro lado da história, que pode fornecer dados relevantes para entender melhor o assunto.

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