O que estão compartilhando: vídeo em que uma mulher diz que as doações às vítimas da enchente em Lajeado (RS) não foram liberadas para distribuição à população pois deveriam aguardar a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cidade.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. As doações de alimentos para a população de Lajeado, cidade do Rio Grande do Sul atingida pelas fortes chuvas provocadas por um ciclone extratropical, não foram paralisadas. A alegação feita por uma mulher que se identifica como presidente de uma organização de auxílio a animais foi desmentida nas redes sociais pela prefeitura do município e pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).
Em postagem publicada no Instagram, a prefeitura de Lajeado negou a suspensão de entrega de doações e informou que continua recebendo e entregando itens doados a quem está cadastrado.
No domingo, 10, Lajeado recebeu a visita do presidente em exercício, Geraldo Alckmin. Na data, Lula estava em Nova Déhli, na Índia, onde participou da 18ª edição da cúpula de chefes de Estado e governo do G20, grupo que reúne 19 das principais economias do mundo e a União Europeia.
Saiba mais: O vídeo repercutiu em diferentes redes sociais. Na gravação, uma mulher se identifica como Samara Baum e diz ser presidente da organização Unidos Pelos Animais (UPA), que atua em Sarandi, cidade que também fica no Rio Grande do Sul. Samara afirma que a distribuição de alimentos não seria liberada até que Lula chegasse na cidade para produzir fotos e vídeos das doações.
O prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, negou o boato. “Não recebemos nenhuma orientação de nenhum governo, nem tampouco cumpriríamos tal absurda determinação se viesse”, escreveu Caumo.
Em nota enviada ao Verifica, a prefeitura de Lajeado explicou que tem recebido doações em diversos pontos, mas a entrega dos itens está centralizada no Pavilhão 2 do Parque do Imigrante. “As pessoas atingidas fazem um cadastro onde informam o que precisam e são direcionadas para esse pavilhão para retirada. Diversas equipes atuam nessa frente, incluindo voluntários”, informou a administração.
A Secretaria da Casa Civil do Rio Grande do Sul também se manifestou no X (antigo Twitter). “As doações recebidas pelo governo do RS são direcionadas diretamente à população atingida, com o apoio da Defesa Civil estadual. Não há qualquer desvio de conduta ou aguardo para entrega das doações. Comentários no sentido oposto são falsos e atrapalham o auxílio”, informa a publicação.
Autora do vídeo publicou correção
Em vídeo publicado no perfil de Facebook da organização de auxílio aos animais, Samara diz ter se equivocado ao citar Lula na gravação em que comunica sobre a suposta suspensão na distribuição de doações. Neste segundo vídeo, ela diz que sua primeira gravação vazou de um grupo de WhatsApp e que o conteúdo não deveria para ter sido repassado.
Ela reitera que esteve no centro de distribuição de alimentos de Lajeado e que recebeu a informação de que as doações não seriam liberadas até a chegada do presidente em exercício na cidade. Baum também diz que não conseguiu distribuição de ração.
A prefeitura da cidade disse não saber informar se Samara esteve no centro de distribuição, nem mesmo se ela retirou ração. “As pessoas que precisam de doação de ração recebem junto com as demais doações no Pavilhão 2 do Parque do Imigrante”, informou o município.
A reportagem tentou contato com Samara, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação.
Repercussão
A repercussão do vídeo com alegações falsas resultou na manifestação do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, no X (antigo Twitter). Em vídeo publicado no domingo, Pimenta disse que a gravação foi produzida de forma criminosa e que acionou a Polícia Federal e a Advocacia-Geral da União (AGU). Segundo ele, a mulher que aparece no vídeo foi identificada e outras pessoas que compartilharam a gravação também serão identificadas. “Nós não vamos permitir que essas pessoas se utilizem da tragédia para destilarem o seu ódio através da mentira e da desinformação”, disse o ministro.
Ciclone no RS
Na última semana, o Rio Grande do Sul sofreu a maior tragédia climática da sua história após a passagem de um ciclone extratropical que provocou chuvas intensas e atingiu 93 municípios. O número de mortos no estado chegou a 46 no domingo, 10. No total, 46 pessoas estão desaparecidas e 340 mil foram afetadas pelo fenômeno. Os municípios mais atingidos ficam na região do Vale do Taquari, como Muçum e Roca Sales.
Nesta segunda-feira, 11, subiu de 79 para 92 o número de municípios que tiveram o estado de calamidade reconhecido pelo governo do estado. O reconhecimento torna os municípios aptos para solicitar recursos ao governo federal para assistência à população, reestabelecimento de serviços essenciais e reconstrução de infraestrutura e moradias atingidas pelo desastre.
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